Grupo Mateus movimenta R$ 4,6 bi na Bolsa, a maior estreia do ano
Uma varejista criada há 34 anos por um ex-garimpeiro de Serra Pelada, o Grupo Mateus chegará à B3 (a Bolsa de Valores) quebrando dois recordes. Com arrecadação de R$ 4,63 bilhões, será o maior IPO (oferta inicial de ações, na sigla em inglês) de 2020, até agora.
Além disso, a companhia fará a maior estreia de uma empresa com origem na região Nordeste da história da Bolsa brasileira.
A ação saiu a R$ 8,97, piso da faixa indicativa de preço. A demanda foi robusta desde o lançamento da oferta, batendo cinco vezes o volume ofertado, disse uma fonte ao Estadão/Broadcast. Além do lote principal, a companhia também colocou no mercado cerca de 75% do lote adicional.
Por causa do apetite dos investidores, havia a possibilidade de se buscar um preço maior para o papel, mas optou-se pela estratégia de evitar que a estreia, marcada para o dia 13, fosse seguida por um movimento de vendas, explicou uma pessoa próxima ao assunto.
Outra fonte próxima ao tema disse que o fundador do grupo, Ilson Mateus, procurou dar preferência a investidores institucionais que mostraram interesse em apoiar o negócio no longo prazo. "O posicionamento dele no processo foi muito maduro", disse a fonte.
O Grupo Mateus é o quarto maior atacarejo do país, hoje com 137 lojas no Maranhão, Pará e Piauí. Ilson Mateus construiu a rede que hoje emprega mais de 20 mil pessoas do zero, começando com uma pequena mercearia.
O negócio foi crescendo até atingir quase R$ 10 bilhões de faturamento, em 2019. Apesar da atuação regionalmente restrita, a companhia hoje só fica atrás do Assaí (do GPA), Atacadão (do Carrefour) e do grupo chileno Censosud no nicho de atacarejos.
No mercado financeiro, o fundador do Grupo Mateus está sendo chamado de "Sam Walton brasileiro". Walton é o fundador da americana Walmart, maior rede de varejo do mundo. Com a oferta e dinheiro no caixa, o objetivo do empresário é acelerar a expansão do grupo.
Do total da oferta, R$ 3 bilhões serão destinados para expansão orgânica. Ilson Mateus e seus familiares foram parte do grupo de vendedores na oferta secundária, mas seguirão no controle do negócio, com cerca de 80% do capital.
"Apesar de ser uma empresa de capital 100% nacional, atuando em um mercado altamente competitivo, o Grupo Mateus se destaca como principal player da região Norte e Nordeste, atuando em pé de igualdade com as multinacionais no que diz respeito às condições comerciais e com custo de distribuição menor, mesmo considerando que sua área de atuação é uma das regiões mais pobres (...) do país", afirmaram os analistas da Eleven Financial, em relatório.
Antes de começar a trajetória de varejista, o fundador do Grupo Mateus atuou por cerca de um ano como garimpeiro. Depois de deixar o local sem encontrar ouro, ele começou outro negócio: a compra e venda de garrafas de vidro.
Foi assim que ele chegou a Balsas, no sul do Maranhão, onde percebeu que havia demanda de migrantes do Rio Grande do Sul —que chegaram à área para plantar soja— por produtos básicos.
Obstáculo
Apesar de ter desde o início conquistado os investidores, um acidente em uma das suas lojas no meio do roadshow trouxe um imprevisto a uma oferta que vinha bastante tranquila: a queda de prateleiras em uma das unidades, que matou um funcionário e deixou outras pessoas feridas.
No entanto, os investidores entenderam a tragédia como uma fatalidade, destoante do histórico da empresa. Mesmo assim a empresa teve, no meio do caminho, que alterar o prospecto da oferta para incluir informações sobre o ocorrido e ainda abrir uma porta para os investidores que já tinham feito reserva pudessem desistir.
Foram coordenadores do IPO do grupo a XP Investimentos (líder), Bradesco BBI, BTG, Itaú BBA, BB Investimentos, Santander e Safra.
As informações são do jornal "O Estado de S. Paulo".
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