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Embraer engata recuperação após crise da covid e rejeição pela Boeing

Embraer engata recuperação após crise da covid e rejeição pela Boeing - Ricardo Matsukawa / UOL
Embraer engata recuperação após crise da covid e rejeição pela Boeing Imagem: Ricardo Matsukawa / UOL

Luciana Dyniewicz

São Paulo

06/02/2022 09h30Atualizada em 06/02/2022 10h55

A tormenta vivida pela Embraer em 2020 foi violenta. Poucas empresas sofreram tanto quanto a fabricante de aviões, que assistiu à demanda do setor despencar enquanto seus clientes estacionavam suas frotas em todo o mundo conforme países adotavam medidas de distanciamento social para conter a covid.

Dois meses após o início dessa crise, a companhia sofreu outro golpe, com a Boeing desistindo de comprar sua divisão de aviação comercial. O resultado foi uma queda de 55% nas ações da Embraer e um prejuízo de R$ 1,5 bilhão no ano.

Mas, tão rápido quanto afundou, a Embraer parece estar se recuperando. No ano passado, ainda em meio à pandemia, a empresa registrou um lucro trimestral (entre abril e junho) - o que não acontecia desde o mesmo período de 2018. Ainda teve a maior alta da B3. Enquanto o Ibovespa caiu 12% em 2021, a Embraer subiu 180%.

Apesar de, no início de 2022, o desempenho da companhia na Bolsa ser negativo, com queda acumulada de 23,5%, o clima entre os analistas da empresa é de otimismo. A XP vê espaço para as ações negociadas no Brasil se valorizarem 44%. Já para os papéis comercializados nos Estados Unidos, o Itaú vê potencial de alta de 47% até o fim do ano; o BTG, de 40% e o Citi, de 22%.

"O que me faz ficar positivo é que não vejo o preço atual da ação refletindo, ao mesmo tempo, a retomada da aviação comercial e a inovação com o 'carro voador'. Talvez um desses fatores esteja no preço, mas não os dois", diz o analista Lucas Laghi, da XP.

Aviação comercial

A recuperação da aviação comercial no mundo foi liderada pelo mercado regional, de aviões com até 150 lugares e no qual a Embraer é líder. Com capacidade para 88 assentos, o modelo E175 praticamente não tem concorrente hoje. Em 2020, pior ano da crise da pandemia, 73% dos aviões comerciais entregues pela empresa eram desse modelo. Nos nove primeiros meses de 2021, essa fatia caiu para 47%.

"A Embraer tem grande exposição ao mercado regional e ela mantém liderança com o E175 nos EUA, que é um dos maiores mercados de aviação doméstica", diz a analista Thais Cascello, do Itaú BBA.

A retomada global da aviação comercial beneficiou não só esse segmento da Embraer, que hoje é responsável por um terço das receitas, mas também a divisão de serviços da empresa, já que a necessidade de companhias aéreas fazerem a manutenção de seus aviões aumentou. A área de serviço e suporte da Embraer é a que tem a maior margem de lucro e sua participação na geração de receita passou de 22,5%, em 2019, para 28,5%, nos nove primeiros meses de 2021.

No segmento de defesa, o bilionário projeto C-390 Millenium (um cargueiro militar, a maior aeronave já desenvolvida pela empresa) foi concluído e parou de gerar gastos. Agora, a expectativa é de que traga receitas. O mercado, porém, prevê que essa divisão tenha uma participação cada vez menor na companhia - de janeiro a setembro de 2021, foi em 16,5%.

Já a área de aviação executiva tem tido um crescimento consolidado, sobretudo porque a Embraer acertou no portfólio de produtos. "A margem tem melhorado cada vez mais", diz Thais, do Itaú. No último trimestre de 2021, a receita do segmento subiu 17%.

Custos

Além do vento favorável em todas as suas divisões, a Embraer ainda se tornou mais eficiente, enxugando custos. Neste ano, anunciou a venda de duas fábricas em Portugal, que, segundo o presidente da empresa, Francisco Gomes Neto, eram ineficientes. Antes, já havia renegociado contratos e demitido 2,5 mil funcionários (15,6% do quadro brasileiro).

Para coroar o cenário, o eVTOL (sigla em inglês para veículo elétrico de pouso e decolagem vertical, como é chamado oficialmente o "carro voador") se tornou a grande aposta para o futuro da aviação, e a Embraer, umas das promessas na área. Em junho passado, quando foi confirmada a notícia de que a Eve (empresa da Embraer que desenvolve o projeto) faria uma fusão com a americana Zanite para abrir seu capital na Bolsa de Nova York, as ações da Embraer saltaram 15,6% em um único dia.

"Como os negócios mais tradicionais estão indo melhor ou não estão causando tanta dor de cabeça para o investidor, o mercado se sentiu mais confortável para precificar o eVTOL. Talvez, se o negócio tradicional não tivesse indo tão bem, a turma não ficaria tão propensa a comprar um negócio novo que ainda precisa se provar", acrescenta a analista do Itaú.

O presidente da Embraer avalia que, entre todos os fatores que impulsionaram a companhia, os projetos para torná-la mais eficiente e o do "carro voador" são os mais importantes. Gomes Neto diz que, para as ações da empresa subirem como o esperado pelo mercado, será preciso consistência no trabalho. "Precisamos entregar o que prometemos, como fizemos até o terceiro trimestre de 2021." E a promessa não é pequena. Até 2026, o executivo quer quase dobrar o faturamento da Embraer, na comparação com 2020.