Amigos de faculdade abrem startup de contabilidade e faturam R$ 40 milhões
Eles eram amigos de faculdade e já empreendiam, mas quando perceberam como era burocrático todo o processo contábil de uma empresa, tiveram uma ideia melhor: abrir um negócio de contabilidade online junto com outro sócio que era contador há muito tempo. Em 2013, eles criaram a Agilize, em Salvador (BA). A empresa só deslanchou mesmo após participar de dois programas de aceleração, em 2019. Em 2023, o faturamento foi de R$ 40 milhões.
Como a empresa foi criada
Cinco dos sócios eram amigos de faculdade. Marlon Freitas, 36, Rafael Caribé, 42, Rafael Viana, 37, Adriano Fialho, 44, e Ernesto Amorim, 39, se conheceram durante o curso de ciência da computação, na UFBA (Universidade Federal da Bahia), entre 2007 e 2010.
O grupo já empreendia em negócios de tecnologia. Dois deles tinham um negócio de compras coletivas, e os outros eram donos de uma fábrica de software. "Foi ali que a gente teve contato pela primeira vez com a contabilidade. E foi meio traumatizante, como é para a maioria dos empreendedores. No meu caso, tinha muita dificuldade de falar com a contabilidade que nos atendia na época. Quando eu precisava tirar uma dúvida, mesmo em caso de urgência, tinha que esperar dois ou três dias para receber uma resposta. Era frustrante", diz Marlon Freitas, cofundador da Agilize.
Foi esta burocracia que levou os amigos a mudar o rumo do negócio. Com Alberto Vila Nova, 56, contador há muitas décadas em Salvador, eles tiveram a ideia de abrir uma empresa de contabilidade online. "O Alberto estava procurando alguma coisa que usasse tecnologia e agregasse à contabilidade. E a gente estava também atrás de agregar em alguma indústria com o nosso conhecimento de tecnologia", diz Freitas.
Como empreendedores, enfrentamos dificuldades ao precisar de um suporte contábil ágil, estratégico, efetivo e com preço que não inchasse a estrutura de gastos.
Marlon Freitas, cofundador da Agilize
Começamos a pesquisar sobre essa demanda a partir da dor que sentimos e identificamos essa oportunidade de mercado, inovando no segmento de contabilidade para empresas, através da tecnologia.
Marlon Freitas, cofundador da Agilize
A Agilize foi criada em fevereiro de 2013, em Salvador. O investimento inicial foi de R$ 500 mil no negócio. Em 2020, a empresa teve a rodada de investimento série A no valor de R$ 7 milhões. "A maior parte deste investimento foi utilizado para dar mais escala ao negócio, e tivemos bons resultados com nossa estratégia de crescimento desde então", afirma Freitas.
Mas a empresa só deslanchou seis anos depois, após participar de programas de aceleração. Em 2019, a Agilize foi selecionada para participar do Google Launchpad Accelerator e também foi reconhecida como uma das principais "scale ups" (que têm uma estratégia para um crescimento exponencial) do país pela Endeavor. Esses programas não realizaram aportes financeiros.
O principal desafio no início foi demonstrar aos órgãos reguladores que, embora nosso serviço fosse oferecido por um preço muito menor que a média do Brasil, seguíamos estritamente a legislação e o código de ética da classe. Essa redução do custo se dava em função de uma melhor eficiência da nossa operação proporcionada pelo uso da tecnologia como braço direito dos nossos processos.
Marlon Freitas, cofundador da Agilize
Como conquistaram os clientes? Ele diz que a empresa teve que fazer ajustes de comunicação e investir muito tempo e inteligência para transmitir confiança aos potenciais clientes. "Trabalhamos muito a nossa reputação e posicionamento ao longo desses primeiros anos", afirma.
O que a empresa faz
A Agilize presta serviço de contabilidade completa, com tecnologia. Faz desde a abertura de CNPJ ou desenquadramento de MEI para ME até a rotina contábil mensal da empresa. Segundo Freitas, a empresa desenvolve para o cliente plataformas contábil, de RH e financeira. "Nossos clientes têm acesso a essas plataformas, onde tudo fica mais visível e organizado, com total transparência, para que sintam mais segurança na jornada do empreendedorismo", declara.
São cinco opções de planos. As mensalidades vão de R$ 149 a R$ 1.400 (para empresas de serviço) e de R$ 249 a R$ 1.500 (para empresas de comércio). "O cliente escolhe o plano que deseja e não precisa pagar a mais quando seu negócio cresce e passa a patamares superiores de faturamento", afirma Freitas. Há também serviços avulsos, que podem ser contratados pontualmente a depender da necessidade.
Ao entrar na Agilize, há três opções de serviço inicial. São elas: abertura de CNPJ com certificado digital incluso e sem cobrança de honorários contábeis, desenquadramento do MEI (microempreendedor individual) em ME (micro empresa) e auditoria de empresas que tinham outra contabilidade anteriormente. Após virar cliente, os principais serviços são a gestão completa da rotina contábil do negócio, emissão de notas fiscais diretamente do painel da Agilize e consultoria contábil com especialistas, entre outros.
O público-alvo são pequenas e médias empresas e, principalmente, profissionais liberais. No total, são mais de 20 mil empresas na carteira de clientes. A maioria é dos segmentos de tecnologia, consultoria, engenharia e saúde.
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Quero receberEm 2023, o faturamento da empresa foi de R$ 40 milhões. O lucro não é revelado.
Empresa deve sempre ouvir os clientes, diz consultor
A Agilize conseguiu ousar em um modelo de negócio tradicional. É o que diz Vitor dos Santos, consultor de negócios do Sebrae-SP. "A essência de uma startup é inovar. E com a Agilize não foi diferente. No geral, o serviço de contabilidade que oferecem não mudou. O que mudou foi a transformação digital, com a contabilidade online, mais acessível e transparente. Foram muito disruptivos na época da concepção da ideia e execução. Mas em inovação, o sucesso não é da noite para o dia", diz.
Outra vantagem é a avaliação do serviço online. "Geralmente, o contador era aquele profissional que a pessoa busca por indicação. Mas hoje essa avaliação de uma empresa é facilitada pelo online, sejam positivas ou negativas. A plataforma da Agilize apresenta cases de outros clientes e empresas que atende. Isso é uma 'prova' do serviço, o que gera um gatilho de venda para outros clientes", afirma.
O consultor diz, no entanto, que é sempre importante ouvir os clientes. "Independentemente de o negócio ser inovador, é preciso sempre estar com o cliente, ouvi-lo, para se aproximar das suas dores, necessidades e barreiras. Isso permite aprimorar o processo de atendimento e prestação de serviços. Afinal, contabilidade costuma assustar grande parte dos empreendedores", declara.
A prospecção de clientes é outro desafio. Para o consultor, é preciso fazer muita prospecção antes de gerar vendas. "No modelo tradicional, o empreendedor tende a contratar o serviço de um contador já no primeiro contato. No online, os clientes costumam fazer consultas em várias empresas antes de optar por uma e, muitas vezes, sem mesmo fazer um contato direto com um colaborador da empresa. Por isso, a apresentação da plataforma —por sites, redes sociais, etc.— tem que ser bem elaborada, promovendo o interesse no cliente fazer um contato e ou adquirir o serviço", diz.
É preciso precificar corretamente os serviços, olhando para as vantagens dos clientes e lucratividade da empresa. Para Santos, uma das estratégias da empresa é ter preços competitivos, mas, por estarem online, é facilmente comparada com outros concorrentes. "A empresa deve se prevenir para não entrar em uma concorrência predatória de preços, para conseguir se manter financeiramente saudável. Deve apresentar demais benefícios para possibilitar um melhor valor agregado dos serviços e ter um preço justo para ambos os lados", afirma.
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