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Ao lado de Bolsonaro, Guedes promete aumento do salário mínimo acima da inflação

O ministro da Economia, Paulo Guedes, durante coletiva no Palácio do Planalto - Ton Molina/Fotoarena/Estadão Conteúdo
O ministro da Economia, Paulo Guedes, durante coletiva no Palácio do Planalto Imagem: Ton Molina/Fotoarena/Estadão Conteúdo

Iander Porcella

Brasília

22/10/2022 22h30

O ministro da Economia, Paulo Guedes, prometeu neste sábado, 22, o aumento acima da inflação do salário mínimo, das aposentadorias e dos rendimentos do funcionalismo público. A promessa foi feita ao lado do presidente Jair Bolsonaro (PL), durante transmissão ao vivo nas redes sociais, após uma proposta da equipe econômica de desindexar despesas do governo ter gerado polêmica e desgaste interno na campanha do candidato à reeleição. Como mostrou o Broadcast Político nesta sexta-feira, 21, aliados de Bolsonaro passaram a culpar Guedes pelo imbróglio.

"Trabalhador, aposentado, pensionista, confie no presidente Bolsonaro. Se durante a pandemia, durante a guerra nós demos os aumentos de salários, aposentadorias e pensões, é claro que agora que vencemos a pandemia vamos poder dar aumentos acima da inflação. Durante a guerra, nós demos aumentos pela inflação", disse o ministro da Economia.

"Funcionalismo público fez um sacrifício enorme, eles ficaram dois anos sem reajustes, exatamente se sacrificando durante a pandemia. O que acontece agora: vão ter também aumentos acima da inflação. Então, trabalhadores vão ter o aumento do salário mínimo acima da inflação, aposentadorias e benefícios, aumento agora, pela primeira vez, acima da inflação", emendou Guedes.

Durante a live, o chefe da equipe econômica acusou a oposição de mentir e "roubar a tranquilidade e a esperança" da população. "Realmente, é uma vergonha mentirem, roubarem a tranquilidade do povo brasileiro, roubarem a esperança do povo brasileiro dizendo que nós vamos tirar dinheiro de salário, que vamos tirar do salário mínimo, que vamos tirar aposentadoria. Estão roubando a esperança do povo brasileiro, já roubaram outras coisas antes, bastante", declarou.

A campanha de Bolsonaro teme que a repercussão do caso assuste eleitores de baixa renda, principalmente pelo empenho do deputado André Janones (Avante-MG), aliado do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em viralizar vídeos nos quais afirma que o salário mínimo pode ser reduzido a partir do ano que vem. Ontem, Janones fez uma live com Lula para falar do assunto.

Questionado na última quinta-feira, 20, sobre o assunto, Guedes negou que os ajustes fiscais necessários para financiar promessas de campanha de Bolsonaro passem por mudanças no reajuste do salário mínimo, como informado pelo jornal Folha de S. Paulo, mas confirmou a ideia de desindexar despesas, medida que sempre defendeu.

"É claro que vai ter o aumento do salário mínimo e das aposentadorias pelo menos igual à inflação, mas pode ser até que seja mais. Quando se fala em desindexar, as pessoas geralmente pensam que vai ser menos que a inflação, mas pode ser o contrário", disse o chefe da equipe econômica, em entrevista coletiva após participar de evento com empresários na Confederação Nacional do Comércio (CNC), no Rio de Janeiro.

A resposta de Guedes na ocasião, contudo, desagradou a campanha de Bolsonaro. Ao mesmo tempo, o próprio presidente confirmou o plano de desindexação e disse que os valores do salário mínimo e das aposentadorias poderiam ficar "indefinidos". "O Paulo Guedes fala muito em desindexação da economia, daí no bolo o que ele quer desindexar? O porcentual fica indefinido", declarou o chefe do Executivo na quinta-feira, em entrevista ao podcast Inteligência Ltda.

Bolsonaro foi orientado pela campanha a entrar em campo para "reduzir danos". Na entrevista, disse que Guedes havia anunciado o aumento real do salário mínimo, ou seja, acima da inflação. O ministro, contudo, havia garantido apenas o reajuste "pelo menos" com base no índice de preços.

Não é de hoje que Guedes e seus auxiliares defendem a desindexação de despesas como o pagamento do salário mínimo e das aposentadorias. Em setembro de 2020, primeiro ano da pandemia de covid-19, Bolsonaro chegou a falar em "cartão vermelho" para a equipe econômica e mandou "enterrar" o Renda Brasil, programa social considerado para substituir o Bolsa Família antes da idealização do Auxílio Brasil.

A ordem do presidente foi dada após o então secretário especial de Fazenda, Waldery Rodrigues, ter confirmado a ideia de congelar benefícios previdenciários por dois anos para bancar o programa de distribuição de renda.

Naquele mês de 2020, o então líder do governo no Senado, Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), afirmou que as medidas de desindexação, desvinculação e desobrigação - o chamado 'DDD' - iriam abrir um espaço fiscal de R$ 20 bilhões no Orçamento de 2021.

O senador chegou a dizer que o cenário de inflação baixa da época daria chance de se aprovar a desvinculação do salário mínimo, que deixaria de ter correção automática pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) para viabilizar o Renda Brasil.