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Veja como evitar o efeito Eike Batista na sua empresa

Larissa Coldibeli

Do UOL, em São Paulo

24/07/2013 06h00

O empresário Eike Batista, que já foi considerado um dos homens mais ricos do mundo, perdeu 90% de sua fortuna após gerar uma crise de confiança no mercado. 

O estopim da crise foi quando a petroleira OGX, do seu grupo EBX, divulgou que iria suspender os investimentos para ampliar a produção de petróleo no campo de Tubarão Azul, na bacia de Campos, no Rio de Janeiro (RJ).

O fato de Eike prometer e não cumprir gerou incerteza no mercado. E, segundo especialistas ouvidos pelo UOL, a desconfiança sobre a integridade de uma empresa pode quebrar qualquer negócio. 

Dicas para evitar crise

  • 1

    Cuidado com otimismo

    O otimismo é importante para quem quer empreender, mas a análise do negócio deve ser mais criteriosa do que a sua vontade de expandir a companhia ou buscar novos mercados. Avalie se, realmente, é o momento para sua empresa crescer e abrir um novo campo de atuação antes de anunciar ao mercado

  • 2

    Dados de mercado

    É importante ouvir especialistas e entidades do setor para saber as projeções de mercado para os próximos anos. Assim é possível ter uma ideia se sua empresa tem potencial para crescer ou se está na hora de pensar em mudar de estratégia para continuar com as portas abertas ou, até, mudar de área 

  • 3

    Controle interno

    O fluxo de caixa deve ser acompanhado regularmente, bem como outros controles financeiros. Se a empresa ficar no vermelho, é possível elaborar ações para tentar reverter o quadro o quanto antes

  • 4

    Boa reputação

    Uma boa reputação é construída com o tempo. Não prometa o que não pode cumprir, entregue o produto ou o serviço com a qualidade esperada e no prazo certo. Dessa forma, se constrói confiança

    De acordo com Victor Ramacciotti, gerente de gestão de risco da consultoria e auditoria BDO, a boa reputação de uma empresa aumenta a sua credibilidade no mercado e a protege de uma eventual instabilidade financeira.

    "A confiança é importante nas relações comerciais e é conquistada quando a empresa entrega um produto ou serviço com a qualidade esperada e dentro do prazo, por exemplo”, afirma Ramacciotti.

    A credibilidade de uma companhia também garante, segundo ele, que o empresário tenha mais facilidade para buscar crédito no mercado em um momento de dificuldade. 

    Segundo o especialista, para não gerar qualquer dúvida sobre a saúde de uma empresa, é preciso manter um cronograma de produção e cumprir todas as metas estabelecidas para seus clientes.

    "Acompanhar os indicadores frequentemente, como metas de produção e de vendas e fluxo de caixa, é fundamental para a empresa se adaptar rapidamente a uma nova realidade de mercado e fazer projeções mais realistas." 

    A regra vale para investimentos anunciados para a ampliação da produção, o desenvolvimento de outros produtos e serviços ou, até, a aquisição de outra companhia.

    Saúde financeira acalma mercado

    A situação financeira também é muito analisada pelo mercado antes de se fechar um negócio, diz o especialista.

    Por isso, ele diz que é importante que o empreendedor analise regularmente o fluxo de caixa, documento que registra as entradas e saídas de dinheiro da empresa, para ver se está gastando mais dinheiro do que recebendo.

    Por exemplo, se o empresário paga R$ 30 mil por mês de despesas como salários e conta de luz, e recebe R$ 25 mil com a venda dos produtos, o fluxo de caixa está no vermelho.

    “Se conseguir visualizar o problema com antecedência, o empreendedor tem mais condições de pensar em ações para reverter o caixa negativo ou, até mesmo, negociar empréstimos”, declara.

    Além do fluxo de caixa, é importante ter outros sistemas de controle, que regulem, por exemplo, os contratos com fornecedores e o estoque. Segundo Ramacciotti, isso diminui o risco de fraudes.

    “Nas pequenas e médias empresas, as principais fraudes acontecem entre sócios e funcionários de áreas como compras e estoque. O negócio cresce, o empreendedor fica focado na operação e deixa de lado a administração, ficando vulnerável.”

    Entidades do setor ajudam a traçar cenário

    O consultor de empresas Artur Lopes, da Artur Lopes e Associados, diz que, além dos controles internos, é necessário ficar atento aos dados de mercado. Os cenários projetados para o negócio devem ser baseados em dados reais e fáceis de serem obtidos.

    Entidades do setor, como Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), Fecomercio (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo) e Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micros e às Pequenas Empresas), costumam ser boas fontes.

    "A situação econômica do país também pode indicar futuras dificuldades ou oportunidades para determinados segmentos”, declara Lopes.

    A análise de mercado, segundo Lopes, também deve ser criteriosa e superar o otimismo do empresário que deseja abrir um negócio. 

    "O otimismo é importante para dar vida ao negócio, mas o empresário não pode brigar com os indicadores econômicos. Se o cenário não está favorável para investir, o empresário deve esperar o melhor momento ou pensar em mudar seu foco de negócio.”

    Ele cita como exemplo as fabricantes de computadores de mesa.

    “Essas empresas podem ter lucro, mas é um mercado que caminha para a extinção, já que as pesquisas apontam que os consumidores estão mais interessados em adquirir dispositivos móveis, como notebooks e tablets. Com informações do setor em mãos, fica mais fácil fazer projeções realistas para o negócio", afirma Lopes.

    Oferta de ações deve ser calculada

    Em um momento de crise, como vive o grupo EBX, os especialistas recomendam que o empresário avalie se deve ou não manter o capital aberto na Bolsa de Valores.

    Para Edgar de Sá, economista-chefe da assessoria de investimentos HPN Invest, no caso de Eike, o empresário não deve se arrepender de ter aberto o capital de sua empresa, como ele afirmou num artigo publicado na última sexta-feira (19).

    "Foi o mercado que possibilitou a expansão dos negócios dele", diz.

    Rodolfo Zabisky, coordenador do PAC-PME (Programa de Aceleração do Crescimento para Pequenas e Médias Empresas), diz que as empresas que estão no mercado de capitais devem ter cuidado ao lidar com as expectativas.

    "A empresa tem de divulgar informações com responsabilidade para ter credibilidade. Caso contrário, a CVM (Comissão de Valores Mobiliários), que regula esse mercado, pode pedir esclarecimentos ou punir a empresa", afirma.

    Recomprar ações e fechar o capital da empresa é uma alternativa para empresários que acham que seu negócio vale mais do que o mercado está pagando.

    "Existem programas de recompra de ações pelo atual valor de mercado ou a possibilidade de fechar totalmente o capital, algo mais complexo. O investidor que pagou R$ 100 por uma ação que hoje vale R$ 3, por exemplo, não vai querer perder dinheiro e isso pode gerar uma série de processos judiciais."