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Fórum Econômico Mundial: Macri vai, Dilma não; o que isso significa?

Letícia Marçal

Do UOL, em São Paulo

20/01/2016 06h00

Brasil x Argentina. A competição, que acontece principalmente dentro de um campo de futebol, pode estar caminhando também para o campo político e econômico.

Recém-empossado, o liberal Mauricio Macri marca presença no Fórum Econômico Mundial, após 12 anos de ausência da Argentina. O evento começa nesta quarta-feira (20) e termina no sábado (23), em Davos (Suíça).

Macri vai, mas a presidente Dilma Rousseff fica --o ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, é quem vai representar o Brasil no evento. O que isso significa? 

O UOL ouviu três especialistas: Márcio Coimbra, cientista político e coordenador do MBA de Relações Institucionais do Ibmec; Oliver Stuenkel, professor de Relações Internacionais da FGV (Fundação Getulio Vargas); e Paulo Feldmann, professor de Economia da USP (Universidade de São Paulo).

Fórum Econômico Mundial 2016 - Fabrice Coffrini/AFP - Fabrice Coffrini/AFP
Imagem: Fabrice Coffrini/AFP
 

Qual a importância do evento?

O Fórum reúne autoridades e investidores do mundo inteiro para debater rumos e perspectivas políticas e econômicas. É uma oportunidade para os países, principalmente os de menor destaque, mostrarem suas propostas. "O evento tem um grande eco, escutado nos quatro cantos do mundo", diz Coimbra. 

Seria uma chance de o Brasil passar uma mensagem de segurança e atrair investidores estrangeiros ao país. "Para investir, as entidades precisam entender o que o país tem a oferecer, precisam conhecer os planos não só de curto, mas de longo prazo", diz.

11.jan.2016 - A presidente Dilma Rousseff sanciona o novo Marco Legal da Ciência, Tecnologia e Inovação. A proposta aproxima as universidades das empresas - Marcelo Camargo/Agência Brasil - Marcelo Camargo/Agência Brasil
Imagem: Marcelo Camargo/Agência Brasil

O Brasil perde com a ausência de Dilma?

Para Coimbra, pode passar aos investidores a mensagem de que a política do país não é tão estável, nem de longo prazo.

"Um ministro pode deixar o cargo a qualquer momento. Joaquim Levy apresentou planos no ano passado que hoje já são diferentes, pois existe outro ministro em seu lugar. Mas quando se trata da presidente falando, a coisa muda de figura, porque ela tem um mandato a se cumprir", diz.

Para ele, seria importante que Dilma passasse uma mensagem de tranquilidade em meio às turbulências que o país enfrenta --caso se saísse bem, poderia até ganhar força aqui no Brasil.

Stuenkel e Feldmann pensam diferente. Para eles, a presença de Dilma não é imprescindível, e Barbosa tem condições de representar o país. O problema seria não enviar ninguém.

O professor da USP cita as crises política e econômica como bons motivos para ela ficar: "Por mais importante que o Fórum seja, não acho que é o momento de ela ir. Ele deve ficar aqui cuidando dos problemas do país."

Stuenkel cita outro ponto: "A Dilma está enfraquecida e não tem um discurso atraente. Neste momento, faz mais sentido ter uma pessoa que vá falar de um aspecto mais especifico da economia, do que sobre coisas superficiais."

Obama - Saul Loeb/AFP - Saul Loeb/AFP
Imagem: Saul Loeb/AFP
 

É normal presidentes não irem ao evento?

Sim, a presença de presidentes não é obrigatória. Porém, é uma boa oportunidade para que líderes recém-eleitos ou com novas propostas passem sua mensagem ao mundo. A decisão também depende das condições e prioridades de cada país. "O [Barack] Obama, por exemplo, não precisa ir ao Fórum, porque os EUA têm uma política econômica conhecida e estável", diz Coimbra.

Mauricio Macri, presidente da Argentina - Victoria Egurza/Telam/Xinhua - Victoria Egurza/Telam/Xinhua
Imagem: Victoria Egurza/Telam/Xinhua

O que sinaliza a ida do presidente da Argentina?

Macri vai representar a Argentina no Fórum pela primeira vez em 12 anos --período em que o casal Kirchner esteve no poder--, marcando a mudança de rumo que ele quer dar ao país. Para os analistas, é a oportunidade perfeita para o país mostrar suas novas propostas. 

"Para ele vai ser muito mais fácil e oportuno mostrar suas propostas. Ele tem uma história nova para contar. E tem uma vantagem em relação à Dilma: ele tem apoio, ele tem governabilidade", diz Stuenkel. "A Argentina vai ser o país da América do Sul com maior visibilidade no evento, independentemente da presença de Dilma."

Coimbra afirma, ainda, que a ida de Macri mostra sua preocupação em atrair investimentos estrangeiros para o país, ao contrário de Dilma. "A presidente não acredita que o Brasil necessite da confiança dos mercados internacionais. Ela acredita em uma política nacionalistas e intervencionista", diz o cientista político.

argentina - Wikimedia - Wikimedia
Imagem: Wikimedia
 

Argentina e Brasil podem trocar de lugar?

A mudança de rumo proposta por Macri gerou comparação entre os dois países: o Brasil deixa de ser o queridinho e perde a confiança dos mercados, e a Argentina faz o caminho contrário.

Os analistas concordam que a Argentina pode ganhar muito com a eleição de Macri, mas divergem em relação a que posição o país pode conquistar na América do Sul.

Para Coimbra, a Argentina pode tomar o lugar do Brasil e assumir a liderança na região. "Não é uma questão de 'se', mas de 'quando'", diz.

Na opinião de Feldmann, a Argentina está longe de tirar o protagonismo do Brasil.

Para Stuenkel, o Brasil não exerce um papel de líder na região neste momento. A Argentina pode e já está no caminho de assumir certa liderança, mas isso seria temporário; com uma recuperação do Brasil, o país voltaria a ser o personagem principal.

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