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Presidente do BNDES pede demissão, em meio a denúncias envolvendo o banco

Tomaz Silva/Agência Brasil
Imagem: Tomaz Silva/Agência Brasil

Do UOL, em São Paulo e em Brasília*

26/05/2017 16h16Atualizada em 26/05/2017 17h58

Maria Silvia Bastos Marques pediu demissão da presidência do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), informou o banco em nota. O diretor Ricardo Ramos, funcionário de carreira, assume interinamente o cargo.

A saída da executiva acontece após o acirramento da crise no governo de Michel Temer e em meio a denúncias envolvendo operações do BNDES em gestões anteriores. A decisão foi motivada por "razões pessoais", segundo comunicado do banco, e Temer foi informado pessoalmente nesta sexta-feira (26). 

Maria Silvia havia sido indicada há pouco mais de um ano, em 16 de maio, e empossada em 1º de junho do ano passado. Ela foi a primeira mulher a ocupar o posto.

A informação sobre a demissão foi confirmada pelo Palácio do Planalto. Em nota, Temer diz que ela presidiu o BNDES "de forma honesta, competente e séria por pouco mais de um ano" e que "seu trabalho honrou o governo e moralizou um setor estratégico para o país, despolitizando a relação com o setor empresarial e elegendo critérios profissionais e técnicos para a escolha de projetos a serem contemplados com financiamentos oriundos de recursos públicos".

Empresários teriam reclamado de Maria Silvia

No começo deste mês, o site da revista "Época" chegou a afirmar que Temer havia dado um prazo de três meses para o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Moreira Franco, encontrar um substituto para comandar o banco. Segundo a revista, Maria Silvia estaria sendo alvo de reclamações ostensivas de empresários que a acusavam de fechar o caixa do banco estatal. O Planalto negou que tivesse tal intenção.

Gravação da conversa entre Joesley Batista, da JBS, e Temer mostra que o empresário criticou a atuação de Maria Silvia. "Está bem travado", disse ele.

PF investiga favorecimento à JBS

O BNDES é investigado na operação Bullish da Polícia Federal, deflagrada em 12 de maio. A operação envolve os irmãos Batista, da JBS, e o ex-presidente do BNDES Luciano Coutinho; além disso, 37 servidores do banco foram alvo de condução coercitiva, quando a pessoa é obrigada a depor. 

Há suspeita de fraudes e irregularidades na concessão de recursos para o grupo JBS. Segundo a PF, R$ 8,1 bilhões teriam sido liberados com velocidade recorde, a partir de junho de 2007, para compra de outras empresas, inclusive no exterior, o que permitiu à JBS se tornar uma gigante mundial no setor de carnes. As transações geraram um prejuízo aproximado de R$ 1,2 bilhão aos cofres públicos, estima a PF. 

A associação dos funcionários do BNDES rebateu as acusações de envolvimento de técnicos da instituição em irregularidades e classificou-as como "descabidas".

Outras investigações

O BNDES também aparece em outras operações da Polícia Federal.

Na Acrônimo, o alvo foram financiamentos concedidos à empreiteira Odebrecht que teriam sido facilitados por Fernando Pimentel (PT), atual governador de Minas Gerais e ex-ministro do Desenvolvimento.

Na Lava Jato, foram investigados empréstimos do banco público a empresas do pecuarista José Carlos Bumlai, amigo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Há no Senado atualmente um pedido para criar uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para investigar os critérios e eventuais irregularidades na concessão de empréstimos do BNDES pelo programa de globalização de companhias nacionais --entre elas a JBS. No ano passado, foi encerrada uma CPI do BNDES na Câmara sem indiciar ninguém

'Boa sorte a todos'

Em comunicado interno distribuído nesta sexta aos funcionários, Maria Silvia informa que toda a diretoria, que chegou ao banco junto com ela há cerca de um ano, seguirá no cargo.

Aos funcionários do BNDES, Maria Silvia alegou motivos pessoais para renunciar. "Deixo a presidência do BNDES por razões pessoais, com orgulho de ter feito parte da história dessa instituição tão importante para o desenvolvimento do País", diz o comunicado, fazendo referência à sua passagem anterior pela diretoria do banco, no início dos anos 1990.

O comunicado interno termina desejando boa sorte a todos os funcionários: "Desejo boa sorte a todos, esperando que sigam trabalhando para que o BNDES continue sendo o Banco que há 65 anos faz diferença na vida dos brasileiros."

Economista e mãe de gêmeos

A economista presidiu a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) entre 1999 e 2002 --quando assumiu, estava grávida de gêmeos. Foi convidada para comandar a Petrobras, em março de 1999, mas ficou na CSN. Entrou para o conselho de administração da petroleira.

No governo Collor, atuou no Ministério da Economia e no BNDES. Depois, foi secretária municipal de Fazenda do Rio de Janeiro, de 1993 a 1996, na gestão de César Maia. De 2007 a 2011, foi presidente da Icatu Seguros. Mais recentemente, foi assessora especial da Prefeitura do Rio para a Olimpíada 2016.

(Com reportagem de Luciana Amaral, Gustavo Maia e agências de notícias)