É muito difícil aprovar reforma da Previdência em ano eleitoral, diz S&P
Será muito difícil a reforma da Previdência ser votada neste ano no Brasil, marcado por eleições presidenciais, bem como avançar com medidas fiscais mais dolorosas, afirmou nesta sexta-feira (12) a diretora para ratings soberanos da Standard & Poor's, Lisa Schineller.
Na noite passada, a agência reduziu a nota de crédito (rating) do Brasil e justificou a medida dizendo que ela ocorre em função da demora na aprovação de medidas para reequilibrar as contas públicas, num claro sinal para a reforma da Previdência, e de incertezas devido às eleições deste ano.
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Schineller reforçou essa justificativa, dizendo que a nova nota do Brasil se deve a "derrapagens e sinais mistos em termos de enfrentar a correção da política fiscal". A reforma dificilmente seria aprovada porque, segundo ela, os políticos no país tendem a resistir a medidas de austeridade (corte de gastos).
O Brasil perdeu o grau de investimento da S&P, uma espécie de "selo de bom pagador", em setembro de 2015. Desde então, a S&P e as outras duas principais agências, a Moody's e a Fitch, fizeram sucessivos cortes na nota do país.
Com o novo rebaixamento feito pela S&P, o país fica três níveis abaixo do grau de investimento.
Em nota, o Ministério da Fazenda afirmou que a classificação de risco poderá ser revertida com o crescimento da economia brasileira e com a aprovação da reforma da Previdência.
"A S&P avalia que há cenários que podem levar a uma eventual reversão da decisão tomada nesta quinta-feira, como a retomada do crescimento em função das medidas macro e microeconômicas já adotadas e aprovação das reformas. Uma elevação da nota, portanto, seria decorrente da aprovação das medidas fiscais propostas", diz o texto divulgado pela pasta.
A reforma da aposentadoria é considerada pelo mercado fundamental no equilíbrio das contas públicas, mas enfrenta forte oposição da população e de parlamentares. A avaliação de analistas é que as chances de aprovação de uma reforma impopular em ano eleitoral são menores.
Avaliação indica risco de calote
Um governo ou empresa consegue dinheiro vendendo títulos no mercado. Os investidores compram papéis com a promessa de receberem o dinheiro de volta no futuro com juros. Quando um governo ou empresa tem avaliação ruim, considera-se que há risco de dar um calote e não pagar esses investidores.
Se houver desconfiança sobre essa devolução, fica difícil conseguir vender esses títulos, e é preciso pagar mais juros aos investidores para compensar o risco maior. O rating, ou classificação de risco, indica aos investidores se um país, empresa ou negócio é considerado um bom pagador ou não.
O chamado grau de investimento, por exemplo, indica que tem baixo risco de dar calote, e que as aplicações financeiras feitas por investidores estrangeiros nesse país ou empresa terão risco próximo a zero.
Agências falharam na crise de 2008/2009
A classificação das agências de risco é um instrumento relevante para o mercado, uma vez que fornece aos potenciais credores uma opinião supostamente independente a respeito do risco de calote de países, empresas e negócios.
Porém, as agências foram muito criticadas por terem falhado na crise global de 2008/2009. Elas deram boas notas para operações de vendas de hipotecas imobiliárias nos EUA que afundaram bancos e investidores e geraram a grande crise financeira.
(Com Reuters)
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