Abilio troca São Paulo por Santa Rita e fala sobre fé, saúde e negócios
O público era tão numeroso quanto o de uma missa de domingo, mas, na noite chuvosa desta terça-feira (20), quem pregava do altar da igreja de Santa Rita de Cássia, no bairro de Mirandópolis, em São Paulo, não era o padre Jorge Bernardes, mas o empresário Abilio Diniz.
Por pouco mais de uma hora, Abilio falou sobre fé, família e saúde, que, segundo ele, são mais importantes que os negócios em sua vida. Mas não se negou a comentar o tema do momento. "Enquanto eu estiver lá [na BRF], ninguém vai mandar na empresa, só o coletivo", declarou o presidente do Conselho de Administração da empresa de alimentos, que pode ser destituído pelos fundos de pensão Previ e Petros, acionistas do negócio.
O convite para a palestra na igreja chegou aos fiéis pelo Facebook. "Encontro de fé e cidadania com Abilio Diniz" era o título, seguido pela descrição: "Ao longo de sua trajetória, o empresário Abilio Diniz criou e cultivou valores e pilares que o guiaram pela estrada da vida. Um destes pilares é a espiritualidade e a fé em Deus, que considera um de suas maiores e principais forças".
Perdeu o jogo do São Paulo
Após o temporal que inundou ruas em São Paulo na tarde desta terça, alguns convidados perguntavam na rede social se o evento seria mantido. Abilio confirmou presença e postou:
"As coisas boas as quais venho sendo contemplado e os momentos desafiadores que tenho vivido reforçaram o meu lado espiritual e o meu desejo de agradecer a Deus. Isso tem sido cada vez mais forte em mim. Considero que Ele quer que você dê o melhor de si e faça o melhor que puder para as pessoas que estão ao alcance de suas ações".
Um dos participantes lembrou que, no mesmo horário, o time do São Paulo enfrentaria o São Caetano no Morumbi, valendo uma vaga nas semifinais do Campeonato Paulista. Abilio é são-paulino roxo. Mas o empresário estava mesmo empenhado em trocar São Paulo e São Caetano por Santa Rita.
"Se eu posso, você também pode"
A palestra de Abilio teve um tom de autoajuda, com direito a distribuição gratuita, para todos os presentes, do seu livro "Novos Caminhos, Novas Escolhas" (Objetiva, 2016). Com o apoio de slides projetados em telões, ele contou sua trajetória, desde o nascimento, "numa edícula atrás da venda da família na rua Vergueiro", até se tornar um "empresário admirado".
"Se eu posso, você também pode. Eu não tenho nada de extraordinário", disse ao público. Adiante, repetiu o mantra de outras formas: "minha vida não teve nada de espetacular", "nunca tive um golpe de sorte", "não tenho nada de especial".
O empresário contou como superou suas primeiras dificuldades.
Eu era baixinho e gordinho. Sofri o que hoje se chama bullying. Para me defender, aprendi a lutar boxe, fiquei forte e consegui inverter a situação. Mas deu trabalho para ajustar essa personalidade de briga e me tornar uma pessoa mais calma.
Aos 81, Abilio deu também dicas de saúde e fez reflexões sobre longevidade. Por exemplo: "A medicina nos dá hoje uma vida longa, mas do que isso adianta se não conseguir subir uma escada?". Ou: "Eu também gosto de comer lasanha, pizza e doce, mas não em todo almoço e na janta. O que engorda não é a exceção, mas a regra".
Comer pouco é uma sabedoria. Apenas o suficiente para se manter.
Sem estresse com BRF
Ao falar sobre a importância do controle do estresse, Abilio fez a primeira menção à BRF, espontânea e sem citar a empresa. "Estou em um momento um pouco conturbado em uma das empresas [em que participo] e estou sereno. Porque sei dos meus direitos, e sei que isso não é o mais importante na vida. O mais importante é a Geyze [mulher] e os meninos", afirmou, apontando para sua companheira, que estava presente.
Mais tarde, quando respondeu a perguntas do público, Abilio voltou ao assunto, com mais detalhes.
No caso da BRF, o que está em jogo é uma disputa de poder. Eu estou muito tranquilo, porque sempre disse que não preciso ficar aqui. Eu vou embora. Mas, por enquanto, há um trabalho a ser feito. Sou presidente do conselho e vou cumprir minha responsabilidade até o fim. Enquanto eu estiver lá, ninguém vai mandar na empresa, só o coletivo [o conjunto de acionistas].
Lucro é pecado?
Um dos fiéis quis saber a opinião do empresário sobre o lucro. "Não é a exploração do trabalho?", perguntou. Abilio respondeu:
Quando eu era jovem, andei por toda a esquerda. Mas a gente cresce e evolui. O ruim é gerar riqueza e não distribuir. Se não gerar riqueza, vai distribuir o quê? Como diz o ditado, em casa que não tem pão, todo mundo briga e ninguém tem razão. O governo é que precisa distribuir melhor o que arrecada em impostos.
Relação com Deus
Abilio também contou sobre seu cotidiano religioso. Devoto de Santa Rita, o empresário era visto nas missas dominicais da igreja de Mirandópolis, mas recentemente passou a frequentar outra paróquia.
Disse ler salmos bíblicos todas as manhãs. "Peço muito nas minhas orações, mas pergunto antes se o que estou pedindo é justo e se fiz a minha parte", afirmou.
Só peço saúde e proteção à família. Na saúde, faço minha parte. Estou me cuidando. Não estou comendo doce todo dia. E não peço ajuda nos negócios. Peço apenas luz.
Um convidado quis saber se algum dia ele já fraquejou na sua fé. Abilio lembrou do sequestro que sofreu em 1989. "No início, teve um momento em que eu não conseguia conexão. Meu pedido, então, foi não perder a fé. Quando me conectei novamente, sabia que iria sair dali", disse.
"Não vou me aposentar"
Por fim, uma pessoa pergunta quando Abilio vai pendurar as chuteiras. Ele rapidamente respondeu:
Não vou me aposentar. Não visualizo a ideia de parar.
Em seguida, falou sobre como mantém a disposição sendo um octogenário. "Não corro mais maratonas, mas faço atividade física duas horas por dia e boxe uma vez por semana".
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