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Abilio Diniz: Foi sequestrado, mas não sai do país nem apoia porte de arma

O empresário Abilio Diniz, 81, é dono de um patrimônio avaliado em US$ 2,8 bilhões, segundo a revista Forbes - Divulgação/Plenae
O empresário Abilio Diniz, 81, é dono de um patrimônio avaliado em US$ 2,8 bilhões, segundo a revista Forbes Imagem: Divulgação/Plenae

Diogo Max

Colaboração para o UOL, em São Paulo

16/09/2018 04h00

O empresário Abilio Diniz, 81, está preocupado com o tema da segurança pública nestas eleições. "Eu já fui sequestrado, até tenho porte de arma, mas acho que ter mais armas nas mãos da população só vai piorar o problema da segurança", afirmou.

Em uma entrevista que concedeu com exclusividade ao UOL, ele criticou o movimento de brasileiros que estão deixando o país, seja por causa das crises política e econômica, seja devido à violência crescente nos grandes centros urbanos do Brasil. “Eu nunca pensei em sair do meu país. Pelo contrário, as dificuldades me deixam ainda mais engajado em procurar ajudar este país que amo e que pode dar muito mais a seus cidadãos”, declarou.

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Sobre uma mudança na legislação que tributasse as grandes fortunas do país, Abilio prefere não entrar em detalhes. “Isso é feito em alguns países, teria de ver como seria essa proposta específica”, afirmou o empresário, dono de um patrimônio avaliado em US$ 2,8 bilhões, segundo a revista Forbes.

Após deixar o comando da BRF, em um imbróglio com outros investidores dentro da maior exportadora de frango do mundo, Abilio também encampou uma campanha pelo voto consciente.

Para isso, o bilionário resolveu usar seu perfil nas redes sociais para influir na decisão das pessoas. “Uma maneira de participar é fazer com que elas deixem de lado essa ideia de não querer votar, votar em branco, votar nulo.”

Leia a seguir trechos da entrevista:

UOL - De onde partiu a ideia da campanha?

Abilio Diniz - Eu sempre tive essa preocupação de fazer coisas pelo nosso país, de estar presente nos momentos importantes do Brasil. E agora uma maneira de participar é fazer com que as pessoas deixem de lado essa ideia de não querer votar, votar em branco, votar nulo. Quero estimulá-las a participar das eleições de uma forma ainda mais intensa, pesquisando melhor os candidatos e suas propostas.

Por que utilizar a internet e, especialmente, as redes sociais?

Hoje eu tenho um público de mais de 1 milhão de pessoas em minhas redes sociais. Costumo passar a elas mensagens sobre vida produtiva e saudável. São coisas que aprendi ao longo de décadas como empresário e entusiasta de uma vida saudável, com espiritualidade e propósito, para buscarmos a longevidade com qualidade.

Pesei os riscos de começar a falar de política nesse clima polarizado e de ódio que vem dominando as discussões públicas, mas justamente por isso acho importante trazer uma voz de ponderação e informação.

Não me interessa se a pessoa é de direita ou de esquerda ou de centro. Interessa-me dizer a ela que é importante votar de forma consciente e bem informada, independentemente de ideologias e visões de mundo. Há bons políticos em todos os campos. É só pesquisar.

Muitos milionários têm procurado deixar o país. Os problemas políticos e sociais que vivemos têm contribuído para isso?

Eu nunca pensei em sair do meu país. Pelo contrário, as dificuldades me deixam ainda mais engajado em procurar ajudar este país que amo e que pode dar muito mais a seus cidadãos.

Eleger bons representantes é parte da solução. E apoiar as empresas a criar empregos e riquezas também. Os empresários com quem falo querem investir mais, contratar mais. Precisamos de mais previsibilidade e um ambiente de negócios melhor para que isso aconteça.

A imensa maioria dos empresários não quer sair daqui. Os empresários querem ter condições para trabalhar melhor, investir mais, contratar mais, expandir seus negócios.

Em artigo publicado recentemente na Folha, o senhor escreveu que a crise da má política só se resolve com a boa política. Pode explicar esse conceito?

Temos hoje uma situação de descrença e desconfiança enorme com a política. Mas só a boa política pode resolver a má política. Não há alternativa à política, às eleições, ao sistema partidário. Qualquer coisa fora disso é autoritarismo, ditadura, e isso nós não queremos de jeito nenhum.

Por isso estou fazendo essa campanha pelo voto consciente e informado. A única solução para a má política está nas urnas, e elas estarão abertas no mês que vem para depositarmos nossa contribuição democrática para resolver a crise do país.

O senhor é a favor da facilitação do porte de armas como medida para combater a violência?

Não. Eu já fui sequestrado, até tenho porte de arma, mas acho que ter mais armas nas mãos da população só vai piorar o problema da segurança. A violência se resolve com inteligência, com polícia bem preparada e com condições para fazer bem o seu trabalho.

Tributar as grandes fortunas é um caminho para diminuir a desigualdade no país?

Isso é feito em alguns países, teria de ver como seria essa proposta específica. Mas nós só vamos diminuir significativamente a desigualdade se fizermos com que o país retome o crescimento sustentável, gerando riqueza e empregos e dando possibilidade para que as pessoas estudem mais e trabalhem melhor.

No mesmo artigo para a Folha, o senhor escreveu que a crise em que vivemos é rica em lições. Poderia compartilhar algumas delas?

A primeira lição, a mais importante, é a seguinte: nós estamos vivendo esta crise porque o Brasil achou que podia viver gastando mais do que arrecada. O grande problema começa aí.

Depois disso, há lições mais localizadas e setoriais. Se aprendermos que não podemos gastar mais do que arrecadamos, já será um enorme aprendizado com enormes consequências positivas para o Brasil.

Na sua visão, o que falta para o Brasil retomar a confiança e seguir no rumo do desenvolvimento? Em que medida as reformas tributárias, trabalhistas e da Previdência podem contribuir nesse sentido?

A Constituição de 1988 trouxe avanços, mas deu enormes nós na economia e na política brasileira. Uma reforma da Previdência, uma reforma tributária e uma reforma do Estado são fundamentais para que comecemos a desatar os nós da economia brasileira.

Um novo presidente e um novo Congresso que se proponham a fazer isso logo no começo do seu mandato darão grande confiança a todos os brasileiros e um novo ânimo para investidores e empreendedores, que voltarão a investir e a gerar riqueza neste país.