Recuo de Trump no tarifaço deixa impacto para o Brasil ainda mais incerto
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O recuo do presidente americano Donald Trump, suspendendo as tarifas recíprocas por 90 dias para "quem não retaliou", deixou o impacto da guerra comercial ainda mais incerto para o Brasil.
Pela decisão anunciada ontem, praticamente todos os países, menos a China, ficam no patamar mínimo de 10%, o mesmo do Brasil. Com isso, a eventual vantagem competitiva que o Brasil teria se o primeiro anúncio fosse mantido, com muitos países com altas tarifas e para o Brasil a tarifa mínima, perde o efeito.
Justamente pelo mar de incertezas e neste cenário de possíveis novos recuos, o governo brasileiro vinha mantendo posição de cautela e deixando claro que o desejo era seguir pelo caminho da negociação.
Apesar disso, o presidente Lula, disse a jornalistas ontem à noite em Honduras que o Brasil pode acionar a Organização Mundial do Comércio ou adotar medidas de reciprocidade. A possibilidade de o Brasil usar da reciprocidade e impor tarifas de 10% para os produtos americanos ainda era considerada remota por técnicos do governo. Primeiro porque a lei que permite a reciprocidade, aprovada na semana passada pelo Congresso, ainda não foi sancionada pelo presidente Lula. Segundo porque o governo brasileiro vinha dizendo que não irá adotar nenhuma medida antes de negociar.
No estágio que estamos hoje, o governo ainda precisa:
- Entender exatamente o que está valendo para os produtos brasileiros. Até ontem à noite, as ordens executivas oficiais com os detalhes da anunciada "trégua tarifária" ainda não haviam sido publicadas pelo governo americano e, por isso, os técnicos do MDIC (Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior) não falaram sobre o assunto.
- Negociar com o governo dos EUA. A negociação não será rápida. Segundo o próprio Trump, mais de 70 países procuraram os EUA para negociar, e o Brasil está nesse contingente. As negociações, portanto, levarão tempo.
- Se não tiver êxito na negociação, pode apelar à OMC, como verbalizou o presidente.
Impacto para o agronegócio
Responsável por quase metade do volume exportado pelo Brasil para diversos países, o agronegócio brasileiro vê riscos e oportunidades com a guerra das tarifas. O grande problema é que ninguém sabe como ficará essa equação, se favorável ou desfavorável ao Brasil.
As informações são do presidente da FPA (Frente Parlamentar do Agronegócio), deputado Pedro Lupion (PP-PR), com quem conversei ontem:
Oportunidades
- Impacto das Tarifas: Inicialmente, as análises indicam que o impacto das tarifas foi menor do que o esperado. Existe um senso de oportunidade em relação a novos mercados ou aumento de compras de produtos agropecuários brasileiros por mercados que estão retaliando os Estados Unidos.
- Oportunidades com a China: Existe ainda a oportunidade de a China, que parou de comprar de algumas empresas americanas, passar a comprar das empresas brasileiras.
- Soja: Apesar do aumento de 10% nas tarifas, produtos como a soja brasileira podem continuar competitivos devido à demanda.
- Estratégias e Negociações: O setor do agro acredita que os adidos agrícolas brasileiros e o Itamaraty têm um papel crucial nas negociações, sendo reconhecidos pela sua capacidade e que o governo brasileiro vinha adotando uma abordagem ainda mais diplomática do que em outros momentos no passado, o que é bom.
Riscos
- De queda abrupta de preços: Há uma preocupação com o mercado de commodities agrícolas, porque os preços no Brasil acompanham os preços da Bolsa de Chicago. Caso os Estados Unidos precisem vender menos, e acumulem muito estoque, os preços podem cair demais. Isso teria um impacto direto no Brasil, quebrando produtores.
- Tarifas cumulativas: Há informações conflitantes se as tarifas americanas serão ou não cumulativas. Por exemplo, o impacto no etanol pode ser significativo, se for cumulativa.
- Etanol: Além da questão da tarifa cumulativa, o setor já enfrentava desafios, com uma cota nos Estados Unidos e dificuldades nas negociações. A situação tende a piorar.
- Suco de laranja: 40% do suco de laranja brasileiro é comprado pelos Estados Unidos e há muitas empresas brasileiras atuando nos Estados Unidos, envasando o suco com laranjas americanas, isso cria um complicador. Além disso, 80% do suco de laranja que entra na Europa vem do Brasil, então não é um mercado onde poderia haver expansão.
- Excesso de dependência da China: Há uma preocupação sobre a dependência excessiva da China, dado que 52% das exportações brasileiras têm esse destino. A instabilidade nas relações comerciais mundiais pode ser um perigo a longo prazo.
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