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Ex-BC diz que agora empresário, e não só trabalhador, terá voz no Congresso

Gustavo Franco, ex-presidente do BC - Divulgação/BM&FBovespa
Gustavo Franco, ex-presidente do BC Imagem: Divulgação/BM&FBovespa

Mariana Bomfim

Do UOL, em São Paulo

01/11/2018 17h08

O ex-presidente do Banco Central Gustavo Franco afirmou nesta quinta-feira (1º) que a nova composição do Congresso Nacional em 2019 finalmente dará voz aos empresários, que, para ele, são “quem realmente produz algo nesse país”.

Em um evento em São Paulo sobre meios de pagamento, o economista disse que o Brasil tem 27 milhões de empresários, empreendedores ou trabalhadores por conta própria e que ninguém falava em nome dessas pessoas “que criam emprego”. “Os trabalhadores tinham um partido, mas os empresários, que têm uma profissão até mais nobre, não tinham”, disse. 

Com a eleição de Jair Bolsonaro para a Presidência e a renovação de parte da Câmara dos Deputados e do Senado, Franco disse que assumirão políticos liberais. Segundo ele, os interesses dos empresários serão representados, e o país passará por uma era de mudanças profundas, em vez de apenas reformas.

“Antes desse [novo] Congresso, as reformas eram ‘mudancinhas’ para ajustar algo sem saber direito para onde o governo estava indo. Agora, a ambição é muito maior porque não precisamos só de reformas, mas de quebra de paradigmas”, disse.

'Ninguém compete com Bolsonaro no antipetismo'

Presidente do BC no governo Fernando Henrique Cardoso, empresário, professor e consultor, Franco esteve no PSDB até o ano passado, quando foi para o partido Novo. A sigla concorreu nas eleições presidenciais com uma chapa encabeçada por João Amoêdo, que teve 2,5% dos votos no primeiro turno. O Novo conseguiu eleger oito deputados federais e, nas disputas estaduais, levou um dos maiores colégios eleitorais do país, o de Minas Gerais. Franco auxiliou Romeu Zema, o governador eleito, na criação do seu programa econômico.

Defensor do liberalismo, que prega a redução do tamanho do Estado, com privatizações e cortes de impostos, o partido Novo acabou ofuscado pelo PSL de Jair Bolsonaro, que elegeu 52 deputados e três governadores, além do presidente e de bancadas estaduais. Bolsonaro se filiou ao PSL em março deste ano. Apesar de ter um histórico de posições estatistas na Câmara, aderiu às ideias liberais, adotando as visões do economista Paulo Guedes, já anunciado como superministro da Economia.

Franco disse que a agenda liberal, defendida tanto pelo Novo quanto pelo PSL, ganhou uma força gigantesca ao ser impulsionada pelo antipetismo.

“Foi o antipetismo que criou esse movimento alucinado que levou ao improvável: a eleição do Bolsonaro”, disse. Segundo ele, o capitão reformado era “um deputado carismático que se tornou celebridade nas redes sociais antes da campanha” com enfrentamentos “grotescos” com colegas, como os deputados Jean Wyllys (Psol) e Maria do Rosário (PT). “Ele foi a um território onde ninguém mais foi e chegou a elogiar o [coronel Carlos Alberto Brilhante] Ustra. Ninguém conseguia competir com ele no antipetismo”, disse.

O sentimento contrário ao PT é tão intenso que, segundo Franco, deve guiar as posições dos estreantes no Congresso a partir do ano que vem. “Eu conversei com vários deputados eleitos, e há a impressão de que eles não sabem muito bem como votar em algumas questões. Mas sabem como o PT votava, então vão votar o contrário.”

Paulo Guedes ministro de Dilma?

Franco disse que é amigo de Paulo Guedes há muitos anos. Ele conta que o futuro ministro da Economia diz ter sido convidado pela ex-presidente Dilma Rousseff para assumir o ministério da Fazenda, substituindo Joaquim Levy, em 2015. Guedes teria considerado aceitar o convite por entender que “era melhor que ele estivesse lá do que outra pessoa, como um petista”. No final, teria declinado o convite.

Para o ex-presidente do BC, a suposta ponderação de Guedes teria a mesma base que a aceitação de Mário Henrique Simonsen do convite para ser ministro da Fazenda na ditadura militar, no governo Geisel, e à de Hjalmar Schacht, ministro da Economia alemão no regime nazista, na década de 1930. 

Franco disse ainda que é verdade que tanto Bolsonaro quanto Guedes têm “pavio curto”, mas “eles têm experiência e sabem que precisam um do outro”.