Qualificação de mão de obra pode ser cartada de Onyx na disputa com Guedes
O futuro ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni (DEM-RS), estuda criar um programa integrado entre as áreas de trabalho, educação e desenvolvimento social para estimular a qualificação profissional, sobretudo para as famílias de baixa renda.
O programa, avaliam assessores do presidente eleito, Jair Bolsonaro, teria potencial para fortalecer uma agenda positiva diante da necessidade de aprovar reformas impopulares, como a da Previdência.
Além disso, Onyx se fortaleceria politicamente, em um governo que já tem como estrela o futuro ministro da Economia, Paulo Guedes. Os dois já se estranharam quando Guedes desautorizou Onyx a falar sobre a reforma da Previdência.
Fora de sintonia
Segundo apurou o UOL, a ideia seria integrar ações para que, ao solicitar o seguro-desemprego ou o Bolsa Família, o cidadão fosse encaminhado para um curso profissionalizante e tivesse melhores condições de se recolocar no mercado de trabalho.
As análises preliminares da equipe de transição teriam mostrado que não há nenhuma sintonia entre o Ministério do Trabalho, gestor do seguro-desemprego, o Ministério da Educação, responsável pela formação educacional e profissional, e o Ministério do Desenvolvimento Social, que administra o Bolsa Família.
A medida não teria custos relevantes aos cofres públicos porque os programas já funcionam separadamente. O desafio, segundo técnicos da transição, seria articular o trabalho das três áreas.
Qualificar a mão de obra
Atualmente, o trabalhador que pede o seguro-desemprego é obrigado a frequentar um dos cursos gratuitos do Pronatec (Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego). Entretanto, muitos reclamam que as aulas são básicas e não requalificam os profissionais.
Do outro lado, empresários também costumam se queixar de que, apesar de haver uma grande oferta de mão de obra, o nível de qualificação dos profissionais é baixo.
Com o programa cogitado por Onyx, a intenção do novo governo seria oferecer cursos de melhor qualidade para preparar os desempregados para o mercado, avaliam assessores da transição. No caso dos beneficiários do Bolsa Família, a ideia é que eles consigam uma ocupação com salário melhor e deixem de receber o benefício.
Assessores de Bolsonaro dizem que a gestão do presidente eleito deve gerar 10 milhões de empregos em quatro anos, a maioria (6 milhões) nos dois primeiros anos. Para atingir esse número, Bolsonaro diz que pretende reduzir a burocracia e ajudar empresários a contratar. Além disso, conta com a recuperação da economia, que pode crescer até 3,5% em 2019, segundo Guedes.
Geração 'nem-nem' e violência
A ideia de Onyx teve como base a leitura de um artigo escrito pelo diretor de Articulação e Inovação do Instituto Ayrton Senna, Mozart Ramos, publicado em 1º de novembro no jornal "Correio Braziliense". Ele esteve em Brasília na tarde da última quinta-feira (8), a convite do futuro ministro.
Segundo o artigo de Ramos, o país tem 1 milhão de jovens entre 15 e 17 anos que deveriam estar no ensino médio, mas que não estudam nem trabalham --a chamada "geração nem-nem". Quando a faixa etária é ampliada para 15 a 29 anos, são 11 milhões de jovens nessa condição, o que equivale a três vezes a população do Uruguai.
Ainda em relação ao desemprego, 4,8 milhões desistiram de procurar uma vaga e falta trabalho para 27,6 milhões de pessoas, de acordo com dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) apresentados por Ramos. Segundo ele, "o resultado de tudo isso tem sido, entre outras coisas, a explosão da violência em todo o país".
Na reunião com o futuro ministro da Casa Civil, Ramos teria dito que os homicídios no Brasil equivalem à queda de um Boeing 737 lotado diariamente e atingem principalmente homens jovens --do total de mortes violentas, 56,5% vitimam adolescentes homens entre 15 e 19 anos.
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