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Futuro chefe da Petrobras já disse que privatização da empresa é "urgente"

Roberto Castello Branco - Reinaldo Canato/Folhapress
Roberto Castello Branco Imagem: Reinaldo Canato/Folhapress

Leandro Prazeres

Do UOL, em Brasília

19/11/2018 14h05

Um defensor da privatização convicto no comando da maior estatal brasileira. Este é o cenário criado pela indicação do economista Roberto Cunha Castello Branco para chefiar a Petrobras, confirmada nesta segunda-feira (19) pela equipe do presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL).

Castello Branco, que já defendeu publicamente a privatização da estatal diversas vezes, vai compor a equipe de um governo que, por outro lado, diz ser contra a venda da companhia.

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O economista é amigo pessoal do futuro ministro da Economia, Paulo Guedes, a quem Bolsonaro diz ter delegado as decisões relativas à economia. 

Doutor em Economia pela FGV (Fundação Getulio Vargas), Castello Branco obteve pós-doutorado na Universidade de Chicago, onde Guedes também estudou. A universidade é considerada um dos baluartes do pensamento econômico liberal, marcado pela ênfase na redução do tamanho do Estado, o que inclui a privatização de empresas estatais.

Foco na "privatização de grandes estatais"

O viés liberal de Castello Branco e sua defesa de uma agenda de privatizações são notórios. Em novembro de 2017, por exemplo, o economista defendeu a venda de grandes estatais, como Petrobras e Correios.

“A privatização [...] deve ter três prioridades: foco nas grandes estatais, como Petrobras e Correios, em instituições financeiras e o emprego de ofertas públicas de ações para a venda de empresas, em lugar de leilões do controle acionário para grupos de investidores, modelo adotado nos anos 90”, disse o economista em artigo publicado no jornal "Valor Econômico".

Em artigo mais recente, publicado no jornal "Folha de S. Paulo" durante a greve dos caminhoneiros deste ano, Castello Branco foi ainda mais enfático. O título do texto era "É urgente a necessidade de se privatizar não só a Petrobras, mas outras estatais". 

“No caso do diesel, embora seguindo o mercado global, é o comitê de uma única empresa, uma estatal dona de 99% do refino, quem anuncia os preços. Essa é mais uma razão para privatizar a Petrobras”, afirma.

Bolsonaro já disse ser contra venda total da empresa

A defesa da privatização da companhia contrasta com declarações feitas pelo presidente eleito, Jair Bolsonaro. Em outubro, quando ainda era candidato à Presidência, Bolsonaro disse ser contra a privatização total da Petrobras.

“[Vamos] privatizar alguma coisa, não é tudo. Vamos preservar aqui o setor elétrico, Furnas, Banco do Brasil e Caixa Econômica [...]. A Petrobras, eu acho que tem que ser preservada o miolo dela. A questão de refinaria, refino, acho que você pode partir, paulatinamente, para privatizações”, afirmou. 

Também em outubro, Bolsonaro voltou a dizer que estatais consideradas “estratégicas” não seriam privatizadas, o que incluiria a Petrobras. 

Por outro lado, seu futuro ministro e avalista da indicação de Castello Branco, Paulo Guedes, já defendeu a privatização de todas as estatais. 

Influência de militares

A balança na qual Castello Branco terá de se equilibrar ainda tem outro fator importante: o peso que generais próximos a Bolsonaro terão em seu governo

Historicamente, os militares brasileiros adotam uma postura nacionalista em relação à Petrobras. Há dúvidas, no entanto, sobre como seria a atuação deles neste novo momento.

Atualmente, a Petrobras é maior estatal brasileira em valor de mercado, calculado ao multiplicar o valor de cada ação pelo total de papéis disponíveis no mercado. Em 16 de novembro, o valor de mercado da petroleira na B3 (antiga Bovespa) superava os R$ 353 bilhões, segundo a empresa de informações financeiras Economatica. 

Nome forte no mundo empresarial

Para além da sua carreira como acadêmico liberal, Castello Branco é um executivo com passagem por grandes empresas.

Ele já compôs o conselho administrativo da Petrobras em 2015, por indicação da então presidente da República Dilma Rousseff (PT). Ficou no cargo até 2016.

Além disso, foi executivo da Vale por quase 15 anos.

Atualmente, ele é diretor do Centro de Estudos em Crescimento e Desenvolvimento Econômico da FGV, e membro do conselho de administração da Invepar, uma das maiores concessionárias do setor de transporte e logística do país.