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País perdeu força para crescer, e nova Previdência não basta, diz professor

Vladimir Goitia

Colaboração para o UOL, em São Paulo

15/06/2019 04h00

Resumo da notícia

  • O Brasil perdeu a capacidade de crescer desde o último trimestre de 2014 e, até agora, não houve nenhuma expansão sustentável
  • Para se recuperar, o país teria de tomar várias medidas e mesmo assim demoraria um ano pelo menos para conseguir crescer 1% ou 2%.
  • Só a reforma da Previdência não basta para recuperar o país, avalia Antonio Corrêa de Lacerda, professor de Economia da PUC-SP
  • Lacerda prevê crescimento do PIB neste ano de no máximo 0,5%. Consultoria Austing Rating não descarta esse mesmo número
  • Consultoria Tendências afirma que a economia frustrou todas as expectativas possíveis

O Brasil perdeu a capacidade de crescer desde o último trimestre de 2014 e, até agora, não houve nenhuma expansão sustentável. Entre 2015 e 2016 o PIB (Produto Interno Bruto) acumulou encolhimento de 6,9%, e 2017 e 2018 a economia cresceu apenas 1,1% ao ano.

Para se recuperar, o país teria de tomar várias medidas e mesmo assim demoraria um ano pelo menos para conseguir crescer 1% ou 2%. Só a reforma da Previdência não bastaria para isso. A avaliação é de Antonio Corrêa de Lacerda, professor e diretor da Faculdade de Economia da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo).

São estas as medidas que ele considera necessárias para o Brasil recuperar a capacidade de crescer:

  • Ampliar o investimento público
  • Melhorar a oferta de crédito e financiamento
  • Estimular setores geradores de emprego e renda, como construção civil e indústria de transformação

Não acredito na fada da confiança. Trata-se de superestimar o efeito da reforma da Previdência
Antonio Corrêa de Lacerda

Segundo ele, é exagerada a esperança do governo na força da reforma para dar confiança aos agentes econômicos (investidores, empresários, entes públicos e consumidores, entre outros).

Após medidas, país demoraria 1 ano para crescer 1%

"Caso as medidas que cito, as quais infelizmente não fazem parte da agenda da equipe econômica do governo, venham a ser adotadas no segundo semestre, o resultado seria residual. Isto é, como o primeiro semestre já considero perdido, acredito que haveria uma ligeira reação no segundo semestre e, com isso, o PIB em 2019 cresceria não mais do que 0,5%"

O problema é que a agenda econômica do governo é um samba de uma nota só: a da reforma da Previdência
Antonio Corrêa de Lacerda

"Acredito que um resultado mais expressivo, se essas medidas fossem implementadas ainda neste ano, seria alcançado apenas em 2020, com um crescimento econômico entre 1% e 2%", afirmou.

PIB deve crescer no máximo 0,5% neste ano

Lacerda prevê um crescimento da economia neste ano de no máximo 0,5%. Para o professor da PUC-SP, o PIB do segundo trimestre também tende a ficar negativo ou no máximo próximo de zero.

Qualquer crescimento para a economia do Brasil neste ano dependerá do desempenho do segundo semestre, que, na minha opinião, tem mais a ver com o ambiente econômico do que com a aprovação da reforma da Previdência
Antonio Corrêa de Lacerda

Desemprego tem de ser enfrentado logo

Além da necessidade de políticas de desenvolvimento, Lacerda cita alguns problemas que precisam ser urgentemente enfrentados, como o alto desemprego e o temor de ficar desempregado.

Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o desemprego atinge 13,2 milhões de pessoas. Entretanto, em um conceito mais amplo, considerando o total das pessoas desalentadas e subutilizadas, esse universo é de 28,4 milhões de pessoas.

Quem tem emprego está com o freio de mão puxado porque as contas da escola, do condomínio, de plano de saúde aumentaram. Não sobra para consumir o que não é absolutamente necessário
Antonio Corrêa de Lacerda

Juros altos são outro problema

Além disso, o professor cita a escassez de crédito, que já é caro, tanto para as empresas como para o consumidor. Lacerda disse que embora haja espaço para o Banco Central reduzir a Selic (taxa básica de juros, hoje em 6,5% ao ano), o problema não é esse, mas a taxa de juros final para o consumidor.

"Ou seja, o espaço para o crescimento da economia é limitado. Qualquer medida que venha a ser tomada depois de aprovada a reforma da Previdência leva ainda um tempo para começar a surtir um efeito", afirmou o professor. "Pressupondo que ocorra isso, o efeito só será visto no quarto trimestre."

Consultoria otimista agora vê PIB pequeno

A Austin Rating, uma das consultorias que ficou mais otimista com a indicação da equipe econômica feita por Jair Bolsonaro logo depois das eleições do ano passado e com a renovação do Congresso, baixou as estimativas para o PIB de 3% feitas em outubro para 1,9% num primeiro momento. Mas, agora, as cortou para 1%, e com tendência de baixa.

No momento, estamos mantendo uma perspectiva de crescimento de 1% para o PIB este ano, mas com a condicionante de acreditar num segundo semestre salvador, que, em parte, viria com a aprovação da reforma da Previdência
Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating

Para ele, a reforma previdenciária aprovada permitiria a retomada de confiança dos agentes econômicos. Mas, segundo Agostini, isso teria de ocorrer no máximo até o final de julho, caso contrário não dará tempo para fazer a economia reagir.

Essa reação poderia salvar o crescimento de 2019, mas os números preliminares sobre a economia, como essa queda do PIB no primeiro trimestre, por exemplo, não nos permite descartar um crescimento de apenas 0,5% neste ano
Alex Agostini

Economia frustrou todas as expectativas

A Tendências é outra consultoria que manteve até o final de abril sua projeção de crescimento de 2% para o PIB este ano, mas agora a revisou para 0,9%.

Desde o fim do primeiro turno das eleições no ano passado, mantivemos a cautela de projetar uma expansão de 2% para o PIB. Mas não há mais como continuar carregando isso
Thiago Xavier, economista da consultoria Tendências

Para ele, a economia não engatou e frustrou todas as expectativas possíveis. Ele identifica problemas estruturais e conjunturais.

Fatores estruturais:

  • Dívidas de estados e municípios
  • Contas fiscais do governo federal
  • Amarras jurídicas (impedindo, por exemplo, privatizações)
  • Regra de ouro (mecanismo que proíbe o governo de fazer dívidas para pagar despesas como salários, benefícios de aposentadoria)
  • Falta de apoio às principais atividades econômicas, como construção civil

Fatores conjunturais:

  • Economia do mundo deve crescer menos
  • Transações comerciais afetadas por essa desaceleração da economia global
  • Crise econômica da Argentina (terceiro maior parceiro comercial do país)

Empresários estão menos confiantes no governo

A lua de mel dos empresários com o governo acabou
Thiago Xavier

Ele se refere à forte queda nos índices de confiança empresarial (ICE) levantadas pela FGV (Fundação Getulio Vargas), que em maio caiu dois pontos, para 91,2 pontos, o menor desde julho de 2018 (90,7 pontos).

O indicador é calculado com base em entrevistas com empresários dos setores da indústria, serviços, comércio e construção. Segundo a FGV, a confiança empresarial acumula queda de 6,9 pontos desde janeiro (98,1 pontos).

Sobre a importância das reformas, como da Previdência e tributária, ele disse que são essenciais, mas insuficientes para que a economia cresça de forma sustentável.

Segundo ele, se o dólar continuar a subir, isso certamente gerará inflação, e o Banco Central vai subir os juros, o que gera mais mal-estar e pessimismo.

Quem investiria nesse contexto?
Thiago Xavier

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