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Para quitar dívida, Grupo Bitcoin Banco oferece motos e relógios de luxo

Relógio de luxo oferecido na plataforma Get4Bit pelo Grupo Bitcoin Banco - Reprodução
Relógio de luxo oferecido na plataforma Get4Bit pelo Grupo Bitcoin Banco Imagem: Reprodução

Lucas Gabriel Marins

Colaboração para o UOL, em Curitiba

25/08/2019 04h00

Resumo da notícia

  • Grupo Bitcoin Banco, de Curitiba, oferece produtos a clientes que não conseguiram fazer saques em suas contas
  • Muitos desses produtos, segundo relatos de investidores em grupos do aplicativo Telegram, não são entregues dentro do prazo estabelecido (30 dias)
  • Empresa alega que todos os pedidos são entregues em tempo hábil, mas que casos isolados precisam ser analisados individualmente
  • Procon-PR diz que, em caso do não cumprimento do prazo, cliente pode entrar na Justiça

Uma das estratégias do Grupo Bitcoin Banco, de Curitiba (PR), para quitar parte da dívida milionária com clientes é oferecer produtos no Get4Bit, plataforma da empresa que possibilita a troca de criptomoedas por produtos. O problema, segundo investidores, é que muitos deles não são entregues, e os preços estão acima dos cobrados por grandes lojas de varejo.

O site é direcionado apenas para quem é cliente do grupo. Basta entrar na plataforma, colocar CPF, escolher algum objeto e adicioná-lo ao carrinho de compras, como em um e-commerce tradicional. Só que, em vez de dinheiro, é descontada uma quantia em criptomoedas.

Há relógios de luxo por R$ 49,1 mil, smartphones e notebooks, motos da marca Harley-Davidson com modelos que custam mais de R$ 100 mil e já teve até um carro McLaren por R$ 2,6 milhões, que não está mais no site. Segundo a empresa, o veículo foi colocado na plataforma com o objetivo de verificar o interesse, mas, como ninguém o comprou, foi retirado.

Moto da marca Harley Davidson disponibilizada no site Get4Bit, criado pelo Grupo Bitcoin Banco, em Curitiba  - Reprodução - Reprodução
Moto da marca Harley Davidson disponibilizada no site Get4Bit, criado pelo Grupo Bitcoin Banco, em Curitiba
Imagem: Reprodução

Clientes reclamam que produtos não são entregues

A cada 15 dias, segundo clientes, parte dos produtos da plataforma é liberada para compra. Os avisos são feitos em grupos de mensagem no Telegram. O prazo de entrega é de 30 dias. Mas há dezenas de pessoas nesses chats que alegam não ter recebido.

"Comprei um Mac mini [computador da Apple] por quase R$ 9.000 faz mais de um mês, mas até agora nada", disse um investidor, que preferiu não se identificar. "Também comprei um MacBook por R$ 6.000 faz mais de um mês, e não recebi até agora", falou outro, que também preferiu não ter o nome revelado.

Além da possível falha no envio dos produtos, os preços sugeridos na plataforma também seriam mais caros do que em lojas do varejo. O iPhone 8 64 gb da empresa, por exemplo, custa R$ 4.844,66, enquanto no Magazine Luiza sai por R$ 2.999 --uma diferença de 60%.

Grupo Bitcoin nega atraso sistemático

O Grupo Bitcoin Banco disse, por meio de nota, que nenhuma entrega encontra-se em atraso e que casos isolados, como os citados na reportagem, precisariam ser analisados diretamente com os fornecedores.

O grupo informou ainda que já foram realizadas 1.814 trocas e que a Get4bit atua como intermediária de fornecedores, que são os responsáveis pela logística de entrega.

Sobre os preços, a empresa informou que grandes variações de preço são comuns no varejo e que a plataforma é única e exclusivamente para realizar a troca de produtos por criptomoedas. "Toda e qualquer referência a valores em moeda fiduciária é mera estimativa do valor do produto no mercado para a realização da troca."

Procon-PR diz que é preciso cumprir promessa

Para Cláudia Silvano, diretora-geral do Departamento Estadual de Proteção e Defesa do Consumidor (Procon-PR), não é ilegal oferecer produtos caso não haja recursos financeiros para sanar dívidas. "Se eu tenho que pagar alguém, não tenho dinheiro, ofereço produtos e a pessoa aceita, é válido."

O problema começa, disse Cláudia, quando a outra parte não honra com a promessa. "Nesse caso, a única alternativa para o consumidor é judicializar a questão. Tem que pedir desconsideração da personalidade jurídica [quando proprietários assumem dívidas da empresa] e ir atrás dos bens", afirmou.

Sobre preços mais altos do que os do mercado, Cláudia declarou que há indícios de prática abusiva, mas o preço é livre. "O cliente, portanto, tem que avaliar se vale a pena ou não ficar com o produto. No caso específico do Bitcoin Banco, que é uma situação atípica, a pessoa pode entrar na Justiça, caso se sinta lesada."

Crise no grupo começou em maio

O Grupo Bitcoin Branco e seu proprietário, Claudio Oliveira, respondem a mais de cem processos na Justiça e têm uma dívida milionária com clientes que não conseguem fazer saques em suas contas desde maio deste ano. Na semana passada, o empresário teve os bens bloqueados pela Justiça do Paraná, e Oliveira teve o passaporte retido.

O grupo informou, via nota, que a ida de oficiais de Justiça às residências de Oliveira é apenas para averiguação de bens existentes e que a ação faz parte de um mesmo processo movido por um escritório de Curitiba. O grupo esclareceu ainda que a medida relacionada ao bloqueio e apreensão do passaporte de seu proprietário foi revogada, pois o próprio autor pediu a extinção/encerramento do processo.

O grupo também informou que começou a realizar na quarta-feira (21) o pagamento da primeira parcela de compensação a 215 clientes (são 700 no total, segundo a empresa).

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