Analistas: Aumento do petróleo é bom para o pré-sal, mas encarece gasolina
Resumo da notícia
- Ataque a petroleira da Arábia Saudita fez o preço do petróleo disparar no mercado internacional
- Especialistas dizem que, quanto mais tempo a cotação permanecer em alta, maior será a pressão para que a Petrobras suba o preço dos combustíveis
- Se a Petrobras repassar o aumento às refinarias, em poucos dias a gasolina e o diesel devem ficar mais caros nas bombas
- Por outro lado, a ANP diz que o aumento é positivo para o pré-sal, na medida em que também valoriza o petróleo brasileiro
- Mesmo que a produção da Arábia Saudita se restabeleça, o mercado deve continuar pressionado por causa das tensões no Oriente Médio
- Entidade que representa os importadores de petróleo defende que o Brasil crie um fundo para amortecer o aumento de preços
Se a Petrobras repassar às refinarias o aumento no preço do petróleo, como esperado, em poucos dias a gasolina e o diesel devem ficar mais caros nas bombas, segundo especialistas ouvidos pelo UOL.
A perspectiva pode ser negativa para o consumidor, mas é positiva para o pré-sal, na medida em que aumento da cotação da matéria-prima valoriza também o petróleo brasileiro, de acordo com Décio Oddone, diretor-geral da ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis).
O mercado internacional viu o preço do barril de petróleo subir quase 20% nesta segunda-feira (16), depois de um ataque terrorista às instalações de uma das maiores petroleiras do mundo, a Saudi Aramco, da Arábia Saudita, no fim de semana. O ataque reduziu pela metade a produção do país, o maior exportador global de petróleo.
O mercado de combustíveis aguarda para saber qual será a reação da Petrobras. Se a cotação do petróleo continuar em alta, a Petrobras ficará pressionada a repassar o preço à cadeia de combustíveis, o que teria reflexo quase imediato nas bombas.
Um eventual aumento no diesel teria impacto no bolso dos caminhoneiros, categoria com forte potencial para pressionar a estatal e o governo com a ameaça de uma greve como a do ano passado, afirmou Sérgio Araújo, presidente da Abicom (Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis). Uma nova paralisação seria "muito ruim para o país, como um todo", disse.
Na manhã desta segunda-feira (16), a Petrobras disse que não vai se manifestar sobre o assunto.
Instabilidade no mercado deve continuar
Mesmo que a Arábia Saudita restabeleça rapidamente a produção, Oddone afirmou que o ataque vai afetar os preços porque a percepção de risco no mercado aumentou.
É a mesma opinião de Maurício Canêdo, professor da FGV (Fundação Getúlio Vargas). Para ele, a variação do petróleo vai depender de quão grave serão os reflexos do ataque sobre a oferta mundial da matéria-prima. Mas, mesmo que a indústria saudita consiga se recuperar, o risco de novos ataques no Oriente Médio gera uma incerteza que também reflete na cotação do petróleo.
Segundo Canêdo, a expectativa é que a Petrobras repasse o aumento e que os preços mais caros cheguem aos postos em aproximadamente uma semana.
O reajuste deve desagradar aos motoristas, mas Oddone avalia que o lado positivo é que a disparada do petróleo "valoriza o pré-sal e os demais ativos brasileiros".
Dólar também pode pressionar preço do combustível
Outro efeito nos preços pode vir do mercado de dólar. Fernando Sarti, da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), disse que o ataque terrorista agravou a situação do Oriente Médio, que já é "um bolsão de instabilidade".
Essa nova crise geopolítica pode ser mais um fator para aumentar não só a cotação do petróleo como também a do dólar, que já vinha se valorizando em razão da guerra comercial entre EUA e China e do medo de uma recessão global.
A alta do dólar também afeta o petróleo porque a commodity é cotada na moeda norte-americana, o que coloca ainda mais pressão sobre a Petrobras. "Vai ser um efeito adicional sobre o preço doméstico do diesel e da gasolina", afirmou.
Sarti disse que o aumento dos preços pela Petrobras pode afetar o consumidor já no dia seguinte. Segundo ele, estudos de mercado indicam que aumento de preço na refinaria costuma chegar mais rápido ao varejo do que a queda de preço.
Fundo para amortecer aumentos
Para Araújo, da Abicom (Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis), basta a cotação internacional continuar em alta por alguns dias para que a Petrobras não tenha outra alternativa, a não ser subir o preço da gasolina e do diesel.
Se não subi-los e resolver assumir o prejuízo, afirmou, a estatal encontrará dificuldades em vender parte das suas refinarias, como pretendido pelo seu plano de desinvestimentos.
O representante da Abicom disse que a entidade sugeriu ao governo a criação de um fundo de estabilização de preço dos derivados do petróleo, com o objetivo de suavizar os impactos gerados por situações como a que o mercado enfrenta agora.
O fundo seria alimentado pelas receitas de royalties do petróleo, que, portanto, cresceriam na mesma proporção do aumento na cotação do petróleo. "Se [o fundo] tivesse sido implantado, hoje a gente não teria nenhum problema", disse. "Mas [a ideia] não prosperou."
Após o ataque, no sábado, o presidente dos EUA, Donald Trump aprovou a liberação de reservas estratégicas de petróleo, em volume ainda não definido, com um objetivo semelhante, de controlar a alta de preços.
Araújo disse que o Brasil não tem nenhum mecanismo eficiente para evitar que variações internacionais recaiam imediatamente sobre o consumidor final de combustíveis.
Política de preços da Petrobras repassa aumentos
O petróleo é uma commodity (matéria-prima) cujos preços são definidos no mercado internacional, em dólar. Desde 2017, a Petrobras emprega uma política de preços que transfere a variação da cotação internacional aos preços da gasolina e do diesel que saem das refinarias.
É diferente da política de preços dos governos petistas, quando a estatal represava o reajuste para conter a aceleração da inflação.
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