Dia dos Namorados terá jantar em motel, drink engarrafado e comida pronta
O Dia dos Namorados é uma das datas que mais movimentam o setor de serviços, com casais buscando restaurantes, bares e motéis para comemorar. Neste ano, com as restrições impostas pela pandemia de coronavírus, o impacto econômico será sentido de formas diferentes, de acordo com as entidades representativas do setor.
Restaurantes e bares preveem grande número de pedidos por delivery e pensam em formas de atrair clientes, como drinks engarrafados, lives musicais e kits para casais cozinharem em casa.
Motéis acreditam que haverá aumento no tempo de permanência e mais consumo de comidas e bebidas na quarentena, já que restaurantes e bares estão fechados. Os casais acabarão jantando nos motéis. Eles estão abertos na maioria dos lugares por serem considerados serviços essenciais, junto com hotéis.
Restaurantes dependem do delivery
Em bares e restaurantes, o Dia dos Namorados fica atrás apenas do Dia das Mães entre as celebrações que mais aquecem o setor, de acordo com a Abrasel (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes).
Diante das restrições de circulação e abertura desses estabelecimentos em diversas cidades do país, o delivery tem sido o único recurso de vendas para diversos estabelecimentos —e é mais uma vez a aposta.
Carla Puttini, analista de insights para o segmento de Serviços do Google Brasil, afirma que é possível esperar um aumento significativo na procura por delivery neste ano, com base em buscas online, não apenas por causa da pandemia, mas também porque a comemoração cai em uma sexta-feira.
Falta gente para trabalhar
Mesmo assim, a experiência recente com o Dia das Mães, quando o país já enfrentava a pandemia, diminui as expectativas do setor.
Paulo Solmucci, presidente da Abrasel, afirma que, apesar da alta demanda na data, os estabelecimentos enfrentam o problema do gargalo da logística, por causa do número limitado de entregadores de moto disponíveis e menos funcionários nos restaurantes, porque muitos foram demitidos ou tiveram o contrato suspenso.
"A gente está atendendo uma demanda de 10%, 15%, quando muito 20% do faturamento normal. Um dia desses (comemorativo) pode ter uma demanda que chega a 100% em relação ao normal. A demanda vem, mas a logística não existe", afirma Solmucci.
"Um problema muito grave é a questão dos empregos, porque fizemos demissões e suspendemos vários contratos de trabalho usando a Medida Provisória 936. Você não pode chamar esses funcionários por um dia só."
Mesmo em locais onde a abertura de restaurantes e bares está liberada, o faturamento deverá ser limitado em comparação com anos anteriores por causa das regras de distanciamento entre as mesas e limite menor do número de pessoas no local, de acordo com Solmucci.
Comida pré-pronta para casais finalizarem
Onde a restrição aos estabelecimentos comerciais ainda é grande, como em São Paulo, os empresários estão buscando alternativas para atrair clientes, oferecendo opções diferentes para os namorados comemorarem a ocasião.
O Apple Wood Steaks & Bar, por exemplo, vende kits pré-preparados em embalagens individuais "para que os casais finalizem a receita em casa".
"Uma boa pedida para aqueles que estão se aventurando na cozinha", afirma o restaurante. Ele diz que não precisa de experiência para o preparo e o chef Gerson Higuchi, responsável pelo prato, fez um vídeo explicativo que pode ser acessado via QR code.
Também com o salão fechado por causa das medidas de restrição na capital paulista, o Drosophyla Bar não está entregando apenas comidas, mas drinks também, que vão engarrafados.
Seguindo a moda das lives musicais da pandemia, na sexta-feira o bar vai transmitir um show online com a possibilidade de dedicatórias aos clientes.
Motel em vez de restaurante
A restrição ao funcionamento dos motéis também varia bastante de acordo com a região e cidade. Na capital paulista, por exemplo, seguem abertos.
Nos locais em que estão funcionando normalmente, a ABMotéis (Associação Brasileira de Motéis) acredita que o movimento não deve ser muito impactado pelo cenário atual.
A semana dos namorados é o período de maior movimento no setor e a associação diz que "a perspectiva é que haja um aumento orgânico da procura dos casais por motéis nesse período", mas sem detalhar números.
A ABMotéis afirma que a maioria do público que frequenta assiduamente motéis é formada por casais em relacionamento estável, "diferentemente do que muitos pensam".
A ideia é que esses casais não estão distantes durante a quarentena e se sentem mais seguros para frequentar motéis, diferentemente de solteiros, que podem ficar reticentes e evitar o contato do primeiro encontro com um desconhecido.
A associação também diz que o setor está percebendo mudanças no comportamento dos hóspedes durante a pandemia. Eles estão optando por períodos maiores, como diárias e pernoites, o que também provoca um aumento proporcional no consumo de alimentos e bebidas.
Para a ABMotéis, isso é consequência do "ambiente privativo" e de pouco contato entre clientes e funcionários dos motéis, além das restrições a restaurantes e outros locais de lazer para casais durante a quarentena.
"(O) aumento no período de permanência das pessoas no motel também tem provocado outra mudança no comportamento dos clientes. O setor vem apresentando um aumento proporcional no consumo de alimentos e bebidas durante a estadia. Fator esse que corrobora com a ideia das pessoas substituindo locais públicos —e que apresentam maior risco de contaminação - pelos motéis e seus ambientes privativos para jantar", afirma em nota.
Data "está perdida" para venda de roupas
No comércio, o Dia dos Namorados é tradicionalmente menos movimentado, se comparado com outras datas, de acordo com Altamiro Carvalho, assessor econômico da FecomercioSP.
Ele diz que os casais costumam gastar mais com serviços, como bares, restaurantes e motéis, e menos na troca de presentes.
Além disso, a data é importante apenas para o varejo de roupas, ao contrário do Dia das Mães, por exemplo, que tem vendas significativas em outras áreas também, como de supermercado e eletrodomésticos. "Para o segmento de vestuário, o Dia dos Namorados é importantíssimo", afirma.
Com a pandemia neste ano, porém, a data "está perdida" no estado de São Paulo, segundo o assessor econômico.
A FecomercioSP prevê queda de 20% no varejo total em junho em São Paulo, fechando o semestre com uma queda de 11%, em comparação ao ano passado.
No setor de vestuário, tecidos e calçados a expectativa é cair 44% em junho em relação a 2019, de acordo com a FecomercioSP. Por volta de 30% a 35% do faturamento do mês se dá por causa do Dia dos Namorados, afirma Carvalho.
Ele afirma que as empresas, a maior parte de pequeno e médio porte, estão com os estoques inadequados, porque tiveram de fechar repentinamente no início da pandemia e ainda estavam com a linha primavera-verão, sendo que agora estão reabrindo próximo ao inverno sem tempo para ajustar o estoque.
Elas também não tiveram tempo de se preparar para a data, porque o anúncio da reabertura foi muito próximo ao Dia dos Namorados.
"O comércio varejista de vestuário não teve tempo de se preparar para essa reabertura. Então é uma data que foi completamente perdida e o impacto foi muito concentrado e muito intenso", afirma Altamiro Carvalho.
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