Com tarifas, Trump quer baixar dólar e reduzir dívida, dizem analistas
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Dentre os objetivos do presidente americano Donald Trump com a guerra comercial dos últimos dias está a desvalorização do dólar para aumentar as exportações dos Estados Unidos e a redução da dívida do país, segundo especialistas ouvidos pelo UOL.
Entenda
Objetivo de Trump é reindustrializar o país e para isso ele precisa desvalorizar o dólar. A meta do presidente americano é fazer essa desvalorização sem que a moeda americana deixe de ser usada em reservas internacionais. "Ele quer desvalorizar o dólar obrigando os outros países a valorizar suas moedas e está usando a tarifa como fonte de negociação", diz Paulo Ferracioli, professor de Geopolítica e Negócios Internacionais da FGV.
Estratégia também passa por reduzir a dívida dos Estados Unidos. Para Ferracioli, outro ponto que deve entrar nas negociações são os títulos do Tesouro americano. "A dívida americana é altíssima. Ele vai querer que os países troquem seus títulos do Tesouro com vencimento em 20 anos por outros com vencimento em 100 anos a taxa de juros menores ou até igual a zero", diz.
Com desvalorização do dólar, Trump quer aumentar exportações e reduzir impostos. Segundo Leonardo Trevisan, professor de relações internacionais da ESPM, com a desvalorização do dólar, Trump pretende ainda conseguir recursos para cortar impostos no país "Essa é a essência dessa política", diz.
Método já foi usado na década de 1980. Ferracioli, da FGV, afirma que em 1988, no governo de Ronald Reagan, os Estados Unidos também pressionaram Japão e Alemanha a valorizarem suas moedas.
Foco na China
Meta sempre foi abrir fogo comercial contra a China. Para Juliana Inhasz, coordenadora do curso de Economia do Insper, o foco da atuação de Trump sempre foi a China. O restante dos países era cortina de fumaça. "O que ele fez foi camuflar num pacote de tarifas para todos o objetivo principal dele que era atingir a China e eventualmente os aliados ao redor. Os outros países foram cortina de fumaça", diz.
Trump quer desacelerar o avanço chinês. Um dos focos da guerra comercial é isolar os Estados Unidos na dianteira da economia mundial e segurar o avanço chinês, diz Inhasz. "A economia americana é sólida, e economias assim não crescem tanto. Então a lógica é: se eu não consigo andar mais rápido, vou frear o crescimento de quem está subindo", diz.
Trump usa a mesma estratégia da China ao buscar desvalorização do dólar. "A China faz uma desvalorização competitiva da sua moeda. Joga o yuan muito para baixo e o efeito prático é um preço muito menor para os outros países. Desvalorizar o dólar é usar usar as armas que a China usa para posicionar melhor o produto americano no mercado", diz Inhasz.
Reservas da China em dólar podem ser usadas em negociação. "A China tem bastante reserva em dólar, que pode ser usada para negociar com os Estados Unidos. O yuan tem condições de segurar uma pequena valorização. Esse pode ser um instrumento de negociação", afirma Ferracioli, da FGV.
A postura da China
China se apresenta ao mundo como alternativa e propõe ressuscitar a OMC. Para Trevisan, as respostas da China aos ataques de Trump indicam um novo posicionamento do país asiático. "A China está se apresentando ao mundo como uma alternativa, uma opção que de alguma forma fará pressão sobre um novo formato de comércio que Trump quer impor", diz.
País asiático propõe ressuscitar a OMC. Diferente de Trump, a China tem cumprido os rituais do comércio internacional ao comunicar a OMC (Organização Mundial do Comércio) a respeito de suas decisões na guerra comercial. "A China se oferece como uma opção dentro do sistema, e Trump não faz isso, ele não respeita a OMC e quer o fim do multilateralismo", diz Trevisan.
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