Bolsonaro diz respeitar teto de gastos e querer responsabilidade fiscal
Após uma "debandada" no Ministério da Economia, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) disse hoje que seu governo respeita o teto de gastos e quer responsabilidade fiscal. A declaração foi feita ao lado de ministros e dos presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado, Rodrigo Maia (DEM-RJ) e Davi Alcolumbre (DEM-AP), após eles se reunirem.
"Nós queremos o progresso, o desenvolvimento, o bem-estar do nosso povo. Nós respeitamos o teto dos gastos e queremos a responsabilidade fiscal. O Brasil tem como ser um daqueles países que melhor reagirá à questão da crise [causada pelo coronavírus]", disse o presidente a jornalistas.
Segundo Bolsonaro, foram tratados "assuntos variados" na reunião, como a questão das privatizações e da reforma administrativa, apontadas como algumas das justificativas para as saídas dos secretários Salim Mattar (Desestatização) e Paulo Uebel (Desburocratização), respectivamente.
"Nos empenharemos, mesmo em ano eleitoral, para buscar soluções, destravar a nossa economia e colocar o Brasil no lugar em que ele sempre mereceu estar", afirmou o presidente.
Quem acompanhou a reunião reforçou que o clima foi "ameno" e sem embates. A mensagem que ficou entre os participantes foi de um encontro "tranquilo e que os presidentes das duas Casa estão de acordo com a linha do governo".
Maia e Alcolumbre celebraram encontro
Maia, que discursou após Bolsonaro, agradeceu ao presidente pelo convite e adiantou que a reunião serviu para reafirmar o compromisso do Executivo e do Legislativo com a "boa qualidade do gasto público". O deputado também citou a importância da aprovação de outras matérias, como as reformas tributária e administrativa.
"Dentro dessa realidade, como o presidente falou, ainda temos muito a fazer", reconheceu. "Reafirmando o teto de gastos, [isso] vai nos dar as condições de melhor administrar nosso Orçamento. Junto com isso, claro, outras reformas, como a tributária que a gente vem discutindo; a reforma administrativa, que a Câmara dos Deputados está pronta para discutir."
Segundo Alcolumbre, a reunião também serviu para "nivelar" as informações da agenda de responsabilidade fiscal, o que posteriormente ajudará o governo a convencer a sociedade sobre sua agenda de reformas, especialmente depois da pandemia da covid-19.
"Esse nivelamento de informações e estratégias para a gente debater esses assuntos no pós-pandemia é fundamental. Eu registro que o Parlamento, o Congresso brasileiro, nunca faltou ao governo. A gente conseguiu avançar muito nesse um ano e meio à frente do Parlamento, do Senado, a Câmara com os seus congressistas", ponderou.
O presidente do Senado também se manifestou nas redes sociais:
Encontro "tranquilo"
A intenção de Maia e Alcolumbre era mostrar responsabilidade com o teto de gastos e ajuste fiscal — pilar defendido por Paulo Guedes. Há o entendimento dentro do governo de que não é hora de "indiretas", como fez Guedes ontem ao dizer que há ministros "fura-teto" e que tentam "pular a cerca".
Ao UOL, o líder do governo no Congresso, Eduardo Gomes (MDB-TO), que esteve na reunião, disse que o encontro foi "tranquilo" e o ato político mostrou sintonia das lideranças políticas do país.
"Bolsonaro mostrou que está coordenando o diálogo dentro do governo e com os presidentes dos poderes. O papo foi claro e franco entre todos. Todo mundo defende a mesma coisa manter as contas dentro do teto e assim possibilitar crescimento econômico", disse Gomes.
O senador ainda acrescentou que não houve embates, porque, segundo ele, há o amplo entendimento no governo sobre o rigor fiscal. "Todo mundo pensa igual, mas cada um fala de um jeito, estamos todos em sintonia", afirmou.
A reunião aconteceu na esteira dos embates entre Guedes contra os militares e ministros que cuidam do Desenvolvimento Social, Rogério Marinho, e Infraestrutura, Tarcísio de Freitas. Ao contrário do ministro da Economia, os outros conselheiros de Bolsonaro entendem que o governo deve investir mais recursos públicos para destravar os investimentos.
"Insatisfação" de Mattar e Uebel
"Hoje houve uma debandada": foi assim que o ministro da Economia, Paulo Guedes, definiu ontem os pedidos de demissão de Salim Mattar e Paulo Uebel. Segundo Guedes, Mattar estava insatisfeito com o ritmo das privatizações no país e Uebel reclamou da falta de andamento da reforma administrativa, que trata dos servidores públicos.
Em julho, já haviam deixado o governo o então secretário do Tesouro, Mansueto Almeida, e o diretor de programas da Secretaria Especial de Fazenda, Caio Megale. O presidente do Banco do Brasil, Rubem Novaes, também pediu demissão.
"Salim Mattar pediu demissão hoje. Isso, na verdade, é um sinal de insatisfação com o ritmo de privatizações. Mas vocês têm que perguntar para o Salim quem é que está impedindo as privatizações. O que ele me disse é que é muito difícil privatizar, o Estado não deixa privatizar, é muito emperrado", disse o ministro, após reunião com o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ).
O ministro foi irônico ao comentar a postura dos secretários — Mattar, disse Guedes, disse que "é muito difícil privatizar" porque "o establishment não deixa — e afirmou que a reação do governo será agir para acelerar reformas e atrair investimentos.
"A nossa reação à debandada que aconteceu hoje é acelerar as reformas. Nós vamos privatizar, nós vamos insistir nesse caminho, nós vamos lutar, nós vamos destravar os investimentos", afirmou o ministro.
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