Frigoríficos negam que haja frango com coronavírus no mercado brasileiro
A China anunciou que encontrou coronavírus em frango importado do Brasil. Há risco de que frango vendido no mercado brasileiro também esteja contaminado?
Uma pesquisa publicada em março na revista científica New England Journal of Medicine indicou que o vírus pode permanecer até três dias no plástico onde é embalado. Em alguns casos, o produto acaba chegando às prateleiras dos supermercados horas após o abate. Para os consultados pelo UOL, o risco é pouco provável.
No caso da China, produtores, especialistas em segurança alimentar e fiscais agropecuários negam a possibilidade de transmissão do vírus pela carne e mesmo pela embalagem, devido às baixas temperaturas e o tempo de transporte para a Ásia, que pode levar 70 dias.
O diretor-executivo da ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal), Ricardo Santin, afirma que não há perigo para o consumidor local ou internacional ao consumir carne de frango - ou de outro animal - de empresas brasileiras. "O frigorífico é tão limpo quanto um hospital. Não tem risco."
Santini afirma que as embalagens são higienizadas e que, no caso da produção de frango, o contato humano ocorre em poucos processos - por exemplo, na hora de pendurar o animal - e com uso de luvas nas mãos e máscaras. "A maioria das fábricas são automatizadas, não há manipulação."
A transmissão pela carne também foi descartada por ele, já que o vírus não encontra condições de sobrevivência. "A própria Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) já disse que, por ser um vírus, precisa de células vivas para replicar e que não consegue se replicar em células mortas ou congeladas. O vírus precisa de célula receptora, que no frango não tem", salienta o diretor-executivo da associação.
Ainda não se sabe onde o vírus foi encontrado na China - se na embalagem ou na carne. Porém, Santini reforça que ao longo do processo de abate e corte, a carne de frango passa por uma solução que retira bactérias, além de outros processos de higiene. A produção é ainda monitorada por auditores fiscais agropecuários federais (no caso de exportações) ou estaduais (para consumo interno).
"Possibilidade muita baixa", diz pesquisador
Para o especialista em segurança de alimentos e professor da Ufrgs (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) Eduardo Cesar Tondo, mesmo que a embalagem do frango transporte o vírus, a carga viral é insuficiente para contaminar uma pessoa. "A possibilidade de acontecer é muito baixa, as próprias condições de produção vão matando o vírus."
Entretanto, o pesquisador diz que o confinamento do frigorífico e as baixas temperaturas - na marca dos 12 graus - são condições propícias para a propagação do vírus entre os trabalhadores. "Quem está lá dentro pode passar para os outros. Mas não há evidências no mundo que o alimento seja um das formas de contágio." Em um único frigorífico do Paraná, 1.138 funcionários contraíram covid-19.
O professor do departamento de Bioquímica da UFPR (Universidade Federal do Paraná) Emanuel Maltempi de Souza pede calma para a população. "Assumindo que o vírus veio da fábrica, a quantidade não deve ser grande, a chance de contaminação deve ser baixa. Não me parece que é situação de entrar em pânico."
Recomendações
Mesmo com baixo risco de contaminação, a orientação dos especialistas é lavar as embalagens de carne logo após chegar do supermercado.
Tondo sugere ainda dois a compra de produtos de marcas confiáveis e o cozimento da carne acima dos 70 graus. "Fazendo isso não há perigo nenhum. O bom é que a gente não tem hábito de comer carne de frango mal passada ou crua, sempre faz cozida", diz o professor.
O que diz o governo
A reportagem procurou o Ministério da Agricultura para saber as medidas de fiscalização nos frigoríficos e os riscos do consumo da carne pela população local. Entretanto, o órgão apenas encaminhou a nota oficial sobre o assunto, sem responder aos questionamentos específicos.
Em nota, o Mapa informou que não foi notificado oficialmente pelas autoridades chinesas sobre a ocorrência e salientou que não há comprovação científica de transmissão do vírus da covid-19 a partir de alimentos ou embalagens de alimentos congelados.
"O Mapa reitera a inocuidade dos produtos produzidos nos estabelecimentos sob SIF (Serviço de Inspeção Federal), visto que obedecem a protocolos rígidos para garantir a saúde pública.".
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