Como a disparada dos alimentos pode fazer seu aluguel ficar mais caro
A disparada no preço dos alimentos da cesta básica tem um peso evidente nos gastos dos brasileiros com supermercados. Mas ela também pode ter impacto indireto em outra despesa importante, o aluguel de imóveis.
Isso porque a inflação dos alimentos é captada por um índice, o IGP-M (Índice Geral de Preços - Mercado), que é usado para reajustar contratos de aluguel, dentre outras coisas.
Nesta quarta-feira, o IBGE divulgou que a inflação oficial do país, medida pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), fechou agosto em 0,24%, puxada por alimentos e pela gasolina. No acumulado em 12 meses, a inflação é de 2,44%.
Mas o IGP-M acumulado em 12 meses está muito mais alto que o IPCA, em 13,43%.
É normal que os índices resultem em números diferentes. O fosso entre eles, porém, cresceu muito aceleradamente nos últimos meses, sobretudo por causa da inflação do campo.
IGP-M é mais abrangente que a inflação oficial
O IPCA acompanha a variação de preços de itens que fazem parte da cesta de consumo das famílias, e não das empresas. É usado pelo Banco Central, que regula o sistema financeiro, para definir os juros no país, ou seja, o custo do crédito e os rendimentos das aplicações.
Já o IGP-M, calculado pela FGV (Fundação Getúlio Vargas), acompanha os preços das famílias e das empresas. Por ter o objetivo de calcular os custos na produção, é considerado mais abrangente.
Esse é um dos motivos pelos quais o IGP-M passou a ser usado como referência para o reajuste de diversos contratos no Brasil —de aluguéis, de energia elétrica, de transportes públicos e telefonia, por exemplo.
Preços agrícolas têm mais peso no IGP-M
O IGP-M dá pesos diferentes para os preços de acordo com a área da atividade econômica. Os custos dos produtores (IPA, o Índice de Preços ao Produtor Amplo) têm o maior peso, de 60%. Isso inclui insumos e matérias-primas, como minério de ferro e soja, além dos alimentos.
Nos últimos meses, subiram os preços das matérias-primas, que têm preços definidos em mercados internacionais, em dólar, sobretudo por causa da maior demanda da China.
Também dispararam os preços dos alimentos, como arroz, feijão, óleo, leite e carne, principalmente porque, com o dólar alto, produtores estão preferindo exportar e ganhar em dólar a vender no mercado interno. Além disso, houve aumento na demanda interna durante a pandemia.
Considerando que esses itens têm muito peso no IGP-M, essas disparadas se refletem na aceleração do índice.
Inflação dos produtores é repassada à indústria
Além disso, André Braz, coordenador de índices de preços do Ibre-FGV, explica que a inflação do campo e das commodities é transferida para a indústria.
"Temos visto um repasse para produtos como eletrodomésticos, e não é por causa do aumento da demanda. Até porque a atividade econômica ainda está baixa, e as famílias ainda não estão querendo gastar nesse cenário de incertezas e desemprego. Então o que explica esse aumento dos preços dos bens duráveis é a contaminação das commodities nos últimos meses", disse.
Variação em 12 meses na produção:
- Bens finais: + 8,75%
- Intermediários: +8,62%
- Matérias-primas: + 39,27%
Indicador mais usado para reajuste de aluguel
O IGP-M também pode virar inflação do consumidor porque é indexador de contratos. No caso dos aluguéis residenciais, é o indicador mais usado para calcular os reajustes. Mas, por causa da crise econômica, Braz diz que esse repasse não está ocorrendo.
"Em momentos como esse, em que a atividade econômica está muito fraca, o proprietário do imóvel até pode pedir aumento, mas o inquilino vai argumentar que o salário não subiu tanto, e abre uma negociação. Como existe muito imóvel vago, o poder de barganha do inquilino aumentou bastante", disse.
De fato, segundo ele, o reajuste dos aluguéis medido pela FGV nos últimos 12 meses está abaixo do IGP-M.
- IGP-M: +13,43%
- Aluguéis: + 3,09%
Já no caso dos imóveis comerciais, o poder de barganha do inquilino é menor, pois o comerciante depende da localização do ponto para atender à clientela. Mudar-se pode significar custos elevados e perda de clientes. "O inquilino comercial tem muito mais em jogo se mudar de endereço", diz o economista da FGV.
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