Consumo de destilados ilegais aumenta em 10% durante pandemia, diz estudo
A diminuição do poder de compra dos consumidores brasileiros durante a pandemia gerou uma mudança significativa no mercado de bebidas destiladas no país. Essa é a principal conclusão de um estudo realizado pela consultoria Euromonitor. De acordo com a pesquisa, finalizada em setembro, o consumo de bebidas destiladas ilícitas no Brasil cresceu 10,1% em comparação com o ano de 2019 e já representa 37,9% do total.
Neste ano, os brasileiros irão beber 130,7 milhões de litros em álcool puro de bebidas destiladas ilícitas com teor alcoólico de 40%. Isso equivale a mais de 320 milhões de garrafas de um litro, diz o estudo.
Além da diminuição da renda de muitos trabalhadores por causa da pandemia, houve crescimento em todas as atividades criminosas relacionadas às bebidas - sobretudo o contrabando. A atuação de lojas de bairro, sites e aplicativos de entrega também servem como vetores para a compra de bebida ilegal, aponta a pesquisa.
O mercado de destilados ilícitos teve um aumento expressivo no Brasil. Em 2017, 28,8% dos destilados comercializados no país tinham origem ilegal. Naquele ano, o governo amargava uma perda fiscal de R$ 5,5 bilhões com tais produtos. Em 2020, o total de produtos consumidos atinge quase 40%.
O crescimento acelerado do mercado ilegal faz o setor temer mais prejuízos. "O que estamos vendo é uma 'tempestade perfeita' para o crime organizado, com os destilados sobretaxados, a perda de poder de compra dos consumidores, a proliferação dos canais de venda e, ainda, o fechamento de bares e restaurantes durante a pandemia, que são os principais pontos de venda de bebidas legítimas", destaca José Silvino Filho, presidente do Núcleo pela Responsabilidade no Comércio e Consumo de Bebidas Alcoólicas no Brasil.
"A Covid-19 levou mais consumidores ao mercado ilícito por meio de novas dinâmicas de compra, aumentando os desafios de controle. As políticas públicas precisam tornar a atividade ilícita menos lucrativa e assegurar que os criminosos sejam punidos", destaca o relatório publicado pela consultoria.
O mercado de bebidas destiladas no Brasil é composto pelo segmento da cachaça, que representa mais de 70% do setor. Produtores e distribuidores de outras bebidas, como saquê, gin, vodka, tequila e whisky, também são afetados.
A pesquisa da Euromonitor indica ainda o aumento do contrabando devido à vigilância falha nas fronteiras brasileiras, com novas rotas sendo criadas do Paraguai em direção ao Mato Grosso. As apreensões de produtos contrabandeados dobraram durante a pandemia. Além disso, a presença de bebidas falsificadas aumentou no interior de São Paulo, com atuação de pequenas fabriquetas ilegais, de alcance regional.
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