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Bolsonaro critica presidente e diz que Petrobras atende 'alguns grupos'

Eduardo Militão e Fabio Regula

Do UOL, em Brasília e São Paulo*

22/02/2021 10h25Atualizada em 23/02/2021 08h43

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) criticou hoje o atual presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, afirmando que ele "está em casa sem trabalhar" e sugerindo que falta "transparência" na companhia. Ele disse que a atual política da empresa deixa o mercado financeiro feliz e atende o interesse de apenas "alguns grupos" no Brasil.

A crise entre Bolsonaro e a Petrobras se intensificou na última semana, depois do anúncio de reajustes nos preços do diesel e da gasolina. Depois de avisar que faria mudanças, o presidente da República anunciou na noite da última sexta-feira a indicação de Joaquim Silva e Luna para a presidência da empresa. A escolha do governo, porém, precisa ser aprovada pelo Conselho de Administração da Petrobras. O mandato de Castello Branco se encerra em 20 de março.

Segundo Bolsonaro, a Petrobras só vê "os interesses próprios de alguns grupos", e por isso alguns setores do mercado estariam incomodados com a mudança na presidência da empresa. A queda nas ações da companhia já bateu 18%.

"[Resposta negativa do mercado] é sinal que uns do mercado financeiro estão muito felizes com a politica que só tem um viés na Petrobras, atender os interesses próprios de alguns grupos no Brasil, nada além disso", disse Bolsonaro nesta manhã a apoiadores no Palácio da Alvorada.

O presidente afirmou que não interfere na Petrobras, apesar de reclamar publicamente dos preços dos combustíveis. Disse ainda que trocar o comandante da empresa é um direito seu, embora quem decida sobre a permanência do presidente seja o conselho da companhia.

Você vê como se comporta a imprensa no Brasil, falam em interferência minha? Baixou o preço do combustível? [Não], foi anunciado [aumento de] 15% no diesel, 10% na gasolina. Está valendo o mesmo percentual. Como teve interferência? O que eu quero e exijo da Petrobras é transparência e previsibilidade, nada mais além disso. E outra coisa, dia 20 de março encerra o prazo da vigência do atual presidente. É direito meu reconduzir ou não. Não será reconduzido, qual o problema?
presidente Jair Bolsonaro

Home-office de Castello Branco é "inadmissível", diz Bolsonaro

Na conversa com apoiadores, Bolsonaro afirmou que Castello Branco tem feito home-office durante a pandemia, o que, para ele, é inadmissível.

"O atual presidente da Petrobras está há 11 meses em casa, sem trabalhar, né?", disse Bolsonaro, mencionando medida para evitar o contágio por coronavírus. A pandemia de coronavírus fez vários servidores públicos e funcionários privados atuarem de maneira remota.

O chefe tem que estar na frente, bem como seus diretores. Isso [home-office] para mim é inadmissível. Descobri isso há poucas semanas. Imagina eu, presidente, em casa com medo do covid, ficando aqui o tempo todo aqui no Alvorada. Não justifica isso.
presidente Jair Bolsonaro, sobre Roberto Castello Branco

O presidente disse ainda que a produtividade da estatal não o agradou. "Inclusive o ritmo de trabalho de muitos servidores lá está diferenciado. Ninguém quer perseguir servidor, muito ao contrário, temos que valorizar? Agora, o petróleo é nosso ou é de um pequeno grupo do Brasil?", questionou.

Mais de R$ 50 mil por mês para presidente da Petrobras

Ele ainda reclamou dos salários dos diretores da estatal. "Sabe quanto ganha um presidente da Petrobras? R$ 50 mil por semana? É mais do que isso por semana. Tem coisa que não está certa. E para ficar em casa. Pode estar fazendo um bom trabalho em casa, mas, no meu entender, não justifica."

Em relatório anual à CVM, a Petrobras informou que a maior remuneração individual em 2019 na Diretoria Executiva (órgão do qual o Castello Branco já fazia parte, como presidente da empresa) foi de R$ 2.711.572,79 —o equivalente a R$ 225.964,40 por mês — e a menor foi de R$ 2.023.422,94. Os valores consideram bônus por performance e remuneração fixa.

"Importante destacar que a remuneração total anual do presidente da Petrobras, incluindo o bônus, corresponde a 25% da remuneração total anual dos presidentes de outras empresas do mercado nacional de porte equivalente, considerando a mediana", informou a empresa em nota ao UOL, destacando também que o presidente da Petrobras não tem poder para aumentar seu próprio salário.

"Qualquer eventual alteração na remuneração dos executivos deve passar por várias instâncias de aprovação, incluindo o Conselho de Administração da companhia", diz a nota.

Um relatório do Ministério da Economia divulgado neste ano aponta que a Petrobras tem o salário mais alto entre todas as estatais comandadas pela União: R$ 106 mil. O documento não deixa claro se este é o salário do presidente da empresa, nem quais remunerações estão incluídas no cálculo.

Aumento foi incompatível, diz Bolsonaro

Ao reclamar novamente sobre o preço dos combustíveis, Bolsonaro afirmou que o aumento anunciado na semana passada não seria compatível com os reajustes no câmbio e no barril do petróleo.

Ninguém vai interferir na política de preços da Petrobras e eu não consigo entender num prazo de duas semanas ter reajuste de 15% no diesel. Não foi essa a variação do dólar lá fora aqui dentro nem do preço do barril lá fora. Tem coisa que tem que ser explicada.
presidente Jair Bolsonaro

Ele afirmou que seria possível diminuir o preço dos combustíveis em "mais de 10%", mas não "na canetada". Bolsonaro, então, citou fraude e adulteração de combustíveis, a margem de lucro das distribuidoras, os ganhos dos donos de postos de combustíveis e o valor do impostos.

"Querem me culpar pela inflação dos alimentos", diz Bolsonaro

O presidente disse que sua preocupação é atender "o interesse público". Mas afirmou também que está preocupado em ser responsabilizado por problemas econômicos.

Querem culpar a mim pela inflação, a questão o preço de muita coisa, em especial a alimentação; o desemprego também querem culpar a mim.
Jair Bolsonaro

Na sequência, ele culpou o isolamento físico ordenado para prevenir a contaminação em massa pelo coronavírus. "Quem fechou o comércio não fui eu", disse Bolsonaro. "O efeito colateral do combate ao vírus causa mais mortes." Bolsonaro não usava máscara na conversa com os apoiadores, equipamento para evitar a disseminação da doença.

* Colaborou Filipe Andretta, do UOL, em São Paulo