Banco Central tem de subir juros, diz ex-diretor
José Júlio Senna, ex-diretor do BC (Banco Central) e chefe do Centro de Estudos Monetários do Ibre/FGV (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas), avalia que o banco tem argumentos para subir os juros na reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) que ocorre neste mês e defende uma elevação de 0,50 ponto percentual na taxa básica de juros da economia (Selic), que hoje está em 2% ao ano.
"Acho que subir 25 pontos-base seria pouco. Não iria produzir os efeitos de desinclinação da curva [futura de juros]. E 75 pontos, que é para onde o mercado está sinalizando, talvez seja um pouco demais, porque pode gerar expectativas ruins sobre novas mudanças [de juros] no mesmo ritmo", disse ele em entrevista ao jornal Valor Econômico.
Na avaliação dele, o risco de curto prazo de uma demora em elevar a taxa básica seria piorar as condições financeiras e, assim, ter efeito prejudicial à atividade econômica num momento de incertezas.
A elevação e uma sinalização de início de ciclo de aperto, argumenta, podem trazer melhora das condições financeiras. "Os spreads observados entre juros curtos e juros longos tendem a se alterar na esteira de ações de política monetária", diz.
Segundo ele, outro argumento para o órgão começar em março o ciclo de aperto dos juros seria o risco de uma piora na formação de expectativas sobre a inflação.
Senna enxerga ainda que ruídos políticos e fiscais levam a um ambiente de insegurança, citando a troca de comando na Petrobras como exemplo. O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) comunicou no mês passado a indicação do general Joaquim Silva e Luna para substituir o atual presidente da empresa, Roberto Castello Branco. "Há uma preocupação com uma guinada populista do governo, com os sinais trazidos pela abrupta demissão do presidente da Petrobras e interferência nos preços de combustíveis."
O ex-presidente do BC criticou ainda a desidratação da PEC (Proposta de Emenda à Constituição) Emergencial, aprovada ontem no Senado. "É o retrato fiel da falta de disposição do Executivo e Legislativo de fazer os ajustes fiscais de que o país precisa."
Na visão dele, "a PEC não tem nada que sinalize o enfrentamento direto da grande questão fiscal do país que é o crescimento das despesas obrigatórias".
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