Crianças e adolescentes eram 4 em cada 10 pobres no país antes da pandemia
Cerca de 40% das pessoas em situação de pobreza ou extrema pobreza no Brasil são crianças e adolescentes, e 74% delas são negras (pretas ou pardas). Esse é o resultado de um levantamento realizado pelo Instituto Mobilidade e Desenvolvimento Social (IMDS), que pretende traçar um perfil completo da situação socioeconômica das pessoas com até 17 anos no Brasil.
Para o estudo, foram consideradas como pobreza a renda per capita de R$ 331,50 mensal por família, e extrema pobreza quem recebe, na média, R$ 165,75 por mês. São números também usados pelo IBGE para analisar a linha de pobreza.
Os dados foram obtidos por meio da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD Contínua), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), e foram analisados por cerca de três meses. Os dados são de 2019, já que ainda não há dados da Pnad disponíveis para 2020 ou 2021.
A Pnad 2020 deverá estar disponível somente a partir de outubro deste ano. São consideradas crianças e adolescentes em situação de pobreza ou extrema pobreza, aquelas que compõem domicílios (exceto casos em que eram parentes de empregados domésticos ou pensionistas), em que a renda domiciliar per capita está abaixo da linha analisada.
Os dados nacionais apontam um aumento na população extremamente pobre nos últimos anos. Em 2012, eram 9,7% de crianças e adolescentes entre os extremamente pobres, contra 11,1% em 2019. Em 2012 havia 6,27 milhões de crianças e adolescentes em situação de extrema pobreza, enquanto em 2019 eram 6,32 milhões.
Já o número de crianças com menos de 17 anos entre os pobres reduziu de 42,9% para 41%. Em 2012, 17,62 milhões de crianças e adolescentes estavam em situação de pobreza, enquanto em 2019 eram 15,83 milhões.
Ainda que a pobreza não esteja concentrada numa localidade, é possível que a incidência dela naquele local seja alta. O estudo mostra que o Norte concentra 16,7% das crianças e adolescentes pobres do país, mas a chance de um residente da região ser pobre é de 48,3%, por exemplo.
A cada 100 crianças ou adolescentes pobres, 74 são negras. A distribuição por sexo é quase igual: 51,1% de homens e 48,9% de mulheres. O Maranhão é o Estado com o índice mais preocupante: 58,4% das crianças e adolescentes são pobres.
Mais crianças pobres que idosos
Paulo Tafner, economista com doutorado em Ciência Política e presidente do IMDS, afirma que o objetivo do estudo é permitir a discussão de políticas públicas voltadas aos jovens e adolescentes.
"Temos que pensar nessa possibilidade de distribuição de renda mais igual a todas as idades. Existe um conceito chamado "mobilidade social intrageracional", que é aquela mudança que ocorre durante a vida da pessoa. Há barreiras hoje que precisam ser revistas", disse.
Tafner considera que houve uma mudança importante no cenário nacional, já que, até alguns anos, a quantidade de idosos pobres ou extremamente pobres era maior. "Para efeito de comparação, hoje os idosos recebem um salário mínimo (R$ 1.100) por mês. Uma criança ou adolescente tem o equivalente a dois salários mínimos por ano", exemplifica.
Na avaliação do IMDS, agora é hora de "virar a chave" e pensar na juventude — sem deixar de lado os idosos, claro.
Outra questão apontada pelo presidente do Instituto é a própria distribuição de renda. Durante o estudo, foi analisado que a alfabetização chega às crianças consideradas pobres ou extremamente pobres apenas aos 11 anos de idade, enquanto entre os "ricos" isso acontece aos 8 anos. "Aí você tem um exemplo importante da irregularidade da distribuição de renda no nosso país", afirma.
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