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Desempregada critica Bolsonaro: 'Devemos ter fé, mas ele precisa trabalhar'

Cristiane Aparecida: "Deus deu oportunidade para Bolsonaro governar o Brasil, mas ele está quebrando o país" - Arquivo pessoal
Cristiane Aparecida: "Deus deu oportunidade para Bolsonaro governar o Brasil, mas ele está quebrando o país" Imagem: Arquivo pessoal

Henrique Santiago

Colaboração para o UOL, em São Paulo

20/08/2021 15h39

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) disse em cerimônia a fiéis da igreja Assembleia de Deus no Pará, na quarta-feira (18), que a fé e a crença do brasileiro vão fazer o país superar o desemprego e a inflação.

O povo tem sofrido com isso: tem inflação, tem desemprego. Tem dias, realmente, angustiantes. O que posso dizer aos senhores? Com fé, com vontade, com crença, nós podemos superar esses obstáculos.
Presidente Jair Bolsonaro

A taxa de desemprego no Brasil está em 14,6% e atinge 14,8 milhões de pessoas. A inflação, medida pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), acelerou para 0,96% em julho, a maior para o mês desde 2002, e acumula 8,99% em 12 meses.

Trabalhadoras da capital paulista ouvidas pelo UOL afirmaram que a "receita" do presidente precisa ser acompanhada de outros ingredientes.

Eu sei que Deus está acima de tudo, mas ele [Bolsonaro] é irresponsável, vive de live, se expõe sem necessidade [na pandemia] e não cuida das suas obrigações. Deus deu oportunidade para Bolsonaro governar o Brasil, mas ele está quebrando o país.
Cristiane Aparecida, 35, vendedora de doces

"Se nós, os informais, não nos mexermos, passaremos fome, como muitos que estão vivendo nas ruas. Quem vive na rua não tem culpa de estar nessa situação, é por irresponsabilidade do governo, que tinha que nos dar assistência e proteção", diz a moradora de São Miguel Paulista, na zona leste.

Cristiane não trabalha com carteira assinada desde 2014 e tem sobrevivido na pandemia com a venda de bolos e trufas de chocolate. Ela concordar com Bolsonaro que é necessário ter fé, mas diz que o governante precisa trabalhar pelo povo.

"A gente vai ter que orar muito a Deus para tirar esse ser humano [Bolsonaro] de lá [da Presidência]", disse.

'Presidente tem a picanha garantida'

Lucimara Pedrosa, 42, do Jardim Guarani, em São Paulo, nunca teve a carteira de trabalho assinada  - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal

Lucimara Pedrosa, 42, do Jardim Guarani, na zona norte, marga a condição de nunca ter trabalhado com registro em carteira. Desde o início da pandemia, tem trabalhado como revendedora de produtos de beleza, mas diz que a renda mal cobre as despesas básicas.

De acordo com ela, a escalada de preços tirou itens básicos de alimentação da mesa. O auxílio emergencial de R$ 250 é usado para pagar contas em atraso, como de água e luz, e garantir um botijão de gás, hoje na casa de R$ 100.

Dependo da doação de uma cesta básica pela escola dos meus filhos. Só consigo comprar ovo, e olhe lá, porque até o frango está caro. Carne vermelha é luxo, mas o presidente tem a picanha garantida. Está com a vida ganha, e o povo não tem o que comer.
Lucimara Pedrosa, 42, revendedora de produtos de beleza

'Bíblia diz que devemos ter fé, mas também atitudes'

Thais Paula de Oliveira, 27, promotora de vendas, de São Paulo - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal

A promotora de vendas Thais Paula de Oliveira, 27, trabalha com carteira assinada há três anos. Mesmo com emprego garantido, a moradora do Jabaquara, na zona sul, diz que a inflação tem diminuído seu poder de consumo.

Em julho, o preço da cesta básica na cidade de São Paulo chegou a R$ 1.064,79, aumento de 0,44% em relação a junho, segundo o Dieese (Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos). Para efeitos de comparação, esse valor é quase o do salário mínimo no Brasil (R$ 1.100).

Thais é mãe solo de duas crianças e afirma que o vale-alimentação de R$ 574, que recebe da empresa, não é suficiente para as compras no supermercado.

A Bíblia diz que devemos ter fé, mas também devemos ter atitudes. Só tenho conseguido comprar o básico: arroz, feijão e itens de higiene pessoal. Não é todo dia que consigo comer carne.
Thais Paula de Oliveira, 27, promotora de vendas