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Desabastecimento gera brigas e filas em postos de gasolina no Reino Unido

Confusão no posto de gasolina em Welling, sudeste de Londres, causado pela crise dos combustíveis no país - Reprodução/Twitter/@NTV_Houston via @91stefansilva
Confusão no posto de gasolina em Welling, sudeste de Londres, causado pela crise dos combustíveis no país Imagem: Reprodução/Twitter/@NTV_Houston via @91stefansilva

Do UOL, em São Paulo*

01/10/2021 12h39Atualizada em 01/10/2021 20h21

A crise do desabastecimento de combustíveis no Reino Unido tem levado milhares de motoristas a passarem horas na fila de postos, encherem garrafas de água com gasolina e até mesmo brigarem para garantir os itens. O caos no país ocorre em um contexto de escassez generalizada de caminhoneiros devido à pandemia e ao Brexit.

Até ontem, mais de dois mil postos de combustível do Reino Unido ainda estavam secos devido a uma escassez de caminhoneiros que começa a transtornar as entregas às farmácias, e criadores alertaram que a falta de açougueiros pode provocar um abate de porcos em massa.

Um dos vídeos de agressão que repercutiu bastante na mídia britânica esta semana aconteceu em um posto de gasolina em Welling, sudeste de Londres. A gravação mostra um homem com uma suposta faca em mãos, gritando com um motorista, enquanto outros carros tentam entrar em um posto.

Quando o condutor encontra espaço para dar ré, o agressor chuta o carro e danifica o espelho retrovisor do automóvel. A polícia informou ao tabloide The Sun que foi chamada para atender a ocorrência na segunda (27), mas ao chegarem no local "não encontraram vestígio de nenhum dos veículos. Nenhum ferimento foi relatado e nenhum suspeito foi identificado".

Em outro caso, ocorrido na última semana, um vídeo divulgado nas redes sociais mostra dois homens trocando socos em meio a uma fila de carros do posto da Shell em New Eltham, sudeste de Londres, enquanto discutiam sobre de quem era a vez de abastecer.

Duas mulheres podem ser ouvidas gritando e chegam para ajudar a apartar a briga dos homens.

Uma mulher também foi flagrada esvaziando garrafas de água e as enchendo de combustível mesmo com uma fila que ultrapassava 30 minutos de espera em um posto da Shell, em uma estrada do Reino Unido.

Ao site Independent UK, Gavin Rabbitt, que gravou a cena, disse ter ficado chocado ao observar a motorista esvaziando as garrafas para enche-las de combustível.

A crise

A crise dos postos começou há uma semana e provoca desprezo em algumas capitais europeias, e políticos de alto escalão insinuam que a falta de caminhoneiros é uma consequência clara da decisão do referendo de 2016 para o Reino Unido deixar a União Europeia.

Ministros britânicos insistem em negar que o Brexit tenha relação com a crise, mas dezenas de milhares de caminhoneiros da UE partiram durante o caos da desfiliação e também citam os lockdowns da covid-19, que impediram dezenas de milhares de exames de habilitação.

A situação está afetando as entregas de combustível e remédios e deixando até 150 mil porcos retidos em fazendas. Hoje, uma federação do setor de açougueiros anunciou que o Reino Unido precisa de 15 mil trabalhadores do setor, e alertou para o risco de escassez de alguns produtos tradicionais do Natal.

A situação recorda a década de 1970, quando a crise energética provocou o racionamento de combustível e a redução da semana de trabalho para três dias. Há quase 10 anos, as manifestações contra o preço elevado da gasolina também provocaram um bloqueio das refinarias e paralisaram as atividades no país durante semanas.

Governo diz que crise está controlada, motoristas negam

Ontem, o Reino Unido disse que a crise nos postos de combustível está controlada, mas muitas bombas continuavam fechadas hoje em Londres, obrigando motoristas a passar horas circulando ou parados em filas para abastecer.

"Essa crise agora é algo que absolutamente voltou ao controle", disse o secretário-chefe do Tesouro, Simon Clarke.

No entanto, repórteres da Reuters visitaram sete postos de combustível de Londres e áreas adjacentes ontem e encontraram apenas dois abertos com uma fila de dezenas de motoristas que se estendia de um dos postos em funcionamento, no qual empregados tentavam organizar a fila.

30.set.21 - Um trabalhador guia os carros para o pátio enquanto os veículos fazem fila para reabastecer em um posto de gasolina em Londres, Grã-Bretanha - HANNAH MCKAY/REUTERS - HANNAH MCKAY/REUTERS
30.set.21 - Um trabalhador guia os carros para o pátio enquanto os veículos fazem fila para reabastecer em um posto de gasolina em Londres
Imagem: HANNAH MCKAY/REUTERS

Hoje, filas de motoristas — muitas vezes irados — se estendiam dos postos ainda abertos na capital inglesa.

"Estou completamente, completamente farto. Por que o país não está pronto para nada?", questionou Ata Uriakhil, taxista afegão de 47 anos e o primeiro de uma fila de mais de 40 carros em um posto fechado da rede Sainsbury's em Richmond.

Associação aponta melhora lenta

Hoje, a PRA (Associação de Varejistas de Petróleo), que representa varejistas de combustível independentes que respondem por 65% dos postos britânicos, declarou que apenas 47% dos postos têm gasolina e diesel em estoque. O cenário é mais delicado que ontem, quando 52% dos revendedores tinham os dois tipos de combustíveis.

"Embora a situação seja semelhante à dos últimos dias, há sinais de que está melhorando, mas muito lentamente. Os independentes, que somam 65% de toda a rede, não estão recebendo entregas de combustível suficientes. Até que os independentes comecem a receber suprimentos frequentes, continuaremos a ver longas filas", declarou Gordon Balmer, diretor-executivo da PRA.

Segundo o governo, motoristas do Exército devem ser mobilizados nos próximos dias para ajudar a aliviar a crise.

*Com informações de AFP, BBC, Guardian, MetroUK, Reuters e Sky News.