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Governo vive em 'realidade paralela', diz economista após queda no PIB

23.nov.2021 - O ministro da Economia, Paulo Guedes - Fátima Meira/Futura Press/Estadão Conteúdo
23.nov.2021 - O ministro da Economia, Paulo Guedes Imagem: Fátima Meira/Futura Press/Estadão Conteúdo

Fabrício de Castro

Do UOL, em Brasília

03/12/2021 04h00

A queda do PIB (Produto Interno Bruto) no terceiro trimestre de 2021, levando o país a uma recessão técnica, indica que o otimismo do governo em relação ao crescimento da economia no próximo ano não se justifica. Essa é a opinião de economistas ouvidos pelo UOL.

Antes mesmo do resultado do terceiro trimestre deste ano, economistas do mercado financeiro vinham projetando crescimento de 4,78% para 2021 e de apenas 0,58% do PIB em 2022, considerando o relatório de mercado Focus (estimativa de bancos, corretoras e consultorias).

Com a alta de juros, o avanço do dólar diante do real e a diminuição da renda, a visão de muitos economistas é de que o crescimento do PIB do próximo ano caminha para zero.

O governo é muito mais otimista: projeta crescimento de 5,1% para 2021 e de 2,1% para 2022.

Otimismo injustificável

Ministro da Fazenda durante o governo de José Sarney, no fim da década de 1980, o economista e sócio da consultoria Tendências, Maílson da Nóbrega, afirma que a equipe econômica do governo Bolsonaro vive em uma "realidade paralela".

O resultado do PIB decepciona pelo segundo trimestre consecutivo, refletindo os problemas estruturais da economia brasileira. Apenas o governo acha que o Brasil vai surpreender o mundo. [Isso ocorrerá] só se for negativamente. O resultado do PIB era esperado pelos economistas, exceto os do governo
Maílson da Nóbrega, ex-ministro da Fazenda

O economista Alexandre Antunes Teixeira, da MCM Consultores Associados, afirma que o Ministério da Economia está sendo "claramente muito otimista" ao projetar um crescimento acima de 2% em 2022.

Segundo ele, a alta de juros, o aumento da inflação e a queda da renda das famílias tornam improvável um desempenho tão positivo.

Se a economia crescer 0,2% no quarto trimestre de 2021, o que é nossa projeção, a herança disso para 2022 é de PIB zero. Para chegar aos 2% projetados pelo Ministério da Economia, o PIB deveria crescer em média 0,8% por trimestre ao longo de 2022. No clima que estamos vivendo hoje, isso é muito difícil. O mais provável é que tenhamos crescimento entre zero e 0,6%
Alexandre Antunes Teixeira, economista da MCM

Para José Faria Júnior, sócio da consultoria Wagner Investimentos, "o governo está otimista demais, e o mercado financeiro, pessimista demais" em relação ao PIB.

Olhando os índices de confiança na economia, notamos de fato uma desaceleração do PIB. Mas talvez seja exagerado pensar em um número abaixo de 1%, até porque precisamos ver o que de fato vai acontecer com a inflação. Mas no momento não dá para ficar acima de 2%. Parece pouco provável
José Faria Júnior, consultor da Wagner Investimentos

Governo aposta em nova surpresa

Representantes do Ministério da Economia têm afirmado que o mercado financeiro vai errar novamente suas projeções para 2022, assim como ocorreu em 2020, no auge da pandemia. A visão é de que os economistas de mercado estariam subestimando a recuperação do emprego.

"No ano passado, o mercado estava projetando uma queda superior a 6,5% do PIB. O Banco Mundial projetava baixa de 8,1%, e o FMI, de 9,1%. A SPE [Secretária de Política Econômica] projetou queda de 4,7% e, depois de muita gente nos criticar e dizer que estávamos errados, no fim do ano, o mercado convergiu para nossa estimativa. O ano terminou com queda de 4,1%, mostrando o acerto da nossa projeção", disse Adolfo Sachsida, secretário de Política Econômica, no dia 22 de novembro.

Nesta quinta-feira, o ministro da Economia, Paulo Guedes, avaliou que a queda de 8% do setor agropecuário no terceiro trimestre é a principal explicação para o recuo do PIB no terceiro trimestre de 2021. Para ele, a queda foi "localizada". "A indústria está estável, o comércio está voltando", disse ao UOL. Na avaliação do ministro, o impacto no setor, justificado por condições climáticas, não deve se repetir.