Servidores federais planejam paralisação de 2h hoje por reajuste de salário
Servidores públicos federais de pelo menos 19 categorias devem cruzar os braços nesta terça-feira (18), como forma de pressionar o governo de Jair Bolsonaro por reajustes salariais. Este será o primeiro ato das categorias, que ameaçam repetir a paralisação nos dias 25 e 26 de janeiro e entrar em greve geral na segunda quinzena de fevereiro, caso não haja acordo.
Estão marcados dois atos em Brasília. O primeiro deles, das 10h às 12h, será em frente do Banco Central. À tarde, das 14h às 16h, os servidores vão se reunir em frente do Ministério da Economia. As manifestações nos órgãos públicos servirão de termômetro para avaliar o nível de adesão dos servidores.
O que querem os servidores
De acordo com o presidente do Fonacate (Fórum Nacional Permanente de Carreiras Típicas de Estado), Rudinei Marques, a principal pauta dos servidores é a reposição salarial linear —ou seja, o reajuste salarial para todas as categorias. Eles reivindicam aumento que reponha em parte a perda com a inflação nos últimos anos.
Em carta endereçada ao ministro da Economia, Paulo Guedes, o fórum afirma que 80% dos servidores acumulam perdas inflacionárias desde 2017. Os demais 20% acumulam perdas desde 2019. "Se não houver recomposição salarial em 2022, tais perdas poderão se acumular até 2024", afirma o Fonacate.
Desde a reposição que atingiu a maior parte dos servidores, em 2017, até aqui, nós já perdemos 27% do poder aquisitivo dos salários. É isso o que cobramos do governo: manutenção do poder aquisitivo. Não falamos de aumento real, mas de reposição das perdas inflacionárias.
Rudinei Marques, presidente do Fonacate
O Fonacate reúne cerca de 200 mil filiados, de diversas categorias do funcionalismo público. A pressão por aumentos se intensificou no fim de 2021, quando o governo Bolsonaro sinalizou com o reajuste de salários apenas de categorias específicas, como policiais federais, policiais rodoviários federais e agentes penais.
Uma das primeiras categorias a reagir foi a dos auditores da Receita Federal, que desde o fim de dezembro promovem operação padrão na importação e exportação de mercadorias. Além disso, mais de 600 auditores entregaram cargos de chefia no órgão, como forma de pressionar o governo.
Na quinta-feira (13), representantes do Sindifisco (Sindicato Nacional dos Auditores-Fiscais da Receita Federal do Brasil) estiveram reunidos com o ministro da Economia, Paulo Guedes, para discutir as reivindicações. Após a conversa, eles qualificaram o encontro como "frustrante". O Fonacate enviou carta a Guedes nesta terça pedindo reunião para tratar sobre o tema.
Mobilização no Banco Central
Uma das categorias envolvidas nos protestos será a dos servidores do Banco Central. Conforme o presidente do Sinal (Sindicato Nacional dos Funcionários do Banco Central), Fábio Faiad, pelo menos 50% dos trabalhadores do BC cruzarão os braços entre 10h e 12h desta terça-feira. O órgão possui mais de 3.500 funcionários.
"A maioria dos trabalhadores está em trabalho remoto e vai parar", afirma Faiad. A orientação é para que todos desliguem os computadores e não respondam mensagem de trabalho. Apenas os serviços básicos serão mantidos.
O ato em frente à sede do BC, em Brasília, deve reunir mais de mil pessoas, conforme os organizadores, e não apenas funcionários do órgão. Os organizadores afirmam, no entanto, que em função da pandemia de covid-19 existe o cuidado para que não haja aglomeração em excesso.
O Sinal defende reajuste salarial "não só para os policiais federais", além da reestruturação das carreiras de analistas e técnicos do BC.
Na semana passada, representantes dos servidores estiveram reunidos com o presidente do BC, Roberto Campos Neto. Segundo eles, não houve proposta concreta de reajuste. Nova conversa está agendada para o fim de janeiro.
Mobilização no Ministério da Economia
O ato no Ministério da Economia está marcado para as 14h e também terá duas horas de duração.
O Fonasefe (Fórum das Entidades dos Servidores Públicos Federais), outra entidade que apoia a paralisação, trabalha pela mobilização das categorias não apenas em Brasília, mas também nos estados.
"É importante conversar com os trabalhadores em nossas bases com o objetivo de envolver todos na construção de uma mobilização nacional e uma posterior greve geral", explicou Davi Lobão, diretor do Sinasefe, em nota à imprensa.
Guedes resiste a aumentos
Nos bastidores, o ministro da Economia, Paulo Guedes, tem se manifestado contrário à concessão de reajuste ao funcionalismo federal em 2022.
Além disso, ele vem alertando o presidente Jair Bolsonaro (PL) que a concessão de reajuste apenas aos servidores da área de segurança pública vai aumentar a pressão vinda de outras categorias.
Os cálculos do Ministério da Economia são de que, para cada 1% de reajuste linear para todos os funcionários públicos federais, o impacto no Orçamento para 2022 seria de R$ 3 bilhões. Conforme a IFI (Instituição Fiscal Independente), do Senado, o custo ficaria entre R$ 3 bilhões e R$ 4 bilhões.
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