País é autossuficiente e não precisa beneficiar etanol importado, diz setor
A isenção temporária do imposto de importação do etanol, anunciada na segunda-feira (21) pelo Ministério da Economia, cria uma "dificuldade" aos produtores nacionais, segundo Roberto Perosa, diretor-executivo da Orplana (Organização de Associações de Produtores de Cana do Brasil). Para ele, a medida é "desnecessária", uma vez que o Brasil —maior produtor de cana-de-açúcar do mundo— já é autossuficiente em etanol.
"É sempre um risco para a cadeia do etanol no nosso país, porque você traz produtos importados, que muitas vezes são subsidiados, para competir com a nossa produção, que não tem subsídio governamental. Não vai impedir de a gente continuar no negócio, mas é uma dificuldade a mais. Entendemos que é uma medida desnecessária, porque temos uma produção [local] suficiente", disse ao UOL.
Ele também critica o que chamou de falta de reciprocidade por parte de nosso principal fornecedor estrangeiro, os Estados Unidos, de onde partiram mais de 60% —cerca de 269,5 milhões de litros— de todo o etanol comprado pelo Brasil no exterior em 2021.
"Por que não houve uma negociação bilateral [do governo brasileiro] com os EUA, por exemplo? Por que os EUA vão ter uma vantagem, digamos assim, em relação ao etanol nacional? Não teve uma reciprocidade, porque o nosso etanol lá certamente paga imposto", afirma.
Produtores norte-americanos celebraram a redução do imposto, como publicou mais cedo Carla Araújo, colunista do UOL.
A partir do momento em que você incentiva a importação, você dificulta a cadeia [de produção] no Brasil. Começamos a ficar pressionados. Respeitamos a decisão do governo, claro --ele tem os seus motivos--, mas a gente argumenta.
Roberto Perosa, da Orplana
Pouco efeito na gasolina
Ao anunciar a redução do imposto do etanol importado, o secretário de Comércio Exterior, Lucas Ferraz, disse que o objetivo da medida era baratear o custo dos combustíveis para a população e, assim, conter a inflação, que já passa de 10% nos últimos 12 meses. Segundo o governo, a isenção poderia reduzir o preço da gasolina em R$ 0,20.
Mas especialistas ouvidos pelo UOL contestam, porque o Brasil não é um grande importador de etanol. Embora tenha comprado mais de 1 bilhão de litros do combustível do exterior em 2020, é pouco em relação à produção no país, que chegou a 32,6 bilhões de litros no mesmo ano, de acordo com os últimos dados divulgados pela EPE (Empresa de Pesquisa Energética), ligada ao Ministério de Minas e Energia.
"Isentar o etanol de imposto de importação não me parece ter grandes efeitos. Geralmente não importamos nada de etanol hidratado —o que é vendido na bomba. No caso do etanol anidro, que é misturado à gasolina, importamos só 12% do que consumimos nos últimos cinco anos. Além disso, o preço lá fora não está baixo", disse Eric Gil Dantas, economista do Observatório Social da Petrobras e do Ibpes (Instituto Brasileiro de Estudos Políticos e Sociais).
Isentar a parte importada de imposto não deve ter nenhum efeito relevante no preço final da gasolina. É irreal essa projeção do governo, de que isso [isenção do imposto] vai baratear a gasolina em R$ 0,20.
Eric Gil Dantas, do Observatório Social da Petrobras e do Ibpes
Júlio Maria Borges, sócio-diretor da JOB Economia e Planejamento, concorda. À agência de notícias Reuters, ele afirmou que o etanol dos Estados Unidos "está caro". "O imposto zerado não deve ter efeito no curto prazo", avaliou.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.