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Economista tido como conselheiro de Lula concilia estatais e privatização

Gabriel Galípolo, economista ligado ao PT, ex-presidente do Banco Fator - Reprodução redes sociais
Gabriel Galípolo, economista ligado ao PT, ex-presidente do Banco Fator Imagem: Reprodução redes sociais

João José Oliveira

Do UOL, em São Paulo

07/04/2022 04h00

Resumo da notícia

  • Gabriel Galípolo, 39 anos, foi banqueiro, atuou em governo do PSDB e hoje integra conselhos da Fiesp
  • Economista teve alguns encontros com Lula e fez reuniões com equipe que está formulando política econômica do PT
  • Galípolo não é protagonista entre economistas próximos ao PT, mas perfil moderado e fator novidade contam a favor dele, dizem fontes

Um nome ganhou destaque entre os economistas que estão participando de encontros com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e atuando em grupos de trabalho para discutir eventual programa de governo do PT, em caso de vitória nas eleições neste ano. Gabriel Galípolo, 39, entrou na mira da imprensa depois que apareceu acompanhando a presidente do partido, Gleisi Hoffmann, em um jantar com empresários e banqueiros em São Paulo.

Galípolo não é filiado ao PT, mas tem relações com o partido há vários anos e estudou, durante a formação como economista, alguns conceitos econômicos defendidos pela esquerda, como o papel do Estado e as relações dos governos com o setor privado no desenvolvimento de um país.

O economista também chamou atenção entre esses grupos e contatos do PT pela trajetória profissional diversa. Ele foi presidente de banco, atende empresas privadas em uma consultoria especializada em Parcerias Público-Privadas (PPPs) e concessões públicas e, mais recentemente, passou a integrar dois Conselhos da Federação das Indústria do Estado de São Paulo (Fiesp).

Sem protagonismo, por enquanto

Galípolo teve alguns encontros com o ex-presidente Lula e participou de reuniões de economistas que estão discutindo ideias para um eventual programa de governo.

Com Lula, não teria discutido conteúdo programático, mas ideias em geral sobre a economia. Segundo apurou o UOL, Galípolo é mais influenciado por Lula do que o contrário.

Segundo economistas que participam de diferentes grupos de trabalho, como a Fundação Perseu Abramo (FPA), Galípolo é um dos vários economistas que estão, neste momento, discutindo ideias ainda.

"Até porque não existe um programa de governo, mas como Lula costuma dizer, ideias para contribuição", disse um economista que integra esses grupos.

Amigo de Gleisi

A presença de Galípolo com Gleisi no encontro com empresários e banqueiros ocorreu porque ele frequenta o grupo Esfera Brasil, uma organização criada para fomentar o pensamento e o diálogo sobre o Brasil. O grupo reúne empresários, empreendedores e trabalhadores.

Em entrevista ao UOL, a presidente do PT afirmou que Gabriel "é um amigo" e que, assim como outros 80 economistas, tem ajudado o partido.

"Gabriel é amigo nosso, amigo meu, que estava no jantar. Achei que era importante ele também fazer interação. Ele tem ajudado muito aqui na Câmara com orientação de projetos", afirmou.

Gleisi, no entanto, destacou que Galípolo ajuda o PT assim como o grupo de economistas que se reúne na Fundação Perseu Abramo, presidida pelo ex-ministro Aloizio Mercadante.

"Nós convivemos com economistas mais jovens, com economistas mais seniores, e isso tem sido uma coisa muito boa para o debate dentro do partido e também para a gente falar dos desafios da economia."

Perfil fora de caixinhas

Entre a formação de influência heterodoxa (política econômica mais social) e a atuação profissional na economia privada, Gabriel Galípolo chama atenção porque "não se enquadra em nenhuma caixinha" nesse mundo de antagonismos, apurou o UOL.

Para Galípolo, políticas econômicas não devem opor Estado e privado, mas encontrar os melhores modelos para cada situação - seja por meio de uma empresa estatal, concessão, PPP ou privatização.

Quem já esteve com o economista, diz que Galípolo costuma comentar que há casos de privatizações que deram muito errado, assim como existem estatais que também não funcionam adequadamente.

O modelo de empresa não deve ser um fim, mas um meio, diz ele. Privatizar para sanear contas públicas atrasadas, por exemplo, não faz sentido, já afirmou ele. Para Galípolo, o Estado não pode ser dissociado da sociedade porque ele é o próprio processo democrático.

Pode ganhar espaço no PT

Se a linha que vai orientar o programa do PT for nesse caminho, é bem provável que Galípolo ganhe espaço junto ao partido e, futuramente, venha a integrar o governo, disse um economista que acompanha os trabalhos.

Embora afirmem que não existe, neste momento, um protagonismo de Galípolo na formulação de ideias para um plano de governo do PT, pessoas que integram esses grupos destacam que o perfil do economista pode levá-lo a um novo status ao longo dos próximos meses.

"O GG é o cara certo, na hora certa. Explico: ele deixou o banco, está solto, jovem, competente tecnicamente e pode ser apresentado como novidade. Menos mal que isso ocorra com alguém preparado", disse um economista que integra os grupos de estudos ligados ao PT e que conhece Galípolo há vários anos.

Parceria com Belluzzo

Economista formado pela PUC-SP na turma de 2004, fez na mesma universidade mestrado em economia política, com a tese "A Lei do Valor como Limite ao Desenvolvimento da Economia Brasileira".

Ele traçou na academia uma trilha que o poderia classificar como economista heterodoxo.

Em outras palavras, pertence a linhas de pensamento que defendem modelos de investimentos em infraestrutura em que o Estado planeja e fomenta a atração de investimentos privados.

A parceria com Luiz Gonzaga Belluzzo, um dos economistas mais citados dessa escola de pensamento, reforçaria esse perfil.

Eles escreveram três livros em parceria: "Dinheiro: O Poder da Abstração Real, publicado em outubro do ano passado, "A escassez na Abundância Capitalista, em 2019, e "Manda Quem Pode, Obedece Quem Tem Prejuízo", de 2017, todos pela Editora Contracorrente.

Nos trabalhos, Belluzzo e Galípolo revisam o pensamento de economistas contemporâneos e clássicos para abordar temas como a globalização desigual e combinada, destacando as metamorfoses da riqueza capitalista e o avanço do rentismo, a dominância financeira e o aumento da desigualdade.

A aproximação de Galípolo com o grupo de pensadores e formuladores de políticas econômicas do PT inclui o compartilhamento de visões com o ex-prefeito de São Paulo e ex-ministro da Educação no governo Lula, Fernando Haddad.

Eles escreveram juntos recentemente, por exemplo, o artigo "Criação de Moeda Sul-Americana Pode Acelerar Integração Regional", em que defendem a criação de uma moeda sul-americana para impulsionar a integração regional, fortalecendo a soberania monetária dos países da América do Sul, que enfrentam limitações econômicas decorrentes da fragilidade internacional de suas moedas.

Em 2010, o economista ajudou a construir o plano de governo do ex-ministro Aloizio Mercadante, atual presidente da FPA, em sua candidatura ao governo de São Paulo.

Atuação na economia real

Mas a trajetória profissional de Galípolo mostra que o economista não pode ser enquadrado como um heterodoxo, defensor absoluto do papel do Estado como indutor do desenvolvimento econômico, afirmam pessoas que convivem com ele.

Galípolo criou em 2009 a consultoria que leva seu sobrenome para atender empresas e projetos relacionados a PPPs e concessões públicas.

E essa firma foi criada depois que ele teve passagens pelo governo paulista, de gestão do PSDB, em 2007 e 2008, durante período de José Serra. Trabalhou na diretoria de Estruturação e Projetos, da Secretaria de Economia e Planejamento, e na chefia da assessoria econômica, na Secretaria de Transportes Metropolitanos.

O conhecimento no tema e a experiência acumulada na consultoria credenciaram Galípolo para assumir a presidência do Banco Fator, instituição financeira com histórico no financiamento de projetos de infraestrutura e financiamento corporativo via mercado de capitais, em 2017, até 2021.

E mais recentemente, Galípolo passou a integrar dois conselhos da Federação das Indústria do Estado de São Paulo (Fiesp), a partir de fevereiro deste ano. Ele é um dos 32 integrantes do Conselho Superior de Infraestrutura (Coinfra) e um dos 26 membros do Conselho Superior de Economia (Cosec).