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'Rentabilidade de bancos não é excepcional', defende presidente da Febraban

Presidente da Febraban, Isaac Sidney, afirma que existe competição entre os bancos no Brasil - Divulgação/Febraban
Presidente da Febraban, Isaac Sidney, afirma que existe competição entre os bancos no Brasil Imagem: Divulgação/Febraban

Fabrício de Castro

Do UOL, em Brasília

30/04/2022 04h00

O presidente da Febraban (Federação Brasileira de Bancos), Isaac Sidney, defende que a rentabilidade dos bancos brasileiros não foge do padrão para o setor. Em entrevista exclusiva ao UOL, ele classifica como uma "falácia" a ideia de que as instituições no país possuem excesso de rentabilidade. Além disso, afirma que existe competição entre os bancos no Brasil.

Os comentários de Sidney, que antes de comandar a Febraban foi funcionário de carreira do Banco Central —órgão regulador do setor bancário brasileiro— ocorrem após um estudo da empresa de análise de dados financeiros Economatica indicar que, dos dez bancos mais rentáveis do mundo, quatro são brasileiros. São eles: Santander (Brasil), Itaú Unibanco, Banco do Brasil e Bradesco.

O levantamento da Economatica considerou bancos que possuem ativos acima dos US$ 100 bilhões —na prática, as maiores instituições financeiras do mundo. No ranking dos dez mais rentáveis, os outros seis são bancos dos Estados Unidos e do Canadá. Os dados se referem ao desempenho das instituições em 2021.

O UOL questionou Sidney sobre os motivos para os bancos brasileiros serem tão rentáveis.

Isso [rentabilidade elevada dos bancos brasileiros] é outra falácia, fruto de uma ladainha chata que já cansou. A rentabilidade do setor bancário não é excepcional, nem está desalinhada da realidade de outros setores da economia brasileira ou do desempenho do setor bancário em outros países.
Isaac Sidney, presidente da Febraban

Outros setores são mais rentáveis, diz executivo

O presidente da Febraban diz que outros setores da economia possuem rentabilidade superior à dos bancos.

"Quando pegamos as mil maiores empresas do Brasil, conforme levantamento feito anualmente pelo jornal Valor Econômico, os bancos ficaram em 16º lugar na rentabilidade setorial no ano de 2020. Ou seja, simplesmente outros 15 setores foram bem mais lucrativos que os bancos no ano crítico da pandemia", diz Sidney.

O executivo afirma ainda que, ao se comparar o setor bancário brasileiro com o de outros países, sobretudo os emergentes, o Brasil não é o mais rentável. "Perdemos para o México e a Argentina, por exemplo."

Concentrado, mas disputado

A Febraban também defende uma ideia que, há anos, o próprio Banco Central tem difundido: a de que o fato de haver concentração no setor não significar pouca concorrência. A federação diz que a concentração no país é moderada. "A atividade bancária, como outras que exigem elevados volumes de capital, tem maior grau de concentração, em especial no chamado varejo bancário", pontua Sidney.

A avaliação sobre isso não é consensual nem mesmo entre estudiosos no Brasil. Há acadêmicos que citam a existência de um oligopólio, com poucos bancos controlando a maior parte do mercado, o que prejudica a concorrência. Outros afirmam que, apesar de cinco bancos (os quatro da pesquisa da Economatica, mais a Caixa Econômica Federal) controlarem a maior parte do mercado, há uma disputa acirrada entre eles.

Posso assegurar que temos, no Brasil, um setor bancário extremamente competitivo e, mais que isso, aberto à entrada de novos concorrentes, tanto locais como estrangeiros. Não existem barreiras regulatórias que impeçam o ingresso de novos concorrentes em nosso mercado bancário. Se o setor bancário brasileiro tivesse uma rentabilidade excepcional e, sendo, como é, aberto à entrada de novos concorrentes, qual a razão de não haver grandes players [competidores] globais no nosso setor? A realidade é que o mercado bancário brasileiro tem bastante concorrência.
Isaac Sidney, presidente da Febraban

Rentabilidade não depende dos juros

Sidney também contesta a avaliação de alguns economistas de que a Selic (taxa básica de juros) mais alta favorece o resultado dos bancos. Segundo ele, a rentabilidade depende dos spreads —diferença entre o custo de captação de recursos, pelos bancos, e o que é cobrado do cliente na ponta final— e não do nível dos juros.

"Taxas de juros elevadas, como as que temos historicamente no Brasil, são um forte indicativo de uma distorção estrutural na economia, o que vem de décadas, e pouco tem feito o poder público para enfrentar esse problema", diz Sidney. "Com inflação sob controle, equilíbrio das contas públicas efetivamente preservado —o que infelizmente não estamos vendo— será possível iniciar o processo de redução ou normalização da Selic. E a economia vai poder voltar a crescer de forma sustentada, o que será bom para as empresas, para as famílias e para os bancos."