Mesbla voltou: ícone dos anos 1980 dominou varejo e ruiu após hiperinflação
A loja de departamento Mesbla, que anunciou seu retorno apenas nas vendas onlines, marcou época no Brasil durante mais de oito décadas, principalmente entre 1970 e 1990. Falida há 23 anos, a empresa pode ser desconhecida do público mais jovem, mas chegou a ser líder do varejo.
Instalada no país em 1912, a Mesbla viveu seu auge nos anos 1980, quando chegou a ter 180 pontos de venda e mais de 28 mil funcionários em todo o Brasil, diz Denis Medina, economista professor da FAC-SP (Faculdade de Comércio de São Paulo), ligada à Associação Comercial de São Paulo.
A Mesbla se destacava por vender praticamente de tudo, de móveis a roupas, de utensílios domésticos a perucas. "Ela tinha um leque de vendas muito, muito amplo mesmo", afirma.
Mas não eram apenas os produtos que faziam os olhos do consumidor brilharem, havia também a estrutura dos estabelecimentos. O coordenador do CEV-FGV (Centro de Excelência em Varejo da Fundação Getúlio Vargas), Maurício Morgado, recorda que a Mesbla tinha espaços imponentes, como megalojas que comportavam bem a gama de ofertas.
"A Mesbla tinha lojas muito bem montadas, decoradas e com bom atendimento. Com certeza, inspirava outros varejistas", declara.
Parte do sucesso da empresa é explicado pelas campanhas publicitárias, principalmente na TV. A Mesbla reuniu alguns dos principais artistas da televisão brasileira nas décadas de 1980 e 1990, como o ator Diogo Vilela e as atrizes Andréa Beltrão e Regina Casé.
Novos concorrentes e hiperinflação
Mas nem mesmo as estrelas dos anúncios conseguiram manter a gigante do varejo de pé.
Especialistas ouvidos pela reportagem dizem que o modelo de loja de departamento perdeu espaço para empresas especializadas em determinados itens, como as Casas Bahia, por exemplo, que comercializam essencialmente móveis, eletrodomésticos e eletrônicos.
A popularização dos shoppings centers, com suas inúmeras lojas de marcas brasileiras e internacionais, também é um ponto a ser destacado, diz Morgado.
A falta de organização nas prateleiras de uma loja que vendia quase de tudo foi substituída por empresas que tinham nas vitrines produtos específicos. "Algumas souberam se adaptar, como a Renner, que existia nesse modelo [de departamento] e hoje vende roupas e acessórios", diz.
Medina afirma que o fim dos anos 1980, marcados por uma superinflação, foi determinante para a derrocada da Mesbla.
Na virada para a década seguinte, os diretores da empresa, que eram mais de 40, estocaram mercadorias em excesso por temerem um aumento ainda maior do preço de bens e serviços.
No entanto, a chegada do Plano Real estancou a inflação altíssima e mostrou que a decisão foi um erro de estratégia, diz o professor. "O excesso de tudo trouxe prejuízos para a Mesbla", afirma.
Dívidas de R$ 1 bilhão
Já no final da década de 1990, o empresário Ricardo Mansur comprou a Mesbla e sua concorrente direta, o Mappin, que também faliu. Mas não deu certo.
Após acumular dívidas de R$ 1 bilhão, Mansur deixou o comando das companhias. Naquela época, os diretores de ambas buscavam um empréstimo de R$ 102 milhões para pagar salários, fornecedores, aluguéis e comprar mercadorias. Tentativas de vendê-las a empresários estrangeiros não foram bem-sucedidas.
A Mesbla, sob o comando de Mansur, decretou falência em setembro de 1999. O estoque de produtos foi colocado à venda com preços de promoção. À época, uma reportagem do Jornal do Commercio informou que o mercado refletiu que a estratégia de capitalizar a empresa fazendo caixa e aumentar seu valor de mercado se mostrou um erro.
De acordo com os analistas, a Mesbla continuava sem foco, tentou atrair consumidores de classes mais baixas e desvalorizou o atendimento ao consumidor.
A empresa ensaiou um retorno em 2009, com a criação de uma loja online, mas não foi para frente. A ambição de um retorno, agora restrito ao e-commerce, se concretizou em maio deste ano.
"Hoje não há nenhuma empresa no Brasil com a abrangência de produtos da Mesbla [de antigamente]. Não há nada semelhante", diz Medina.
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