Europa vai conseguir cortar a dependência do gás russo a tempo?
A ameaça de corte de gás russo para a Europa se torna mais real a cada dia que passa. A primeira ação desse tipo aconteceu no dia 27 de abril, quando a Rússia parou de fornecer o produto para Polônia e Bulgária. E, apesar de ter sido anunciado em março, o movimento drástico deixou os países do bloco europeu preocupados —afinal, 40% do total do gás importado por eles vem da Rússia.
Por enquanto, o fornecimento de gás continua acontecendo para diversos países da UE (União Europeia), mas a dúvida que fica é: será que a Europa conseguiria cortar a dependência do produto russo a tempo?
É possível cortar a dependência do produto?
Segundo Paulo Dutra Costantin, economista e coordenador do curso de economia do Centro Universitário Faap (Fundação Armando Alvares Penteado), os países não têm condições de substituir as fontes primárias de energia, como o gás, tão rapidamente.
Por isso, o impacto econômico seria inevitável em caso de corte total do produto vindo da Rússia.
"O setor siderúrgico, por exemplo, precisa de energia para alimentar seus fornos. E a Alemanha, que é grande produtora siderúrgica, tem o desafio de absorver o impacto do aumento dos preços do gás natural e do petróleo em sua matriz de energia. Substituir essas fontes custa muito dinheiro e tempo", disse ele ao UOL.
Mas se o fornecimento de gás fosse cortado de um dia para outro, uma forma para atuar com a falta no curto prazo seria os países com mais gás disponível, como França ou Holanda, compartilharem o produto com países mais dependentes como Áustria e Alemanha, de acordo com o relatório da Bruegel, consultoria especializada em economia.
Além disso, os Estados poderiam criar novos contratos de longo prazo com outros fornecedores de gás e incentivar as empresas de gás a reabastecer suas instalações de armazenamento durante os meses de primavera e verão, apesar dos preços historicamente altos.
No longo prazo, esse corte poderia estimular os Estados europeus a investirem em energias renováveis
Para Paul Donovan, economista-chefe do banco suíço UBS Global Wealth Management, outra forma de agir, caso o gás russo parasse de ser fornecido, seria os países europeus recorrerem aos exportadores de gás existentes, como Qatar, Argélia ou Nigéria.
Corrida contra o tempo
Com medo de que a Rússia corte o fornecimento de gás, algumas nações já estão se movimentando para diminuir a dependência das importações.
Os países bálticos (Estônia, Letônia e Lituânia), por exemplo, anunciaram em abril que cortaram os vínculos com Moscou e se abasteceriam com reservas armazenadas no subsolo, segundo a agência Eurostat.
Segundo o primeiro-ministro da Polônia, Mateusz Morawiecki, o país está preparado para enfrentar a interrupção total do fornecimento russo, pois suas reservas estão em 76% da capacidade de armazenamento.
Em outubro, a nação também contará com a inauguração do gasoduto Baltic Pipe para ajudá-lo. O local terá capacidade para transportar 10 bilhões de metros cúbicos de gás da Noruega.
A Alemanha se manifestou recentemente garantindo que "o fornecimento está atualmente garantido".
A UE também já deu os primeiros passos para tentar diminuir a dependência do gás russo. No final de março, o bloco assinou um acordo com os EUA sobre o GNL (gás natural liquefeito).
Segundo o documento, os EUA fornecerão à Europa, até o final do ano, 10% do produto que o bloco econômico recebe atualmente da Rússia.
Existem as nações que já pensavam em se desvincular da Rússia, no quesito gás, bem antes de começar a guerra contra a Ucrânia. Em 2015, quase 100% do gás que a Lituânia recebia vinha de importações russas, mas a situação mudou nos últimos anos depois que o país construiu um terminal de importação de gás natural liquefeito (GNL) offshore na cidade portuária de Klaipeda.
*(Com agências internacionais)
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