C&A com preço de Renner, Renner com preço de Zara: que houve com as roupas?
Comprar uma "blusinha" em uma loja de departamentos, pagando um preço acessível, já não é algo tão comum. A retomada das atividades presenciais assustou quem entrou nessas lojas depois de um tempo recluso em casa. Um post comentando os valores das etiquetas viralizou nas redes sociais.
"O que aconteceu com as fast fashion? Fui na C&A e os preços eram de Renner. Fui na Renner e os preços eram de Zara. Nem fui na Zara", afirmou uma internauta. A publicação teve mais de 152 mil curtidas e 3.100 comentários até sexta-feira (20)
Representantes dos setores de varejo e da indústria têxtil confirmam que os preços estão mais altos, pressionados pela inflação causada pela guerra da Ucrânia e pela pandemia —incluindo os lockdowns na China, de onde vem a maior parte de produtos do setor.
"Tudo subiu e nos últimos 12 meses o IPP (Índice de Preços do Produtor do Têxtil) ficou em torno de 20% para a confecção, e 11% para o vestuário. Foi quando houve a maior pressão de custos — que já vinha acontecendo, mas as indústrias estavam segurando o repasse ao consumidor", afirma Fernando Pimentel, presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil.
O diretor-executivo da Abvtex (Associação Brasileira do Varejo Têxtil), Edmundo Lima, destaca três pontos de pressão nos preços das lojas:
- Custo da cadeia produtiva: sentido principalmente a partir do segundo semestre de 2020. Houve desorganização do setor com a paralisação da produção, do comércio, com as lojas fechadas.
- Crise da pandemia mais extensa: sentida a partir do primeiro trimestre de 2021, quando houve uma piora na pandemia e a economia não se recuperou como era esperado.
- Novos casos de covid na China: os casos mais recentes e a imposição de lockdown na China, de onde vem a maior parte dos acessórios e tecidos para o mercado brasileiro, também refletiu no preço dos produtos brasileiros.
"Somos grandes importadores de insumos da China e Ásia para produção de tecidos e aviamentos [insumos e acessórios]. O fato de haver o lockdown nesses lugares impacta o suprimento mundialmente", diz Lima. Além disso, a guerra agora tem impacto na logística de distribuição do setor. "Há um congestionamento logístico na região que dificulta o escoamento da produção local afetando a entrega de produtos para o Brasil", afirma.
Consumidores sentem no bolso
Nas ruas do centro do Rio de Janeiro, os consumidores ouvidos pelo UOL sentiram o impacto dos preços. Para eles, o aumento foi observado a partir do segundo semestre de 2021, quando voltaram às ruas para trabalhar. Até as promoções já não são como antes. Na opinião dos consumidores, os aumentos estão generalizados, seja em peças para adulto ou crianças.
"O preço está bastante alto, praticamente igual, tanto infantil, como adulto. A calça para criança está saindo por R$ 139 e o casaquinho que eu queria levar, por R$ 149, sendo que já comprei até por R$ 69 antes da pandemia. A gente não encontra mais promoção como antes. O jeito é comprar no comércio popular", afirma a atendente Karina Carvalho, 33 anos, que saiu da C&A de mãos vazias. Ela estava à procura de uma calça e um agasalho de criança.
Os dados da inflação medidos pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor) mostram que, em 2020, quando a inflação geral foi de 4,52%, as roupas tiveram redução de 1,95% nos preços — entre elas, as femininas foram as que mais tiveram desvalorização. Em 2021, a escalada dos preços já é perceptível nos dados oficiais. Em 2022, dados consolidados até abril mostram a tendência de aumento. Confira no gráfico abaixo:
O diretor de cenário Douglas Ribeiro, 31 anos, afirma que as peças básicas estão entre as que mais subiram de preço. "A qualidade baixou, e o valor aumentou muito. No camelô, uma camiseta igual custa no máximo R$ 20, e com a mesma qualidade. Hoje prefiro usar esse dinheiro no mercado", opina.
Douglas cita o moletom que está usando na foto, que foi comprado na mesma loja antes da pandemia por R$ 40. "Já vi moletons iguais ao meu na loja, que hoje estão custando o dobro. Por isso cuido muito bem das minhas peças para preservá-las mais tempo". Em 2020, as roupas masculinas tiveram redução de 0,25%. Em 2021, houve aumento de 12,6% e, em 2022, já registram alta de 5,9%.
A dona de casa Jacilene Paes Leme, 59 anos, foi até a Renner para fazer uma troca de uma peça que ganhou de presente e não ficou satisfeita com o que viu. "A peça que eu queria não tinha mais, sendo que não achei o valor compatível para fazer a troca por outra. Tá puxado, depois da pandemia, está tudo muito caro. O aumento é geral. Você não tem mais opção, tudo acima de R$ 100. Tem umas coisas em promoção, mas promoção de R$ 99 não adianta", afirma.
A vendedora Mayra Castro, 20 anos, diz que há tempos não frequentava esse tipo de loja e que ficou surpresa ao acompanhar a irmã a uma delas esta semana.
"Tomei um susto quando fomos à Riachuelo. Gostei de uma calça simples, lisa, para o trabalho. Quando vi o preço estava R$ 119. Fiquei chocada, para não dizer indignada. São três dias de trabalho para pagar. A mesma roupa eu compro na comunidade pela metade do preço e a qualidade é a mesma. Vale mais a pena".
O que dizem as empresas
Em nota, a Renner informou que busca "absorver e reduzir" o impacto da inflação investindo em "estoques enxutos, evitando excedentes".
A Riachuelo diz que "produz entre 65% e 70% do que vende em suas fábricas em Fortaleza (CE) e Natal (RN)", o que permite menor importação e maior facilidade de adaptação. "A marca busca equilibrar os fatores e não repassar 100% do custo aos clientes."
A C&A informa que negocia diretamente com tecelagens para evitar a alta de preços e "manter valores competitivos e acessíveis" e que oferece "cupons de desconto" e acesso ao crédito em cartão da loja.
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