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Noivos mudam dia e decoração para economizar, mas festa ainda sobe até 40%

Alessandra ficou noiva em 2018 e vai casar em setembro deste ano - Acervo pessoal
Alessandra ficou noiva em 2018 e vai casar em setembro deste ano Imagem: Acervo pessoal

Giuliana Saringer

Do UOL, em São Paulo

14/06/2022 04h00

Com a pandemia e a inflação alta, casar ficou mais caro no Brasil. Casais ouvidos pelo UOL enfrentaram mais de um adiamento, cancelamento de contratos e aumento de custos.

Com os orçamentos das festas cada vez mais caros, algumas estratégias usadas para economizar foram trocar o dia da festa —de sábado para domingo— e mudar a decoração, que vai ser montada de acordo com as flores que estiverem disponíveis dentro do valor pago pelo casal sem os reajustes necessários para manter o padrão contratado inicialmente. Mas os casamentos ficaram até 40% mais caros neste ano, mesmo com as tentativas de adaptação.

Troca de dia da festa e novo vestido

A especialista de marketing Alessandra Adam, 33, ficou noiva de Thiago Gualchi, 38, em 2018 e de lá para cá enfrentou várias dificuldades para organizar sua festa de casamento.

Por causa da pandemia, precisou cancelar contratos, o que causou multas, teve que comprar outro vestido de noiva, alugar um novo espaço e trocar a celebração de sábado para domingo —tudo para economizar e realizar o sonho de se casar em 18 de setembro deste ano, um domingo.

Mesmo assim, a festa está 43% mais cara: passou de R$ 30 mil para R$ 43 mil. Os custos extras incluem os preços mais altos dos fornecedores e o valor que pagou de multa ao cancelar o contrato do espaço em que se casaria.

Foram dois adiamentos. De setembro de 2020 para setembro de 2021 e, depois, para setembro deste ano. No primeiro adiamento, Alessandra diz que os fornecedores toparam mudar a data da festa sem cobrar taxas extras. Já no segundo, Alessandra precisou mudar os planos para conseguir manter a celebração.

O bufê pediu reajuste para as comidas e queria cobrar mais pelo aluguel do espaço. No fim, meu casamento precisou virar outro, cancelamos o lugar, a decoração e a banda, que ficou famosa na pandemia e queria cobrar o dobro.
Alessandra Adam, especialista de marketing

Alessandra disse que precisou até trocar de vestido, que estava comprado desde 2019. A noiva diz que ganhou peso durante a pandemia e não conseguiria mais usar a peça. A solução foi mandar fazer outro vestido.

"Na parte das comidas, tínhamos fechado um cardápio em torno de R$ 90 por pessoa. Quiseram reajustar para R$ 140 e ainda pediram que eu pagasse um novo aluguel, porque o valor do espaço tinha aumentado. Tínhamos fechado por R$ 3.000 em 2019 e queriam cobrar cerca de R$ 5.000 a mais pelo espaço e pela comida", afirma Alessandra. A festa será realizada para 90 convidados.

Para driblar a situação, Alessandra preferiu perder cerca de R$ 2.100 para cancelar o contrato e procurar um novo espaço para se casar —R$ 1.600 de multa pelo cancelamento do bufê e R$ 500 pela decoração.

"Íamos nos casar em um sábado, mas decidimos mudar por causa dos preços. Como perdemos fornecedores, quando fui orçar novos para sábado, tudo estava quase 50% mais caro do que tínhamos planejado em 2019. Para domingo, conseguiríamos gastar um pouco menos", afirma Alessandra.

A mudança do sábado para outro dia da semana é uma tendência identificada pelo marketplace Casamentos.com.br, site especializado em ajudar noivos a organizarem seus casamentos.

O sábado continua sendo o mais procurado pelos noivos, mas a busca por outros dias da semana aumentou, especialmente para quem escolhe se casar durante a manhã e ao ar livre.

Casamento ficou R$ 8.000 mais caro para noivos de São Paulo

Mayara Oliveira Mendes, personagem matéria de casamento - Acervo pessoal - Acervo pessoal
Mayara e Ariel se casaram em janeiro deste ano e gastaram R$ 8.000 a mais no casamento
Imagem: Acervo pessoal

Depois de três adiamentos, a publicitária Mayara Oliveira Mendes, 32, conseguiu se casar em janeiro deste ano, em São Paulo, com Ariel Lourenço dos Santos, 32.

O casal começou a organizar o casamento em dezembro de 2019 com a festa marcada para outubro de 2020, mas a pandemia atrasou os planos de Mayara e Ariel.

Mayara afirma que o casamento ficou R$ 8.000 mais caro do que o previsto, por causa de reajustes nos preços e por gastos inesperados —como a compra de álcool em gel e máscara para os 160 convidados da festa.

Nosso maior contrato era o bufê, que incluía espaço, comida, iluminação e DJ. Pagamos reajuste por esses serviços, e pelos serviços contratados à parte, como doces e a assessoria de casamento. Tudo ficou na casa dos 10% de aumento, e o casamento todo ficou uns R$ 8.000 mais caro por isso.
Mayara Oliveira Mendes, publicitária

Espaço ficou 50% mais caro; noivos gastaram R$ 6.000 a mais

Uma noiva de 32 anos, que preferiu não se identificar, gastou cerca de R$ 6.000 a mais no casamento com o aumento no preço do bufê, doces, celebrante e fotografia —a festa passou de R$ 34 mil para R$ 40 mil.

O casamento, que será realizado em uma cidade no interior de São Paulo, estava marcado para maio de 2020 e, depois de três adiamentos, vai acontecer em setembro deste ano.

O aumento no preço do espaço e das comidas foi salgado: o casal precisou pagar 50% a mais para manter o local. Por causa do valor mais alto, ambos consideraram cancelar o contrato e buscar por outro lugar, mas preferiram arcar com o aumento, porque a troca iria sair ainda mais cara —além de causar mais um estresse.

Os outros fornecedores cobraram reajustes mais baixos: 10% no caso dos doces e 5% para o celebrante e para o fotógrafo.

Outra mudança que o casal precisou fazer foi em relação à decoração. Os noivos conseguiram fazer um acordo com o fornecedor para manter o valor pago desde o início do contrato e, no dia da festa, a empresa vai organizar a decoração de acordo com as flores que estiverem disponíveis dentro do valor pago pelo casal.

Setor reclama de inflação e falta de mão de obra

Ricardo Dias, presidente da Abrafesta (Associação Brasileira de Eventos), diz que os casamentos estão de 30% a 40% mais caros neste ano em comparação a 2019, período pré-pandemia.

"Pensando no cenário macro, falamos em 30% a 40% mais caros. Se olharmos só para flores, por exemplo, o aumento chega a 400%", afirma Dias.

Dias afirma que os casamentos adiados devem acontecer, em sua maioria, até setembro deste ano. Depois disso, ainda devem ocorrer algumas festas adiadas, mas com menos intensidade.

Além do reajuste dos preços, Dias declara que a mão de obra está mais escassa.

Metade dos profissionais freelancers de eventos migrou para outras profissões com a pandemia. Existe um aquecimento muito alto do setor e poucos profissionais para trabalhar. Estamos até oferecendo cursos para que as pessoas voltem ao setor.
Ricardo Dias, presidente da Abrafesta

De acordo com o Casamentos.com.br, os itens que mais pesam no orçamento dos noivos são alimentação, espaço e lua de mel.

A alimentação custa em média R$ 10.700, o espaço, R$ 8.120, e a lua de mel, R$ 6.880. Os valores variam de acordo com a região em que o casal decide fazer a cerimônia e com o tipo de casamento escolhido.