Nem auxílio de R$ 1.000 paga os custos da estrada, dizem caminhoneiros
A decisão do governo de propor um auxílio para os caminhoneiros, para tentar amenizar a alta do diesel, não deixou satisfeito quem está na estrada todos os dias. Motoristas ouvidos pelo UOL dizem que o "Pix Caminhoneiro" de R$ 1.000 não paga nem 300 km de distância percorrida. Além disso, o preço do frete não foi atualizado, e há ainda custos com a manutenção do veículo.
O UOL apurou que o ministro da Economia, Paulo Guedes, já bateu o martelo no valor de R$ 1.000, mas há entraves, porque a lei eleitoral proíbe a criação de benefícios em ano de eleição. Para driblar a lei, em tese, o novo auxílio só seria possível a partir de uma PEC (Proposta de Emenda à Constituição), mecanismo que o governo pretende usar. Mas mesmo essa alternativa está sujeita a questionamentos na Justiça.
Na estrada, medo com custos
Carlos de Martim, 42, está na estrada desde os 18. Ele afirma que nunca imaginou que o preço do litro do diesel fosse chegar a R$ 7, e que tem medo de um dia não conseguir mais pagar os custos do trabalho.
A reportagem encontrou o caminhoneiro enquanto ele abastecia em um posto às margens da rodovia Anhanguera, em Campinas, interior de São Paulo. Ele colocou R$ 140 para "ir daqui ali", disse. "Estava indo buscar mais uma carga na cidade vizinha, de Sumaré, sem ter a certeza se iria conseguir ganhar algum dinheiro a mais no dia", afirmou.
Com o diesel a R$ 7,27 o litro, só deu pra abastecer com 14 litros. "Para encher o tanque do meu caminhão, por exemplo, preciso desembolsar R$ 1.080. Não tem conta que fecha", disse.
Mesmo em veículos menores, os custos também são um empecilho para os motoristas. Amauri Oliveira, 54, dirige um VUC (Veículo Urbano de Carga), que tem o tamanho de uma van.
A média de rodagem é um pouco maior que a dos caminhões tradicionais, 9 km/l, mas o impacto econômico também é pesado. Para ele, quanto maior o auxílio, melhor. Até porque, afirma, a conta não envolve apenas o combustível. "Tem a manutenção do caminhão, o preço dos pneus, que também subiu. São muitas coisas em jogo", disse.
'Nos sentimos desvalorizados'
Willian Mendes, 40, é de Carmópolis de Minas, em Minas Gerais. A reportagem o encontrou em um posto na estrada nos arredores de Campinas, a cerca de 450 km de distância da cidade natal. Para voltar para lá, gastaria praticamente um tanque completo.
"Não tem como não voltar [para casa] com uma carga. É simplesmente impossível. Se não, vou pagar para trabalhar", disse, enquanto conversava via celular com agenciadores — pessoas ou empresas que, grosso modo, "vendem cargas" para caminhoneiros autônomos. Ele fazia uma corrida contra o tempo, já que não queria pernoitar na cidade após a entrega.
"Nós nos sentimos muito desvalorizados. Acordamos muito cedo, rodamos uma quantidade enorme de quilômetros por dia para conseguir ganhar valores pequenos", diz.
Mendes sempre teve caminhão, mas começou a rodar na estrada diariamente há três anos. Os irmãos, também caminhoneiros, lutam na estrada para conseguir o sustento.
Para ele, mesmo a proposta de um auxílio de R$ 1.000 não atenderia às necessidades da categoria. "Melhora um pouco, mas ainda está longe do ideal. Até porque o valor do frete não sobe. Eu vejo que dá para encher o tanque só uma vez, e olhe lá, dependendo do lugar", avalia.
Gasto é maior que auxílio
A pedido do UOL, o presidente licenciado da Abrava (Associação Brasileira de Condutores de Veículos Automotores), Wallace Landim, fez uma conta que mostra que o auxílio de R$ 1.000 permitiria rodar de 231 a 289 km, em média.
A conta foi feita baseada no consumo de um caminhão de três eixos, que é em média de 2 km/l, e combustível ao valor médio de R$ 6,90 o litro.
Inicialmente, o governo estudar um valor menor, de R$ 400, que seria suficiente para rodar apenas 100 km, em média.
O professor de Economia do Ibmec-Rio Caio Ferrari afirma que um caminhoneiro gasta de R$ 5.000 a R$ 10 mil com diesel ao mês, se for manter o caminhão rodando direto. Com isso, o auxílio teria pouco impacto no orçamento.
"No geral, é um valor muito baixo em relação ao custo que se tem com o combustível. É uma medida mais para inglês ver, terá pouca eficácia".
A ideia de criar um benefício para caminhoneiros ganhou força no governo após a Petrobras anunciar, na sexta-feira (17), um reajuste de 14,26% no litro do diesel para as distribuidoras. Os dados mais recentes apontam que, na bomba, o litro do diesel custa em média R$ 6,90, de acordo com balanço a ANP (Agência Nacional do Petróleo), podendo chegar a R$ 8,63 — números que ainda não refletem totalmente a alta recente.
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