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Auxílio a caminhoneiros de R$ 400 permitiria rodar só 100 km, em média

Valor que governo quer dar de auxílio a caminhoneiros não ajudaria a reduzir impacto dos custos do diesel, diz categoria - Miguel Perfectti/Getty Images/iStockphoto
Valor que governo quer dar de auxílio a caminhoneiros não ajudaria a reduzir impacto dos custos do diesel, diz categoria Imagem: Miguel Perfectti/Getty Images/iStockphoto

Marcela Lemos

Colaboração para o UOL, no Rio de Janeiro

22/06/2022 15h07

A proposta do governo federal de oferecer R$ 400 de auxílio combustível para caminhoneiros amenizarem a alta do diesel ajudaria os motoristas a rodarem cerca de 100 km com a quantia, segundo cálculos do presidente licenciado da Abrava (Associação Brasileira de Condutores de Veículos Automotores), Wallace Landim. O valor seria insuficiente para os custos mensais da categoria.

A conta leva em consideração um caminhão que faz em média 2 km/l e os valores médio e máximo de diesel praticados no país entre os dias 12 e 18 de junho. Segundo a ANP (Agência Nacional do Petróleo), o valor médio foi de R$ 6,90 por litro, e o máximo foi R$ 8,63. Os números ainda não refletem o último ajuste anunciado pela Petrobras na sexta-feira (17), quando a estatal comunicou uma alta de 14,26% no diesel vendido para as distribuidoras.

Com R$ 400, o caminhoneiro conseguiria pagar 46 litros de combustível a R$ 8,63 e rodaria 92 km. Considerando o valor médio, ele pagaria quase 58 litros e rodaria 116 km.

O professor de Economia do Ibmec-Rio Caio Ferrari afirma que um caminhoneiro gasta de R$ 5 mil a R$ 10 mil com diesel ao mês, se for manter o caminhão rodando direto. Com isso, o auxílio não faria diferença no orçamento.

No geral, é um valor muito baixo em relação ao custo que se tem com o combustível, é uma medida mais para inglês ver, terá pouca eficácia."
Caio Ferrari, professor de Economia do Ibmec-Rio

Além disso, há outros custos de manutenção do veículo. "É uma medida mais para dar alguma resposta do que para realmente ser alívio no bolso dos caminhoneiros", afirma.

Outros cálculos

Para Wallace Landim, conhecido como Chorão, o auxílio pode render ainda menos, dependendo do desempenho de cada caminhão.

Com o dele, afirma, é possível fazer em média 1,6 km/l o que permitiria percorrer de 92 km a 74 km, considerando os valores médio e máximo do diesel. Neste caso, valor permitiria um deslocamento curto, como de São Paulo a Vinhedo, no interior do Estado, que ficam a 76 km de distância.

Se levar em consideração um caminhão com melhor desempenho, de 3 km/l, por exemplo, a distância percorrida seria de de 173 km a 139 km — o que não permitiria uma viagem de ida e volta à mesma cidade.

"Esse valor [de R$ 400] não abastece nem uma caminhonete. Caminhoneiro não precisa de esmola. Precisamos que o governo tenha coragem e responsabilidade para mexer na política de preço da Petrobras", afirmou ao UOL.

Proposta aguarda parecer

Diante dos aumentos frequentes dos preços dos combustíveis, o governo Jair Bolsonaro (PL) e o Congresso Nacional decidiram ampliar o Auxílio Gás e criar uma auxílio para caminhoneiros, categoria que vem sofrendo constantemente com as altas anunciadas pela Petrobras. No entanto, a medida, que ocorre a 4 meses das eleições, tem sido criticada pelos próprios beneficiados.

De acordo com o jornal Folha de São Paulo, os detalhes da proposta foram acertados na terça-feira (21) em uma reunião entre o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, e os presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). A informação foi confirmada por técnicos e integrantes do Palácio do Planalto.

A proposta aguarda ainda um parecer da AGU (Advocacia Geral da União), pois há o receio de que a criação do vale aos caminhoneiros viole a lei eleitoral. A alternativa segundo parte do governo é a inclusão do vale combustível em uma PEC (Proposta de Emenda à Constituição) para afastar os questionamentos eleitorais.

A expectativa é contemplar entre 700 mil e 900 mil caminhoneiros autônomos. O valor levou em consideração o valor de R$ 400 pago no programa Auxílio Brasil.