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Bilionário aos 87: como italiano foi da demissão aos 60 à lista da Forbes

Giuseppe Crippa ficou bilionário aos 87 anos de idade - LAILA POZZO/TECHNOPROBE
Giuseppe Crippa ficou bilionário aos 87 anos de idade Imagem: LAILA POZZO/TECHNOPROBE

Rosália Vasconcelos

Colaboração para o UOL, do Recife

30/06/2022 04h00

A trajetória do italiano Giuseppe Crippa pode ser inspiradora para quem alimenta o sonho de um dia se tornar muito rico. Aos 87 anos, Crippa, que é o fundador da empresa Technoprobe, entrou para a lista de bilionários do mundo - elaborada pela Forbes - com uma fortuna avaliada em US$ 3,9 bilhões (cerca de R$ 14,7 bilhões).

Mas nem sempre foi assim. Na verdade, Giuseppe precisou de uma demissão voluntária para chegar ao topo. Após 35 anos trabalhando na empresa franco-italiana de semicondutores STMicroelectronics (STM), Crippa recebeu uma oferta de indenização, caso tivesse interesse em se aposentar. Ele abraçou a ideia.

Era 1995 e ele tinha acabado de completar 60 anos. Para a maioria das pessoas, seria um momento perfeito para encerrar a carreira e aproveitar a terceira idade com tranquilidade e conforto.

Mas, com a experiência que havia adquirido e longe de acreditar que sua vida profissional tinha chegado ao fim, Giuseppe decidiu usar o valor da indenização para investir na ideia que desenvolvera seis anos antes, em 1989, na garagem e no sótão de sua casa: uma pequena fábrica de dispositivos de teste de microchip -conhecidos como cartões de sonda.

Um de seus três filhos, Cristiano, era entusiasta da ideia e, mais do que isso, tornou-se também seu sócio, aos 19 anos. Após o desligamento da STM, pai e filho passaram a se dedicar integralmente ao negócio. A esposa de Crippa, Mariarosa, também contribuiu com ajuda administrativa.

Em 1996, já colhendo os frutos de sua dedicação, Crippa abriu o primeiro escritório da empresa, na cidade de Cernusco Lombardone, a nordeste de Milão, na Itália, lugar onde reside até hoje. Naquela época, ele contava com apenas 10 funcionários.

Expansão e venda para grandes marcas

Nos primeiros 15 anos, a Technoprobe vendeu praticamente toda a sua produção para a STMicroelectronics. Hoje, o portfólio de clientes inclui Apple, Qualcomm, Samsung e Nvidia, bem como as fabricantes de semicondutores AMD, Intel e TSMC.

Na década de 2000, a Technoprobe iniciou seus planos de expansão e abriu escritórios na França, Singapura e Estados Unidos, em 2007. Em 2010, expandiu para Taiwan e Filipinas, período em que a empresa conquistou mais clientes. Com essa trajetória, a empresa se tornou uma das maiores fabricantes de cartões de sonda do mundo.

Três décadas após sua fundação, em fevereiro deste ano, os conselheiros da Technoprobe decidiram abrir o capital da empresa na Bolsa de Valores Euronext Growth Milan, conferindo a Giuseppe Crippa o título de bilionário, figurando na posição 951 da lista da Forbes.

Embora detenha 75% das ações da empresa, Crippa não está mais diretamente envolvido na Technoprobe. O comando do conselho ficou a cargo de seus três filhos: além de Cristiano, Roberto (formado em engenharia química) e Monica. O sobrinho Stefano Felici, formado em engenharia elétrica e comunicações, está no cargo de CEO.

Expansão e abertura de capital

De acordo com a Forbes, a abertura de capital da empresa foi motivada pelo excelente desempenho que a Technoprobe vem tendo desde 2019, quando embarcou em um plano de investimento de US$ 100 milhões, com vistas a ampliar sua participação no mercado.

Desse valor, US$ 40 milhões foram aplicados numa microfábrica, com sede em Van Nuys, na Califórnia (EUA), que produz componentes impressos em 3D para cartões de sonda. Essa aquisição ajudou a Technoprobe a fazer placas de sonda menores e mais eficientes, acompanhando a evolução dos chips, que estão cada vez menores e mais complexos.

Dois anos depois, já em 2021, a Technoprobe conseguiu ultrapassar seu principal concorrente, a empresa americana FormFactor.

Além da sua história de sucesso à frente da Technoprobe, a trajetória pessoal de Giuseppe Crippa é de superação e sobrevivência. Nascido em 1935, poucos anos antes da Segunda Guerra Mundial, o italiano passou sua infância se abrigando para fugir de ataques aéreos com sua família.

Só após a guerra, ele conseguiu frequentar uma escola técnica de engenharia na cidade de Bergamo. Aos 25 anos, Crippa passou a trabalhar em uma empresa de semicondutores, quando teve seu primeiro contato com o universo de microchips.