Logo Pagbenk Seu dinheiro rende mais
Topo

Nota de R$ 20 faz 20 anos; o que dava para comprar com ela antes e agora?

A inflação acumulada do período é de 254% - Reprodução/Banco Central
A inflação acumulada do período é de 254% Imagem: Reprodução/Banco Central

Luciana Cavalcante

Colaboração para UOL

05/07/2022 04h00

Muita coisa mudou desde que a cédula de R$ 20 foi criada, em 2002. A economia do país era outra e dava para encher mais a sacola do mercado com ela. Hoje em dia, não compra quase nada.

Isso ocorre por causa da inflação. O custo de vida acumulado no período é de 254%, segundo o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo). Se fosse corrigida pela inflação, hoje a cédula deveria valer R$ 69.

O coordenador do IPC (Índice de Preços ao Consumidor) da Fundação Getúlio Vargas, André Vaz, explica que, embora o salário mínimo tenha tido um reajuste até maior do que a inflação no mesmo período, passando de R$ 200 para R$ 1.212 (aumento de 500%), o valor pago hoje não cobre as necessidades básicas das famílias brasileiras.

"Essas contas não são perfeitas, até porque com relação aos alimentos básicos como arroz e feijão, carne, cada um teve um impacto diferente. A variação de inflação de cada alimento tem a sua alta acumulada no período. Isso porque só estamos falando de alimentos, mas outras coisas de consumo tiveram aumentos, como energia e transporte público", avalia.

A população de baixa renda é a mais afetada. "Quem recebe mais pode proteger o seu dinheiro da inflação, fazendo investimentos, que hoje estão com rendimento acima da inflação média. O pobre não tem dinheiro para se proteger da inflação, mal tem para comprar os alimentos", afirma Vaz.

Poder de compra

Usando como exemplo a variação de preço dos 13 itens que compõem a cesta básica pesquisada pelo Dieese (Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos), entre maio de 2002 e maio de 2022, fica mais claro o quanto a cédula de R$ 20 perdeu de seu poder de compra.

No Rio, por exemplo, a cesta básica passou de R$ 125,55 para R$ 723,55. Em São Paulo, foi de R$ 129,26 para R$ 777,93. Entre os alimentos que mais subiram de preço, estão a carne, a manteiga e o café.

O que dava para comprar com R$ 20?

Tanto em São Paulo como no Rio de Janeiro, uma cédula do mico-leão-dourado, em 2002, garantia uma boa lista de compras.

Em São Paulo, dava para levar para casa um quilo de carne (R$ 6,58), um de arroz (R$ 0,98), um de feijão (R$ 2,07), 900 ml de óleo de cozinha (R$ 1,42), um quilo de farinha (R$ 1,24), um de café (R$ 6,32), um de açúcar (R$ 0,79) e sobraria troco de R$ 0,60.

No Rio de Janeiro, daria para comprar todos os itens da lista de São Paulo, e ainda um quilo a mais de arroz. A lista seria um quilo de carne (R$ 6,02), dois de arroz (R$ 1,27 cada), um de feijão (R$ 2,07), 900 ml de óleo de cozinha (R$ 1,53), um quilo de farinha (R$ 1,07), um de café (R$ 6,02) e um de açúcar (R$ 0,75).

O que dá para comprar hoje com R$ 20?

Neste ano, a dificuldade é conseguir comprar alguma coisa com uma única cédula de R$ 20. Tanto em SP como no Rio, só é possível escolher três itens em uma lista de alimentos essenciais.

A compra hoje ficaria restrita a um litro de leite (R$ 5,92), um quilo de feijão (R$ 8,30) e um de arroz (R$ 4,04), em São Paulo. O valor total seria de R$ 18,26, com o troco de R$ 1,74.

No Rio de Janeiro, os mesmos produtos ficam assim: Feijão (R$ 8,22), arroz (R$ 5,37) e farinha (R$ 5,49), num total de R$ 19,08.

Salto da inflação

A supervisora do Dieese/SP, Patrícia Costa, avalia que o reflexo da inflação nos últimos 20 anos no poder de compra da nota de R$ 20 é um movimento normal da economia, mas destaca o salto na inflação nos últimos dois anos.

"A questão não são os 20 anos, mas a perda do poder aquisitivo ocorrida nos últimos dois anos com a inflação. Um exemplo disso é o valor da carne, que em 2019 era de R$ 25 o quilo e neste ano saltou para R$ 47. O que temos para trás é que havia mais controle da inflação, que vinha se mantendo dentro do aceitável para o funcionamento da economia, mas nos dois últimos anos vem destruindo o poder aquisitivo dos salários", diz.