Investir em estradas e portos é opção para seu bolso e ainda ajuda o país
Mais de R$ 1 trilhão — essa é a cifra dos investimentos em infraestrutura que, em diferentes áreas, o governo promete deixar contratada até o fim deste ano. É muito dinheiro para o setor público desembolsar sozinho, o que abre oportunidades para o investidor privado participar de empreendimentos como construção de estradas, modernização de portos e expansão da rede de esgoto a todo o país. E com uma grande vantagem: seus ganhos serão isentos de Imposto de Renda.
Por meio de ações, títulos ou fundos de investimento, você não precisa ser o herdeiro de uma grande empreiteira para fazer dinheiro com megaconstruções no Brasil.
Marcelo Sandri, sócio e analista da Perfin, diz que todos os setores de infraestrutura apresentam oportunidades de investimento, sejam pelo crescimento da demanda ou pela falta de investimento nos últimos anos.
Confira abaixo as oportunidades:
Do saneamento aos aeroportos, Brasil precisa de investidores
Segundo estimativa da consultoria Inter.B, especializada no setor, o Brasil investe menos da metade do que seria necessário para modernizar a sua infraestrutura.
O quadro é crítico, mas também dá a dimensão das oportunidades para o investidor lucrar com infraestrutura, seja financiando projetos concedidos à iniciativa privada, seja entrando, diretamente ou via fundos, no capital das empresas que vão operar tais serviços.
O foco do mercado está hoje voltado a projetos de energia renovável e saneamento básico. O primeiro, além de ter regras bem consolidadas — o que inspira segurança jurídica —, atrai pela perspectiva de transição energética. Já o segundo, considerado o setor mais atrasado de todos, atrai pelo novo marco do saneamento que abriu as portas para o investimento privado entrar em serviços de tratamento de água e esgoto até então prestados exclusivamente por empresas públicas.
As oportunidades não param por aí. Ex-presidente da Sabesp e hoje chefe de infraestrutura da Mauá Capital, Karla Bertocco observa que existe alta demanda por recursos na construção tanto de ferrovias quanto de rodovias, onde vários projetos já foram ou estão perto de serem licitados.
Além disso, projetos de portos, a exemplo do que também acontece nas ferrovias, tornaram-se mais atraentes com as boas perspectivas para as exportações de alimentos. "Existe um conjunto gigantesco de investimentos em infraestrutura nos próximos cinco anos que precisa ser financiado de alguma forma", diz Karla.
A grande vantagem em comprar ações [de operadores de infraestrutura] é que existem várias empresas na Bolsa e as ações estão em preços muito bons atualmente."
Arthur Nehmi, gestor de renda fixa na Sparta Fundos de Investimentos
Proteção contra a inflação
As debêntures incentivadas — como são conhecidos os papéis que financiam obras de infraestrutura essenciais ao país —, pagam uma taxa de juros, acrescida da inflação. A taxa pode variar de acordo com o risco de inadimplência do emissor desses papéis
Elas são uma opção a quem não quer ver o dinheiro corrído pela inflação e, ao mesmo tempo, busca ganhar mais em renda fixa, onde o retorno é garantido no vencimento do título. E, no cenário atual de inflação e juros em alta, e considerando ainda a isenção tributária, o retorno das debêntures se tornou ainda mais interessante.
Do lado do crédito, as debêntures incentivadas [papéis de obras de infraestrutura] são a melhor opção de investimento, mas não dá para olhar a qualquer empresa. Tem que ser empresa com um bom histórico de pagamentos e posicionada em setores que exerçam papel de defesa contra a inflação alta."
Karla Bertocco, sócia e head de infraestrutura da Mauá Capital
Atenção aos riscos
O investidor deve ficar atento aos riscos. É importante ter em conta que as debêntures de infraestrutura não contam com a segurança do FGC (Fundo Garantidor de Créditos), que assegura proteção aos investimentos em renda fixa, em um limite de R$ 250 mil, em caso de falência do emissor dos títulos.
E, do início ao fim da obra, um grande empreendimento em infraestrutura passa por uma série de contratempos — entre eles, a disparada nos preços dos materiais e o aumento dos juros do financiamento. Isso pode encarecer o custo do projeto e, como consequência, comprometer os pagamentos a credores, incluindo os detentores das debêntures.
No curto prazo, o aumento do custo de capital, com a alta de juros, e a inflação, que impacta o valor dos investimentos, demandam um cuidado adicional na seleção dos projetos."
Guilherme Albuquerque, sócio e co-gestor de investimentos em infraestrutura da Navi
Outro entrave é uma possível demora em obter o licenciamento ambiental, o que pode atrasar o início obra — e, consequentemente, demandar mais tempo até o negócio entrar em operação e começar a gerar dinheiro.
Superados estes desafios, há ainda o contexto econômico e político de longo prazo. As concessões duram décadas e ficam sujeitas a mudanças de regras e ações de agências reguladoras no reajustes de tarifas. Por isso, a decisão de investir em infraestrutura deve levar em conta a a segurança jurídica dos projetos.
Uma empresa pode estar num ciclo positivo no momento da emissão das debêntures, porém apresentar dificuldades financeiras posteriores devido a atipicidades de contratos e problemas com fornecedores."
Rafael Ohmachi, head de fundos líquidos da RB Capital Asset
Ganhos de capital sem imposto
Com tantos detalhes, selecionar projetos de infraestrutura não é tão fácil quanto parece. Não à toa, a recomendação de assessores financeiros é de que os investimentos sejam feitos por meio de fundos, onde a tarefa de encontrar os melhores projetos é assumida por uma equipe de profissionais de mercado dedicados a estudar o setor. Por esse trabalho, é cobrada dos investidores uma taxa de administração.
Existem fundos que investem em debêntures — chamados de fundos incentivados de investimento em infraestrutura, ou simplesmente FIs-Infra —, e fundos que compram participações em empresas do setor, os FIPs-IE.
Ambos têm cotas em negociação na Bolsa, o que facilita ao investidor acessá-los pelo home broker, a plataforma online de negociação das corretoras. A diferença é que, enquanto os FIs-Infra estão abertos a investidores em geral, os FIPs-IE são restritos a investidores que têm no mínimo R$ 1 milhão investido.
O resultado desses fundos, obtido com os juros pagos pelas debêntures ou com o lucro gerado pelas empresas nas quais eles investem, é distribuído aos cotistas em dividendos isentos de Imposto de Renda.
Também não se paga Imposto de Renda se houver ganho de capital na hora de vender as cotas. Por exemplo, se o investidor vender por R$ 120 uma cota pela qual pagou R$ 100, o ganho de R$ 20 estará livre de Imposto de Renda — ao contrário dos fundos imobiliários, que contam com isenção nos dividendos, mas não no ganho de capital.
É papel dos fundos avaliar bem os riscos. Projetos de infraestrutura são sofisticados. É preciso saber olhar os riscos e escolher bem os operadores mais confiáveis. Trata-se de uma avaliação mais difícil para o investidor pessoa física."
Karla Bertocco, sócia e head de infraestrutura da Mauá Capital
Porta de saída mais rápida
Além de chegar às debêntures que oferecem a melhor remuneração, cujo acesso é restrito, os fundos são o instrumento pelo qual o pequeno investidor consegue entrar nas companhias de infraestrutura que não estão na Bolsa, ampliando as possibilidades de investimento. Mais do que isso, representam uma porta de saída mais rápida quando se quer deixar o investimento, seja por arrependimento ou pela oportunidade de embolsar, antes da hora, o lucro da aplicação.
Os títulos de infraestrutura geralmente não têm vencimento antes de quatro anos, sendo que, na média, os prazos ficam na faixa de 15 a 20 anos. Caso durante esse longo período você precise do dinheiro, pode ser difícil encontrar outro investidor interessado por seus títulos.
Já nos fundos, a saída é mais fácil, pois as cotas podem ser oferecidas ao grande número de investidores que estão na Bolsa. Só não se esqueça que, a depender do momento do mercado, o valor obtido nessa saída pode ser maior ou menor do que o preço pago na entrada.
Entendemos que a melhor forma de ele entrar em debêntures incentivadas é por meio de fundos, nos quais a definição de onde e quanto investir é delegada a uma equipe de gestão especializada."
Alessandro Vedrossi, sócio-diretor da Valora Investimentos
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