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Quer ficar milionário na Bolsa em dez anos? Descubra quais são os caminhos

Deagreez/Getty Images/iStockphoto
Imagem: Deagreez/Getty Images/iStockphoto

Colaboração para o UOL, em São Paulo

17/11/2022 04h00

Quem quer ser um milionário? Explorado por programas de televisão, promoções e marketing digital, o sonho de conquistar a marca de R$ 1 milhão —uma espécie de limiar da riqueza no imaginário popular— estimula muitas vezes o interesse pela Bolsa. Mas assim como não dá para chegar à "pergunta do milhão" contando apenas com a sorte, ficar milionário em pouco tempo no mercado financeiro depende de estudo, disciplina e dedicação.

Não conte com o "bilhete premiado" na Bolsa, aquele investimento, ignorado por todos, que promete transformar poucos reais no primeiro milhão. Na vida real, isso só acontece quando se tem condições de investir constantemente, conhecimento e tempo para identificar quais ativos e estratégias são capazes de gerar dinheiro quando o mercado está em alta ou em baixa.

O UOL levantou com especialistas de investimento diferentes formas de alcançar, tomando cuidado com o risco, o primeiro milhão em no máximo dez anos. É uma meta considerada bastante ousada e, por mais que você esteja preparado ou bem assessorado, nunca haverá garantia de sucesso.

Porém, há uma boa notícia a quem está disposto a começar agora: os juros estão altos, o que permite perseguir essa cifra com boa parte do dinheiro aplicada em investimentos de baixo risco.

Chegando a R$ 1 milhão via fundos

Fundos de ações - Dilok Klaisataporn/iStock - Dilok Klaisataporn/iStock
Imagem: Dilok Klaisataporn/iStock

Caso decida investir somente por meio de fundos, o investidor conservador terá que realizar todo mês aporte de R$ 4.800 para chegar ao primeiro milhão ao fim de dez anos. Já no caso do investidor arrojado, esse esforço financeiro cai para R$ 3.800 (ou seja, R$ 1.000 a menos) desde que o investimento entregue o retorno esperado no período. No meio-termo, também alcançando os resultados almejados, os aportes de um investidor de perfil moderado seriam de R$ 4.400 por mês.

Os números acima são calculados pelo planejador financeiro da Fiduc, Alexandre Santiago, em simulação que leva em conta a construção de patrimônio, partindo do zero, por um investidor de 41 anos, já que a idade, embora não seja uma regra, pode influenciar na disposição a correr risco. A referência é uma carteira composta por quatro categorias de fundos:

  • Fundo de renda fixa: Investe em títulos de dívida emitidos pelo Tesouro Nacional, os mais seguros, e por bancos e empresas
  • Fundo de ações: Investe em ações negociadas em Bolsa, podendo, a depender das regras do fundo, adotar estratégias de proteção, o chamado "hedge", para limitar eventuais prejuízos
  • Fundo multimercado: Investe em ativos tanto de renda fixa, como títulos públicos, quanto de renda variável, como ações e moedas
  • Fundo internacional: Investe em ativos negociados fora do Brasil. Representa uma forma de dolarizar investimentos para o investidor se proteger de momentos de tensão, quando o mercado corre a moedas fortes.

Por que os aportes do investidor conservador são maiores? Os títulos de renda fixa entregam menor retorno, porém oferecem maior proteção ao capital, devendo, dessa forma, ocupar a maior parte do portfólio de investidores conservadores.

Os investidores mais arrojados, por sua vez, se dispõem a investir a maior parte do dinheiro em fundos posicionados em renda variável, pois topam assumir mais riscos em busca de maiores retornos. Quanto menor o retorno da carteira, maior a necessidade de investimento.

É importante considerar que os resultados simulados pela Fiduc só serão possíveis se os fundos entregarem os retornos esperados: 10,75% ao ano na carteira conservadora; 12,42% na carteira de risco moderado; e 15,08% na carteira mais arrojada.

Mesmo que investir via fundo signifique transferir o trabalho de encontrar as melhores opções de investimento a um gestor, o investidor precisa estar constantemente atento a quais fundos estão mais bem posicionados para entregar o retorno desejado, realizando trocas quando necessário. Dificilmente será possível preservar o rendimento necessário para chegar ao primeiro milhão mantendo os mesmos fundos do começo ao fim do investimento.

"A composição da carteira certamente oscilaria mais nos fundos de ações e fundos internacionais", afirma Alexandre Santiago.

O planejador financeiro da Fiduc pondera ainda que os resultados da simulação podem mudar a depender de variáveis como taxa de juros —quanto menor a taxa, maior a necessidade de investimento—, inflação e Imposto de Renda, dado que ambos consomem o valor investido.

Quero ser milionário, mas sem investir tanto

Mulher com dinheiro - Edson Souza/Getty Images/iStockphoto - Edson Souza/Getty Images/iStockphoto
Imagem: Edson Souza/Getty Images/iStockphoto

Mesmo entrando em ativos de maior retorno da renda variável, como ações e fundos imobiliários, os aportes mensais podem continuar inacessíveis a muitos investidores. Nesse caso, uma forma de reduzir o esforço financeiro é por meio de estratégias de alavancagem —isto é, entrar em ativos cujos ganhos potenciais significam multiplicar em muitas vezes o valor investido. O outro lado dessa moeda é que você pode perder todo o valor investido.

O risco sobe, portanto, em alguns degraus, de modo que esse passo só deve ser considerado pelos investidores agressivos, que estão cientes de como os instrumentos financeiros menos convencionais funcionam. Ainda assim, é preciso cuidado para não colocar parte significativa do patrimônio em risco.

Acrescentando investimentos em opções, ao limite de 10% de uma carteira arrojada de ações (55%) e títulos públicos e de bancos (35%), simulações feitas por analistas da Terra Investimentos apontam ser possível chegar a R$ 1 milhão investindo R$ 3.000 por mês. Só que para isso, além de considerar o risco das opções, o investidor terá que superar o desempenho médio do mercado, algo que exigirá um portfólio sintonizado com as mudanças de tendência da Bolsa.

Como as opções geram dinheiro? As opções permitem ao investidor buscar ganhos independentemente do momento do mercado. As "puts", como são conhecidas as opções de venda, dão lucro a seu detentor quando as ações de referência estão em queda. Isso porque o dono da put, nesse caso, teria o direito de vender a ação por mais do que ela vale no mercado.

Já as "calls", opções de compra, dão lucro quando as ações sobem, já que o dono da opção asseguraria nesse caso o direito de comprar as ações a um preço menor do que elas valem no mercado. A vantagem é que as opções custam muito menos do que as ações. Assim, é possível lucrar com os movimentos de preços das ações a partir de um investimento muito menor.

O que pode dar errado com as opções? Se os preços das ações caminharem na direção oposta da estratégia (por exemplo, subirem ao invés de caírem no caso de uma put), o investidor pode perder todo o dinheiro se não conseguir vender a opção antes de seu vencimento. Afinal, investiu numa opção que não deu em nada.

Apesar da fama de ativo extremamente arriscado, pois pode levar investidores à ruína em um intervalo muito menor do que as tradicionais ações, as opções apresentam uma excelente relação de risco e retorno. Mas não se pode desprezar o gerenciamento de risco.
Régis Chinchila, analista da Terra Investimentos

Dá para virar milionário sem correr risco?

Correr risco - Getty Images/iStockphoto/champja - Getty Images/iStockphoto/champja
Imagem: Getty Images/iStockphoto/champja

Responsável pela área de assessoria de investimentos da RB Investimentos, Claudia Ramenzoni considera que os juros altos e a inflação em queda tornam o momento favorável à acumulação de capital. "O investidor consegue ter bom retorno sem fazer grandes esforços", diz a especialista.

Levando em conta os juros atuais, ela calcula ser possível chegar ao primeiro milhão com aportes mensais de R$ 3.500 a R$ 5.000 em carteiras nas quais os títulos públicos e privados de renda fixa representam, a depender do perfil do investidor, entre 70% e 100% do total investido.

Essa composição deve ser considerada até mesmo pelos investidores mais arrojados, já que eles também deverão se tornar mais conservadores quando estiverem próximos ao objetivo.

"A parcela em renda variável deve ser maior no início dos investimentos e ser reduzida ao longo do tempo. Não vale a pena correr o risco de ter 20% em ações às vésperas do resgate final. Uma eventual crise aguda e inesperada pode impactar todo o esforço de dez anos", declara Ramenzoni.

A responsável pela assessoria de investimentos da RB destaca que os seguintes pontos devem ser observados pelo investidor ao estruturar uma carteira:

  • Solicitar ao assessor de investimento uma seleção das melhores alternativas disponíveis dentro de cada classe de ativo
  • Atualizar as carteiras de acordo com mudanças de cenário ao longo dos dez anos
  • Se o investimento for via fundos, pesquisar o histórico de resultados e risco do fundo
  • Checar as taxas e corretagens de cada aplicação, pois, ao longo de dez anos, elas comprometem bastante os retornos
  • Considerar a incidência de tributos ao longo da acumulação de capital. Existem alternativas de investimento com isenção fiscal, como LCAs, LCIs, CRAs, CRIs e debêntures incentivadas na renda fixa