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Quanto aplicar para ter uma renda passiva de R$ 5.000 na aposentadoria?

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Imagem: Vergani_Fotografia/Getty Images/iStockphoto

Fernando Barbosa

Colaboração para o UOL, em São Paulo

08/09/2022 04h00Atualizada em 08/09/2022 10h49

Muitas pessoas resolvem entrar no mercado de investimentos em busca de maior conforto, estabilidade e renda extra na hora da aposentadoria. Com as constantes oscilações e mudanças na economia brasileira ao longo das últimas décadas, o planejamento é fundamental para evitar apuros financeiros.

Em meio a esse contexto, será que é viável investir em ativos que possam gerar uma renda passiva de R$ 5.000 por mês daqui a 10, 20 ou 30 anos?

Quais são os produtos mais indicados para compor uma carteira? A estratégia deve variar conforme o perfil?

Especialistas consultados pelo UOL afirmam que, antes de definir o valor, é preciso considerar fatores como o perfil do investidor (se é conservador, moderado ou mais arrojado), o prazo que consegue esperar antes de precisar usar os recursos, o patrimônio inicial, a capacidade para fazer aplicações mensais e a proteção do patrimônio perante a inflação.

A partir destes aspectos, será possível considerar a estratégia de investimento de cada pessoa — o que exige um olhar para além da rentabilidade.

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Imagem: Rmcarvalho/Getty Images/iStockphoto

Quanto aplicar para ter uma renda de R$ 5.000?

Há diferentes possibilidades para responder a esta questão. Em um cenário hipotético, o sócio-fundador da Nord Research, Renato Breia, diz que um investidor com 30 anos, de perfil moderado (portanto, que tem a maior parte dos ativos na renda fixa, mas aceita tomar algum risco), que vise uma rentabilidade média de 6,44% acima do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo, que mede a inflação no país) e tenha R$ 200 mil investidos, pode considerar duas opções:

  • Fazer aplicações de R$ 1.200 por mês durante 20 anos para ter os R$ 5.004 mensais
  • Fazer aplicações de R$ 2.500 por mês durante 15 anos para ter os R$ 5.004 mensais

Breia afirma que, caso o prazo para conquistar o objetivo seja mais longo, vale diversificar a carteira em diferentes classes — isso significa balancear a maior expectativa de retorno com um nível de risco controlado. Quem tem um prazo maior e certa tolerância ao risco, consegue ter uma exposição mais significativa na renda variável e, assim, buscar retornos mais atrativos.

Atualmente, o Tesouro Direto tem opções como o Tesouro Prefixado com taxa de 12,04% ao ano, juros semestrais e vencimento para janeiro de 2023, ou o Tesouro IPCA, que oferece o pagamento da inflação mais 5,80% ao ano com vencimento para agosto de 2032, por exemplo.

Em outro cenário, Mayra Lima, da Guide Investimentos, diz que ao levar em conta uma taxa de rentabilidade de 10% ao ano, o investidor precisaria poupar R$ 5.200,39 ao mês durante dez anos, R$ 2.587,71 ao mês durante 20 anos e R$ 1.716,85 ao mês ao longo de 30 anos. Assim, o valor líquido necessário (sem taxas, tributos além da inflação) para conseguir uma renda passiva é de R$ 627.026,86.

Mas é preciso estar atento: o Tesouro Direto tem tributação sobre os rendimentos que varia entre 22,5% a 15%, conforme o tempo de resgate.

Todo e qualquer investimento sustentável ao longo das décadas deve superar a inflação. Caso isso não ocorra, a renda passiva, que deveria fornecer conforto e segurança, estará fragilizada mesmo com rentabilidade positivas nos investimentos.
Nicollas Lorensetti, economista e especialista em Investimentos do Ailos

Dá para compor um portfólio eficiente com diversas classes de ativos. Hoje, a prioridade é a alocação de renda fixa, em títulos pós-fixados mais curtos e líquidos, aproveitando o cenário de incerteza. Mas é possível migrar para prazos maiores e ativos prefixados ou indexados à inflação quando as oportunidades forem mais atrativas.
Renato Breia, sócio-fundador da Nord Research

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Imagem: g-stockstudio/iStock

Como a renda variável deve compor a carteira?

Diogo Carneiro, professor e colaborador da Fipecafi Projetos, diz que não há uma única classe de investimentos para obter uma renda passiva. A diversificação é importante. Em momentos de turbulência, parte dos ativos pode ganhar valor, enquanto outros passam a ser depreciados.

Além de reduzir os riscos, as empresas listadas nas Bolsas de Valores geralmente têm projetos para avançar no mercado e conquistar mais clientes em um período maior. Diferente dos títulos do Tesouro Direto, que têm taxas elevadas em períodos curtos.

Pode ser mais difícil prever o retorno no mercado de ações, já que isso varia de acordo com a empresa e setor. Mas o analista da Rico Investimentos, Antonio Sanches, diz que pode ser interessante ter cerca de 75% do patrimônio aplicado na renda variável e os outros 25% em renda fixa — neste último caso, vale a preferência por títulos atrelados ao IPCA. "Como o pensamento é a longo prazo, é importante proteger o investimento da inflação", afirma.

Para quem cogita concentrar os esforços em ações, o analista da Rico menciona os setores de energia elétrica, telecomunicações e imobiliário como aqueles que oferecem alta rentabilidade, pagam maiores dividendos e são mais previsíveis. Saneamento básico é outro nicho que segue as mesmas características. Entretanto, é necessário entender quais os fundamentos dessas empresas, ou seja, a perspectiva para o futuro.

É sempre recomendável compor uma carteira com diversos tipos de investimentos para ajudaa a equilibrar retorno potencial e risco. No jargão do mercado costuma-se dizer para nunca colocar todos os ovos na mesma cesta. Se uma delas for ao chão, não se perdem todos os ovos.
Diogo Carneiro, professor e colaborador da Fipecafi Projetos

A grande diferença da renda fixa para a renda variável é que a segunda possui uma proposta de crescimento maior ao longo do tempo, enquanto a renda fixa se baseia na taxa do Copom.
Artur Losnak, Head FIIs do TC

A renda variável é o 'atacante' do portfólio. Embora possua uma volatilidade maior e momentos mais desafiadores, possui uma expectativa de retorno bastante superior à renda fixa.
Renato Breia, sócio-fundador da Nord Research

Fundos - TanyaJoy/iStock - TanyaJoy/iStock
Imagem: TanyaJoy/iStock

Fundos imobiliários

Se a palavra do dia é diversificação, nada melhor do que apostar em um fundo de investimentos. Os analistas consideram que a experiência dos gestores pode ser decisiva para conseguir bons retornos. Um outro fator que torna os fundos atrativos no mercado é que o dinheiro dos cotistas é utilizado em vários empreendimentos. Caso um deles fique sem renda, outro ativo pode reduzir as perdas.

Seja com os fundos de tijolos — que fazem aportes em imóveis, como prédios de shoppings, escolas, salas comerciais, prédios residenciais e fazendas — ou com fundos de papel — que aplicam os recursos em títulos de renda fixa, como certificados de recebíveis imobiliários (CRIs) e letras de crédito imobiliário (LCIs), para financiar o setor —, os fundos imobiliários costumam fazer a distribuição de dividendos de forma mensal. Por isso, é um dos setores do mercado financeiro que mais atrai investidores, já uqe as ações pagam lucros de maneira mensal, trimestral, semestral ou até anual.

Quando a escolha for pelos FIIs, o sócio e head de análise da Levante Investimentos, Enrico Cozzolino, afirma que, considerando Ifix (Índice de Fundos de Investimentos Imobiliários), em que a média de rendimento dos dividendos (dividend yield) é de 10,87% ao ano, será preciso cerca de R$ 551.943 em 110 meses para obter os R$ 5.000 por mês.

Para o analista da Ouro Preto Investimentos, Bruno Komura, a carteira deve ser diversificada entre os diferentes FIIs, mas com uma concentração um pouco maior em recebíveis (fundos de papel), em linha com o Ifix. Esses fundos costumam ter seus títulos ligados à inflação, trazendo mais proteção para o portfólio.

Outra vantagem dos FIIs é que os dividendos são isentos de tributação pela Receita Federal. Por outro lado, as cotas negociadas com lucro contam com 20% de impostos.

Os fundos de investimento imobiliário [FIIs] são capazes de gerar proventos com recorrência mensal e em forma de dividendos, ou seja, livre de tributação por parte do investidor. É um tipo de ativo de diversificação para os investidores que optam por recebimentos frequentes.
Enrico Cozzolino, sócio e head de análise da Levante Investimentos

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Errata: este conteúdo foi atualizado
A versão inicial deste texto informava que o investidor poderia ter cerca de 75% do patrimônio aplicado na renda variável e os outros 35% em renda fixa, quando na verdade a proporção é 25% em renda fixa. Os valores foram corrigidos e o texto, alterado.