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Quer sair da poupança em 2023? Descubra como dar o primeiro passo

Rmcarvalho/Getty Images/iStockphoto
Imagem: Rmcarvalho/Getty Images/iStockphoto

Colaboração para o UOL, em São Paulo

01/12/2022 04h00

Chegou aquele momento de fazer planos para o ano que vem. Voltar a malhar, adotar uma dieta saudável, aprender um novo idioma... Você tem alguma meta para 2023? Se deu preguiça só de pensar, que tal fazer uma promessa que não será difícil cumprir? Sair da poupança. Caso esse seja um plano que você vem adiando, chegou a hora de fazer o seu dinheiro render de verdade.

O primeiro passo é avaliar onde e quanto investir. As possibilidades estão divididas em dois grandes grupos. Na renda fixa, estão os investimentos em que os retornos são menores, porém mais previsíveis quando se pode esperar até o vencimento. Na renda variável, estão os investimentos que, como o nome indica, oscilam todos os dias, representando assim maior risco, contudo com potencial de fazer o seu dinheiro render muito mais.

O ideal, então, é juntar ativos diversos desses dois grandes universos para perseguir ganhos altos sem tanto sobe e desce. A primeira questão é quanto você quer tirar da segurança da poupança para assumir o risco da renda variável. A instabilidade da Bolsa pode assustar, mas, para não colocar o seu patrimônio em risco, você pode começar com uma parte pequena do dinheiro que está na poupança.

Uma dica de assessores financeiros é não colocar todo o dinheiro de uma única vez na Bolsa. Ou seja, você pode evoluir nos aportes à medida que for aprendendo sobre como o investimento funciona e descobrindo qual é a sua tolerância a risco. Fora isso, essa é uma estratégia válida por permitir que os investimentos sejam realizados em diferentes momentos, o que pode significar a oportunidade de pegar preços mais baixos dos ativos.

Então, em vez de colocar na Bolsa 30% do dinheiro que está na poupança, melhor começar com, digamos, 10% e avançar até os 30% conforme você se sentir mais seguro. Como é o primeiro passo, começar com uma alocação pequena trará mais conforto", diz Flávio de Lima, gestor da estratégia de FoF (Fundos de Fundos) na Somma Investimentos.

Comece pelos investimentos mais simples

ETFs - NicoElNino/Getty Images/iStockphoto - NicoElNino/Getty Images/iStockphoto
Imagem: NicoElNino/Getty Images/iStockphoto

Além de quanto, é preciso pensar em onde investir. Como explica Alexandre Brito, sócio e gestor da Finacap Investimentos, o mais importante, antes mesmo de realizar os primeiros investimentos, é definir o plano de alocação. "O investidor deve pensar em entrar na montanha-russa enquanto estiver com os pés no chão. Depois que entrar nela, é difícil sair",afirma o especialista.

Para quem não tem experiência fora da poupança, o ideal é começar com os investimentos mais simples. Comprar ações diretamente na Bolsa é uma operação fácil. Mas não será o melhor caminho se você estiver por fora de quais são as ações mais promissoras, não acompanhar o mercado para saber o melhor momento tanto de comprar quanto de vender e não tiver dinheiro suficiente para entrar em diversas empresas e setores, diminuindo assim o risco.

Caso seja o seu caso, a recomendação é dar o primeiro passo por meio de fundos, nos quais todo esse trabalho é transferido a profissionais de mercado, que cobram taxas pelo serviço.

Já ouviu falar de Exchange Traded Funds? Ou simplesmente ETFs, sigla em inglês dos fundos com cotas negociadas em Bolsa. Eles representam uma porta de entrada fácil ao mundo dos investimentos porque envolvem valores iniciais baixos e taxas de administração mais baratas.

Como as negociações acontecem em um ambiente onde há muitos investidores, não costuma haver dificuldade para comprar e vender as cotas desses fundos. Em outras palavras, assim como é fácil entrar, é fácil sair na hora de embolsar o lucro ou mesmo desistir do investimento.

Comprar uma única cota de ETF é o mesmo que entrar em dezenas de ativos de uma mesma classe de investimento, já que esses fundos replicam índices como o Ibovespa, onde estão as ações mais negociadas da Bolsa.

A diferença em relação a comprar cada ação individualmente é que entrar e gerenciar os ETFs é muito mais fácil e barato. E como os ETFs não estão posicionados em um, mas em muitos ativos, é um tipo de investimento que representa diversificação. Logo, é normalmente menos arriscado do que investir em poucas ações.

Por que os ETFs são indicados para quem está começando? Segundo o gestor Flávio de Lima, da Somma Investimentos, o investidor iniciante muitas vezes tem maior afinidade com os ETFs porque os índices replicados por eles, como o Ibovespa, são os que mais aparecem no noticiário. Assim, até mesmo o investidor mais leigo tem alguma ideia de onde vem o retorno.

"Após adquirir conhecimento e familiaridade com a classe, o acesso a outros tipos de fundos pode ser considerado em um segundo passo", afirma Lima.

Como ter ações, dólar e renda fixa em um único investimento

Dólar - Denis_Vermenko/iStock - Denis_Vermenko/iStock
Imagem: Denis_Vermenko/iStock

Entrar apenas em uma única categoria de ativos, mesmo com a diversificação dos ETFs, não vai assegurar equilíbrio a seus investimentos nos períodos de trovoadas no mercado financeiro. Para se proteger nos dias de nervosismo na Bolsa, é importante ter também ouro ou dólar, o que pode ser via ativos negociados em Nova York, além dos títulos de menor risco de renda fixa.

Nesse caso, os fundos multimercado resolvem o problema do investidor iniciante, que pode ter dificuldade em entrar em tantos ativos. Como os gestores dos multimercados têm liberdade para investir o dinheiro dos cotistas em vários ativos, esses fundos, não sempre, mas em muitos casos, representam um meio-termo entre a segurança da renda fixa e os perigos da renda variável.

Mesmo assim, é recomendável entrar em mais de um fundo para não ficar exposto a uma única estratégia. Alexandre Alvarenga, analista de investimentos da Empiricus, sugere começar em pelo menos três fundos. "Diversificar em fundos com estratégias diferentes entre si e pouco correlacionados —ou seja, se um está ganhando o outro pode estar perdendo, e vice-versa— é a melhor saída", declara.

Quais são os contras dos multimercados? As taxas são mais caras, existe investimento mínimo para participar e o investidor precisa dedicar algum tempo à leitura do regulamento do fundo para saber se as estratégias estão alinhadas a seus objetivos.

É preciso conferir, por exemplo, se o gestor está livre para realizar operações alavancadas, aquelas que, quando dão certo, impulsionam o patrimônio do fundo, mas que, quando dão errado, ocasionam grandes prejuízos. Apesar da necessidade de algum estudo, é mais fácil do que avaliar e administrar um monte de investimentos.

Entradas e saídas de fundos multimercado também podem não ser tão rápidas, já que nem sempre bons fundos estarão abertos a novos investimentos e, na hora de deixar o fundo, o resgate por levar dias, em alguns casos meses.

Então, por que os multimercados são indicados a iniciantes? Ao contrário de um ETF, que vai simplesmente espelhar as variações de um índice de referência (estando ele em alta ou em baixa), o gestor de um multimercado tem liberdade para fazer trocas de ativos da carteira, além de tomar outras decisões, para aproveitar melhor momentos positivos do mercado ou proteger o dinheiro dos investidores em períodos de estresse na Bolsa.

Assim, enquanto o investidor de ETF quer acompanhar o mercado, quem entra em um multimercado quer superar o retorno médio do mercado, contando com profissionais que têm expertise e tempo, requisitos que o iniciante normalmente não tem.

Segundo Alexandre Brito, sócio da Finacap Investimentos, os fundos multimercado são uma boa opção a quem quer diversificar investimentos entre várias classes de ativos com uma única aplicação. "No entanto, a categoria é bastante ampla, e o investidor pode se deparar com estratégias e alocações bastante diferentes. Assim como existem fundos de maior volatilidade e mudança brusca nas estratégias, há também os que seguem uma alocação definida e de menor volatilidade."

Se o investidor estiver em período de aprendizado, minha sugestão é escolher dois ou três fundos e ficar com eles até se sentir confortável para evoluir. É interessante observar também que fundos devem ser analisados em horizontes mais amplos, como um investimento de longo prazo.
Arthur Mesnik, sócio e diretor de operações da gestora Trígono Capital

Como fazer para sair da poupança sem perder segurança

Poupança - Getty Images/iStockphoto - Getty Images/iStockphoto
Imagem: Getty Images/iStockphoto

Você está pensando em sair da poupança, mas também não quer abrir mão da segurança, certo? Então, a maior parte do seu dinheiro terá que estar aplicada em renda fixa, mas não considere isso uma recomendação para seguir na poupança.

Conforme Marina Renosto, head de alocação na Blackbird Investimentos, o investidor que se posiciona tanto em fundos de renda variável, como os ETFs e multimercados, quanto em títulos de renda fixa, consegue perseguir ganhos em diferentes classes limitando riscos.

"O peso de alocação em cada um vai depender do perfil do investidor. Geralmente, investidores iniciantes começam com perfil um pouco mais conservador e vão inserindo posições de maior volatilidade na carteira ao longo do tempo", diz a especialista.

Na hora de planejar onde investir em renda fixa, o primeiro ponto é considerar quando você poderá precisar do dinheiro. Para as necessidades do dia a dia, ele deve estar aplicado nos investimentos que, embora possam render mais ou menos, permitem o resgate a qualquer momento sem risco de perda. Entram nessa lista os títulos do Tesouro Nacional que acompanham as variações dos juros de referência, o Tesouro Selic, além dos fundos DI, que investem nesses papéis de baixo risco, e dos CDBs com liquidez imediata de grandes bancos.

Assim como a poupança, essas aplicações permitem a você sacar o dinheiro quando quiser, com a vantagem de o retorno ser maior, mesmo considerando a cobrança de Imposto de Renda. Pode estar aplicado nesses títulos o caixa para futuros investimentos, ou seja, aquele dinheiro que estará ali disponível para você aproveitar oportunidades do mercado.

Já para aquele dinheiro que você não vai precisar usar tão cedo, avalie os títulos com vencimentos mais distantes. A dica é diversificar entre títulos do Tesouro, mais seguros, porém com menor remuneração, e os emitidos por grandes bancos ou empresas, neste caso subindo o grau de risco em busca de maiores retornos.

A diversificação deve ser também de indexadores, combinando títulos indexados à inflação, que preservam o poder de compra ao longo do tempo, com taxas pós-fixadas, que acompanham os movimentos dos juros, e prefixadas, nas quais o dinheiro não vai render menos se os juros voltarem a cair.

Só não deixe de prestar atenção se os prazos de vencimento estão dentro dos seus objetivos, porque há risco de perder dinheiro se for necessário tirar o dinheiro de aplicações prefixadas antes da hora. Por exemplo, se você sabe que tem um compromisso financeiro importante daqui um ano, o dinheiro não pode estar alocado em títulos que vão vencer daqui cinco anos, mesmo que o prazo maior represente remuneração mais alta.