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É arriscado investir na Bolsa antes e depois da eleição? Como se proteger?

Szucinski/Getty Images/iStockphoto
Imagem: Szucinski/Getty Images/iStockphoto

Colaboração para o UOL, em São Paulo

22/09/2022 04h00

A poucos dias do primeiro turno das eleições, o investidor precisa estar preparado para lidar com os altos e baixos do mercado financeiro durante a corrida ao Palácio do Planalto e após o resultado do pleito.

Períodos eleitorais são muitas vezes marcados pelo nervosismo na Bolsa, mas as ações já incorporaram grande parte das incertezas e estão sendo negociadas a preços considerados atraentes demais para serem ignorados.

Tendo como referência o Ibovespa, o índice que reúne as ações mais negociadas da Bolsa, elas custam hoje cerca de sete vezes o lucro gerado pelas empresas.

Essa relação preço/lucro é uma espécie de termômetro que mede se as ações estão caras ou baratas. Ela sugere um ponto de entrada interessante porque está abaixo da média dos últimos cinco anos, que é de 11 vezes.

O investidor só precisa avaliar se está disposto a encarar solavancos de curto prazo.

Os analistas apontam dois caminhos possíveis a partir do desfecho das eleições. Confira abaixo:

Cenários possíveis e impacto nas ações

Em um dos cenários, o vencedor é definido e há diminuição das incertezas após a eleição do próximo presidente. A tensão se alivia e a Bolsa entra em um período consistente de alta.

Esta aposta se sustenta, principalmente, na perspectiva de que, seja qual for o vencedor, não haverá descontrole das contas públicas — principal preocupação dos investidores em relação ao Brasil.

"Não acreditamos em um cenário de irresponsabilidade fiscal, principalmente nos primeiros anos", afirma Wilson Barcellos, CEO da Azimut Brasil Wealth Management, ao expressar uma visão comum no mercado.

Em outro cenário, pode haver questionamentos ao resultado da eleição, com manifestações de radicais nas ruas. Isso poderia provocar instabilidade ainda maior na Bolsa.

Essa possibilidade está no radar pelo fato de o presidente Jair Bolsonaro (PL), que tenta a reeleição, levantar suspeitas sobre a segurança das urnas eletrônicas.

De acordo com Gustavo Akamine, analista da Constância Investimentos, não é incomum a Bolsa variar para cima ou para baixo em cerca de 20% nas semanas seguintes às eleições. "O primeiro passo a ser dado pelo investidor é analisar se sua exposição em ações está de acordo com seu perfil de risco", diz.

Lula X Bolsonaro: investimento muda conforme o vencedor

Lula e Bolsonaro - Ricardo Stuckert Clauber e Cleber Caetano/PR - Ricardo Stuckert Clauber e Cleber Caetano/PR
Imagem: Ricardo Stuckert Clauber e Cleber Caetano/PR

Caso se mantenha a estabilidade política, o investidor poderá se dedicar a avaliar investimentos em setores possivelmente beneficiados no novo governo.

Caso a vitória seja do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), líder nas pesquisas de intenção de voto, analistas acreditam no crescimento das empresas voltadas ao consumo popular — como varejo, indústria de bens de consumo e construção de imóveis mais baratos, dada a prioridade a programas sociais e de habitação.

Já se o presidente Jair Bolsonaro conseguir a reeleição, as apostas apontam para as estatais e concessionárias de infraestrutura, na esteira da continuidade da agenda de privatizações e concessões do governo atual.

Ações de exportadores são indicadas nas eleições

Empresas exportadoras - Getty Images - Getty Images
Imagem: Getty Images

Antes do resultado do pleito, a dica ao investidor preocupado com a volatilidade é evitar ações mais sensíveis às eleições. Por sua vulnerabilidade a interesses políticos, é melhor ter cautela, principalmente, com as estatais.

Por outro lado, vale buscar oportunidades em empresas exportadoras, cujos negócios não estão concentrados apenas no Brasil. Além disso, elas lucram caso uma onda de aversão ao risco faça o dólar subir.

"As exportadoras já passaram por outras eleições mais traumáticas e têm um hedge [proteção] natural por possuírem receita em moeda estrangeira", afirma Rodrigo Natali, estrategista-chefe da Inversa.

O investidor só não pode se esquecer de que a situação nos mercados internacionais atendidos pelos exportadores tampouco está fácil, já que, com os países ricos subindo os juros, e a China em desaceleração, a tendência é de esfriamento da economia global.

Até o fim do ano, teremos um período muito volátil. A tendência é de alta de juros do Fed [o banco central dos EUA] e do Banco Central Europeu [BCE], além das eleições no Brasil. Portanto, não vai ser tão fácil navegar durante esses meses. Vemos setores onde as ações sobem 5% em um dia e caem 5% no outro, com volatilidade muito grande.
Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos

Ficou tarde para buscar proteção ao risco das eleições

Correr risco - Getty Images/iStockphoto/champja - Getty Images/iStockphoto/champja
Imagem: Getty Images/iStockphoto/champja

Segundo consultores e assessores financeiros, a esta altura do campeonato, ficou muito caro proteger os investimentos com a compra de opções de venda. Isso seria possível com as chamadas "puts", que asseguram ao investidor a venda de ações a um preço predeterminado. Ou seja, se as ações despencassem, o investidor conseguiria vendê-las pelo preço previsto na "put".

Mas, como resume Francisco Levy, estrategista-chefe da Empiricus Investimentos, buscar proteção pelos preços de agora é como fazer seguro de um carro muito visado por ladrões.

"É preciso também tomar cuidado com estratégias de hedge em um ambiente binário, pois os dois principais candidatos deverão ter decisões muito diferentes", declara o estrategista.

A recomendação, então, é dar passos de acordo com a tolerância ao risco projetado à frente, almejando retornos no longo prazo sem se esquecer, claro, da diversificação. Isto é, se o investidor entende que será difícil lidar com o sobe e desce do mercado, e não tem condição de esperar a turbulência passar até o investimento dar lucro, as movimentações em Bolsa devem ser feitas em doses homeopáticas, sem colocar em risco grande parte do patrimônio.

Em momentos de alta volatilidade, as opções podem ser bastante úteis, mas seu custo é elevado. Nossa preferência nesses casos, onde o risco se apresenta em condições superiores ao usual, é ter uma exposição adequada que permita a travessia com serenidade e sem a necessidade de liquidar posições que seriam vencedoras em médio e longo prazo.
Wilson Barcellos, CEO da Azimut Brasil Wealth Management

A alta dos juros também faz com que o momento seja interessante para o investidor desconfiado direcionar seu dinheiro aos títulos de menor risco da renda fixa.

"Caso o investidor esteja otimista, este momento é um ótimo ponto de entrada na Bolsa em termos históricos. Caso esteja pessimista, o patamar de juros atual é elevado, podendo ele migrar de ações para renda fixa na proporção que o deixe confortável", diz Gustavo Akamine, analista da Constância Investimentos.