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Dá para investir em ações e esquecer lá, sem mudar nada, por um tempo?

Olivier Le Moal/iStock
Imagem: Olivier Le Moal/iStock

Fernando Barbosa

Colaboração para o UOL, em São Paulo

11/08/2022 04h00

No universo dos investimentos, é comum que iniciantes foquem na rentabilidade quando estão dando os primeiros passos. Em geral, eles já sabem que precisam conhecer seus perfis de risco e que devem ser frios em relação às oscilações do mercado. Com o tempo, a tendência é focar na rentabilidade, conhecer o histórico de desempenho de cada ação ou papel, saber a solidez da empresa, e diversificar o portfólio.

Mas, com todos estes critérios à mesa, será que é possível montar uma carteira sem que seja necessário mexer de tempos em tempos para atravessar as oscilações no mercado? Confira abaixo.

Como montar a carteira?

Primeiro, é preciso entender seu próprio perfil de risco. Alguém que não tolera perdas não deve ter ações que variem muito de valor, por exemplo. Da mesma forma, uma pessoa mais experiente pode arriscar mais.

Também vale conhecer seu momento de vida, a quantidade de dinheiro em caixa e os objetivos. Neste sentido, um bom planejamento financeiro pode servir de bússola para quem ainda busca a melhor direção, diz o gestor e sócio da Finacap Investimentos, Alexandre Brito.

Além do mais, quem tem um horizonte para o longo prazo geralmente tem mais segurança sobre as decisões adotadas, evitando mudanças bruscas ao sabor do momento -- o que não quer dizer que mudanças não sejam bem-vindas.

Um cliente que se diz agressivo e não entende as implicações disso se desespera na primeira crise. A responsabilidade do banker começa em uma conversa sincera para elaborar a alocação de forma estrutural."
Mell Dilor, relationship & investment manager da Avenue

É importante conhecer as empresas onde se investe, acreditar que o preço de entrada está justo e evitar empresas muito endividadas, cíclicas ou que tenham posição competitiva fraca dentro do setor."
Fernando Siqueira, head de research da Guide Investimentos

Carteira de investimentos - Getty Images - Getty Images
Imagem: Getty Images

Dá para investir e não mudar nada por um período?

Essa é uma pergunta feita diariamente por milhões. Mas, assim como é fundamental ter disciplina para investir e acumular capital, é igualmente primordial olhar para os investimentos e fazer alterações, mesmo que pontuais. Para a maior parte dos especialistas, dificilmente o investidor poderá manter o mesmo patrimônio sem mudanças mínimas.

O sócio-fundador da casa de análises Nord Research, Renato Breia, indica que a cada seis meses seja feito um balanço da rentabilidade da carteira, de acordo com o perfil. Assim, um investidor que estabeleceu um teto de 30% para a renda variável terá que reduzir a posição quando chegar nos 35%, por exemplo.

Já o financial advisor da Renova Invest, Wallace Cavoli, sugere que a revisão dos ativos seja feita de forma anual, sempre com o objetivo de manter a estratégia de acordo com o cenário macroeconômico. Mas admite que carteiras com maior exposição à renda variável, como as ações, pedem um olhar mais minucioso.

Não existe esse negócio de comprar e deixar. O 'buy and hold' [comprar e segurar] não é 'buy and forget' [comprar e esquecer]."
Renato Breia, sócio-fundador da Nord Research

É muito difícil não mudar nunca. Algumas empresas podem deixar de existir, assim como títulos de renda fixa podem vencer. O ideal é o investidor reavaliar os investimentos uma vez por semestre. Na corretora, ajustamos mensalmente os portfólios."
Fernando Siqueira, head de research da Guide Investimentos

Investimentos - Getty Images/iStockphoto - Getty Images/iStockphoto
Imagem: Getty Images/iStockphoto

Renda fixa ou variável: qual a melhor estratégia?

Para os analistas, tanto a renda fixa quando a variável são importantes para compor a carteira e construir patrimônio. Assim, a melhor estratégia é apostar nas duas. O que muda é a proporção em cada ativo, seguindo o perfil de cada investidor.

Outra dica é levar em conta o planejamento tributário (quanto vai pagar de imposto sobre os investimentos) e sucessório (quando a pessoa pretende deixar o patrimônio para os herdeiros). Em títulos do Tesouro Direto, por exemplo, o pagamento do Imposto de Renda varia entre 22,5% a 15% ao ano. Já os dividendos e operações com ações até R$ 20 mil mensais são isentos de IR.

Para Alexandre Brito, da Finacap Investimentos, a renda variável oferece os melhores retornos. Neste sentido, ele diz que vale buscar ativos indexados a índices de referência, como fundos atrelados ao Ibovespa, o principal índice da Bolsa brasileira. No mercado internacional, a dica é verificar opções atreladas à Nasdaq ou ao S&P 500.

Já na renda fixa, a taxa básica de juros acima dos dois dígitos proporciona remuneração maior que 15% ao ano. Com a retirada de recursos da Bolsa reduzindo de forma acentuada o valor de mercado das empresas, é possível encontrar ativos de boa qualidade com preços mais atrativos.

Diversificação - Getty Images - Getty Images
Imagem: Getty Images

Dicas para perfis conservadores, moderados e arrojados

O gestor e sócio da Finacap Investimentos, Alexandre Brito, divide as opções de acordo com os perfis.

Para quem é mais conservador, pode ser mais adequado manter uma uma carteira com 70% na renda fixa pós-fixada, 15% em títulos atrelados à inflação e outros 15% na renda variável.

Visto como o meio-termo, o investidor moderado pode ter 45% na renda fixa pós-fixada, 15% na renda fixa que considera o IPCA (o índice da inflação), 30% na renda variável e outros 10% divididos entre investimentos internacionais e alternativos (como venture capital ou fundos de infraestrutura).

Por fim, quem tem um perfil mais arrojado pode ter 20% em títulos de renda fixa pós-fixados, 30% na renda fixa atrelada à inflação, 40% na renda variável e outros 10% entre ativos internacionais e alternativos.

Para a gerente de relacionamento e investimento da Avenue, Mell Dior, a atitude de investir vai além dos números. É preciso considerar o viés comportamental do investidor, o que faz o assessor de investimentos ter um papel importante na orientação dos clientes.

Diversificação é o último almoço grátis do mercado e fundamental na gestão de investimentos. Diluir o risco entre classes de ativos e estratégias distintas faz muito sentido."
Wallace Cavoli, financial advisor da Renova Invest

Risco - Getty Images/iStockphoto/champja - Getty Images/iStockphoto/champja
Imagem: Getty Images/iStockphoto/champja

Em tempos de crise, como investir?

Inflação persistente, juros em alta, guerra na Ucrânia, lockdowns na China... Sem contar as eleições à vista ou a possibilidade de recessão global em 2023. O investidor tem motivos de sobra para, em tese, se afastar do mercado de capitais. Entretanto, o planejamento — mais uma vez — pode fazer a diferença.

Renato Breia, da Nord Research, afirma que, para passar mais tranquilo por períodos de turbulência, uma gestão de caixa maior pode ajudar. E que a renda fixa é uma boa estratégia para reduzir a volatilidade ao longo do tempo.

Vale também pensar em ativos em dólar como uma possibilidade, já que o Fed (Federal Reserve, o Banco Central americano) adotou movimento semelhante de aumentar os juros, o que torna mais atrativo os títulos públicos do país. Não é possível controlar o sobe e desce nas diferentes economias, mas aportes em ações e investimentos alternativos em mercados estrangeiros podem ser uma alternativa viável durante períodos de crise.

A pior medida é resgatar o dinheiro por necessidade [porque] as coisas acontecem junto: as Bolsas despencam e a economia cai. O risco é a pessoa montar uma carteira de longo prazo, perder o emprego, e não ter caixa para passar pela dificuldade."
Renato Breia, sócio-fundador da Nord Research

O investidor mais experiente está preparado para lidar com flutuações de mercado e está ciente de que uma das prioridades do investimento internacional é preservação de capital."
Mell Dilor, relationship & investment manager da Avenue