Homem diarista viraliza com dicas de faxina e agora quer estudar na Irlanda
O brasiliense Tiago Haka, 35, trabalhava como recepcionista em um hotel de São Paulo quando a cidade adotou a quarentena para frear o avanço da covid-19, em março de 2020. Com as restrições à circulação de pessoas, o movimento de turistas caiu, e muitos funcionários foram demitidos, inclusive Haka. "Desesperado", resolveu começar a fazer faxinas para pagar as contas e os estudos, incentivado por um amigo. Agora, viralizou nas redes sociais, já fez até campanha publicitária e consegue juntar dinheiro para estudar inglês na Irlanda.
"Trabalhar como diarista foi um divisor de águas na minha vida", conta ao UOL. "Acabei gostando de fazer faxina e da aproximação com o cliente. Posso fazer meu horário, e trabalho apenas de segunda a sexta. Fora que comecei a ganhar bem mais do que quando trabalhava em empresa. Eu me aproximei das pessoas de uma forma que nunca aconteceu quando estava no hotel."
A ideia de começar a fazer faxinas, segundo Haka, surgiu durante uma conversa com um amigo, depois de "tomar umas cachaças". Como nunca havia limpado nada além da própria casa, ele precisou assistir a alguns vídeos de diaristas no YouTube para aprender truques de limpeza e, depois que se sentiu pronto, começou a divulgar seus serviços a amigos. Em poucos meses, com as indicações que ganhou, conquistou mais clientes.
"Num primeiro momento, tive receio por ser homem, porque não acreditava que alguém me contrataria. Não conhecia esse mercado ainda. Mas divulguei, aí meus amigos me chamaram para fazer faxina, depois vieram os amigos dos amigos... Acabou que firmei os clientes", acrescenta.
Estigmas da profissão
Haka diz não ter sofrido — ao menos diretamente — preconceito de raça ou de gênero, mas cita o caso de um cliente que lhe dispensou por WhatsApp alegando que ele tem "instrução e conhecimento demais". Essa "ousadia", como classificou, é o que Haka enxerga como pensamento colonial da sociedade em relação a quem trabalha com faxina, especialmente mulheres negras.
"Alguém por acaso entra em um hospital sujo? Um restaurante sujo? Não. Então por que os profissionais de limpeza são tão desvalorizados e estigmatizados?", questiona.
"As pessoas ainda enxergam quem limpa com uma visão muito de serviçal".
É importante afirmar que faxina não tem gênero, e que trabalhar como diarista, empregado doméstico, servente de obras ou qualquer outra profissão não é 'subemprego', 'classe baixa' etc. O que são 'sub' ou 'baixo' são o classismo e os preconceitos sociais e econômicos. Essas profissões são tão importantes quanto qualquer outra.
Post viral e milhares de seguidores
O que não esperava era que a profissão de diarista o levasse à de influenciador. A princípio, Haka compartilhava apenas pequenos relatos e percepções do dia a dia a seus amigos no Facebook. Em fevereiro deste ano, depois de assistir a um workshop sobre internet, passou a "se enxergar como empresa" e a criar conteúdo sobre faxina. Em junho, viralizou no Twitter ao dar dicas de produtos de limpeza e, desde então, saltou de 200 para quase 74 mil seguidores.
"Antes eu usava dois perfis falsos para me ajudar, porque eu não tinha muito quem curtisse meus conteúdos no Instagram e no Twitter", lembra Haka, rindo.
Quando comecei a criar meus conteúdos, busquei levar de forma simples. Quis ir direto ao ponto e mostrar logo o processo, sem enredo. Aí percebi que, no Twitter, tinha poucos criadores de conteúdo sobre faxina, e quis usar esse espaço para me expressar e dar dicas. Foi em 23 de junho que veio o viral [tuíte abaixo]. Só meu Instagram saiu de 189 para 14 mil seguidores. Foi uma mudança muito louca, até agora a ficha não caiu.
"Quero empregar pessoas"
O trabalho como diarista e criador de conteúdo permite a Haka pagar a faculdade de Marketing, que cursa há um ano e meio, e já lhe rendeu até uma campanha publicitária para o Nubank, em maio deste ano. Agora, ele tem CNPJ, é assessorado por uma agência de publicidade e, com o dinheiro que ganha, diz que consegue ajudar a mãe e os amigos que precisam, além de economizar para estudar inglês na Irlanda em 2024.
Até a data da viagem, Haka pretende continuar trabalhando como diarista e ainda ajudar pessoas com seu projeto "Faxina pela faxina", criado neste mês. A ideia é usar os produtos que tem ganhado de marcas para limpar a casa de clientes mais vulneráveis, como mães solteiras e pessoas com dificuldade de locomoção ou depressão, por exemplo.
"Quero um dia poder atender dez pessoas com esse projeto", afirma. "Quando viralizei e saí em alguns portais, continuei atendendo os meus clientes. Até mesmo fazendo 'publi'. A prioridade são os meus clientes. Agora acredito que vou conseguir melhorar muitas coisas. O propósito é transformar o 'Homem diarista' em pessoa jurídica, e quero usar essa influência para empregar pessoas. Não custa nada sonhar."
Agora tenho duas profissões: diarista e criador de conteúdo. A profissão de criador de conteúdo vem para somar na minha profissão de diarista. (...) O dinheiro que ganho é para meu fundo de emergência, minha viagem para a Irlanda e para oficializar a minha empresa. Quero capacitar e empregar pessoas.
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