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Coreia do Sul aciona Interpol contra CEO após rombo de US$ 40 bi com cripto

Do Kwon diz que não está fugindo e pretende colaborar com as autoridades, mas não faz questão de revelar paradeiro - Getty Images
Do Kwon diz que não está fugindo e pretende colaborar com as autoridades, mas não faz questão de revelar paradeiro Imagem: Getty Images

Do UOL, em São Paulo

21/09/2022 12h39Atualizada em 21/09/2022 12h42

Autoridades da Coreia do Sul solicitaram à Interpol, na última segunda-feira (19), a emissão de um alerta vermelho contra Do Kwon, 31, criador e CEO do sistema Terraform Labs, responsável pelas criptomoedas Luna e TerraUSD. O pedido ocorre em meio à investigações sobre o crash de US$ 40 bilhões (cerca de R$ 205 bi) envolvendo as moedas digitais, com prejuízos a investidores e ao mercado.

O Ministério Público sul-coreano alegou que Kwon se recusa a cooperar com a investigação e pediu o cancelamento do seu passaporte por considerá-lo foragido. "Iniciamos o procedimento para incluí-lo na lista de notificação da Interpol e para revogar seu passaporte", disse à AFP um funcionário da Promotoria do Distrito Sul de Seul.

Apesar de o alerta vermelho da Interpol ser alto, a medida serve mais como um "aviso" sobre pessoas procuradas no mundo, sem efeitos de mandado de prisão. Na Coreia do Sul, entretanto, um tribunal emitiu, na quinta-feira (15), um mandado de prisão contra ele e outras cinco pessoas por uma possível violação dos regulamentos de capital do país asiático.

O impacto do colapso da Luna, em maio, levou a União Europeia a concordar, em junho, com um marco regulatório para limitar as transferências anônimas, a fim de tentar estabelecer padrões globais para a supervisão das criptomoedas.

Nesse intervalo, duas queixas coletivas contra Kwon foram apresentadas ao Ministério Público da Coreia do Sul por dezenas de investidores. Eles alegam que foram enganados com "moedas algorítmicas defeituosas".

Nas redes sociais, Do Kwon diz que não está "fugindo" e quer colaborar com a Justiça, mas também não faz questão de revelar o seu paradeiro. Ele diz que está em processo de articulação de uma defesa "em múltiplas jurisdições": "Mantivemos um nível extremamente alto de integridade e esperamos esclarecer a verdade nos próximos meses".

Entenda o colapso

Do Kwon lançou a criptomoeda Luna no mercado em 2018. Dois anos depois, criou a Terra, uma moeda digital que pertence à categoria de "stablecoin", ou moedas estáveis. Ao contrário de outras criptomoedas, elas são vinculadas a um ativo menos volátil, como o dólar.

A dupla Luna-Terra foi baseada em uma fórmula matemática própria criada no Terra Labs, na qual o valor de uma depende da outra. Por isso, elas são conhecidas como "moedas gêmeas". A Terra é uma "stablecoin algorítmica" que, por meio de cálculos complexos, precisa sempre manter o valor de um dólar.

Considerada obra de gênio por alguns, a criação de Kwon começou, aos poucos, a se tornar alvo de críticas e dúvidas: o esquema poderia ser fraudulento e, portanto, desmoronar a qualquer momento. O mercado perdeu a confiança na fórmula em um cenário de queda nos preços das criptomoedas e más notícias na economia.

A Luna perdeu todo o seu valor (despencou de 118 para 0,09 dólar) e a Terra desabou junto, causando pânico entre investidores. A venda desmesurada de ambas levou ao declínio geral dessas criptos. Os grandes investidores perderam bilhões de dólares, embora soubessem do risco que corriam.

"Estou de coração partido com a dor que minha invenção causou a todos", escreveu Kwon, no Twitter, quando o escândalo estourou.