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Como minerar criptomoedas: Vale a pena? Quanto custa? Do que precisa?

Reginaldo Thomaz

Colaboração para UOL

28/10/2022 04h00

A mineração de criptomoedas virou uma febre em todo o mundo, gerando até problemas ambientais com o consumo de energia elétrica relacionada a isso. Vale a pena minerar? Como fazer e que equipamentos são necessários?

Nessa atividade, as pessoas entram na rede e "caçam" a partir de computadores. Quanto mais complexa a busca, mais potente precisa ser o computador. O UOL Economia separou dicas sobre mineração de criptomoedas. Veja como é.

O que são criptomoedas?

A criptomoeda é um dinheiro que não é físico, mais digital. Ela não é emitida, nem controlada por governos ou bancos, o que a torna atraente pela isenção de impostos e taxas.

Se você quiser, pode transferir criptomoedas para uma pessoa do Japão livre de taxas, por exemplo.

Existem vários tipos de criptomoedas e as transações com esse dinheiro são feitas entre as pessoas que as detém de forma totalmente online. A mais famosa delas é a bitcoin, criada por uma pessoa ou grupo, em 2009, sob o pseudônimo de Satoshi Nakamoto.

Como funciona a mineração de criptomoedas?

Antes de entender como funciona a mineração de criptomoedas é preciso compreender o conceito de blockchain. É como se fosse um registro, praticamente um banco de dados que comporta todas as operações realizadas com cada moeda digital.

"Se você transferir criptomoedas para alguém, essa transação ficará registrada na blockchain, dentro de um bloco semelhante a um cofre", exemplifica Orlando Telles, graduado em economia pela USP e sócio fundador da Mercurius Crypt.

Para iniciar, de fato, as atividades, a pessoa precisa acessar o sistema onde se hospeda a blockchain, escolher entre as criptomoedas existentes e começar a minerar.

Nessa atividade, o computador começa a solucionar problemas matemáticos criptografados. Isso significa que serão validadas as informações contidas nos códigos. Quando esse processo se conclui, obtém-se o número "hash", a informação é incluída na blockchain da moeda e o minerador que chegou primeiro ao resultado recebe um pagamento em criptomoedas como incentivo para continuar.

"Depois que o minerador finaliza o cálculo e encontra o hash, ele apresenta o resultado para toda a rede. Se todos aprovarem, o novo bloco é adicionado à cadeia. Após isso, a corrida pela verificação do bloco seguinte começa", explica Orlando.

O bitcoin costuma pagar até 6,25 BTC por bloco minerado. De acordo com cotação feita em julho de 2022 pela reportagem no Google Finanças, esse valor equivale a R$ 789.938,29 em moeda real.

Posso minerar criptomoedas do meu computador?

A mineração pode ser feita a partir de qualquer computador. Entretanto, de acordo com Felipe Veloso, mestre em economia pela Universidade da Carolina do Norte e fundador da Cripto Mestre, o "garimpo" pode não ser rentável.

Isso porque, em busca de encontrar o hash mais rápido, mineradores têm investido forte em softwares e hardwares potentes, com capacidade de realizar os cálculos matemáticos cada vez mais rapidamente.

"A competitividade ficou tão grande que tomou uma escala industrial, as pessoas foram criando máquinas especializadas nisso. Em países como China e Estados Unidos, existem 'ilhas de mineração', com estrutura de resfriamento para os computadores. Então, se você tentar competir usando um computador doméstico, pode não obter lucro", explica.

O sonho de ser um minerador de criptomoedas, entretanto, não é impossível. Segundo Veloso, para quem realmente deseja entrar neste ramo é necessário garantir um bom equipamento. Cabe a cada um decidir o quanto está disposto a investir.

Minerar criptomoedas influencia no consumo de energia elétrica?

É importante explicar que, quando a mineração de criptomoedas é baseada na solução de problemas matemáticos, a busca possui o nome de "Proof-of-Work". Em tradução livre, significa "Prova de Trabalho" e, segundo Telles, é o selo de legitimidade daquele blockchain minerado.

Entretanto, enquanto tentam solucionar problemas matemáticos, os supercomputadores esquentam muito, pois realizam uma série de contas por segundo, o que faz com que os equipamentos consumam mais energia.

O aumento na conta, claro, depende de quantas máquinas de mineração o usuário ou empresa mantém, a potência que cada máquina pode atingir e se ela utiliza sistema de resfriamento.

"Além de gasto de energia excessivo, existe a utilização e o descarte de placas de vídeo. São equipamentos que, querendo ou não, poluem o meio ambiente", aponta Telles.

Ao ter uma máquina de minerar criptomoedas em casa, é bom saber que a sua conta de luz tende a aumentar e ficar bem salgada. Vale fazer a conta a partir de testes para ver se a mineração da criptomoeda está "se pagando" -seja no curto prazo ou longo prazo.

A mineração de criptomoedas é segura? Quais os riscos?

Criadas em uma estrutura descentralizada e digital, as criptomoedas podem parecer vulneráveis, porém o fato de todos os usuários poderem validar as informações faz com que o sistema fique à prova de erros.

"Vamos supor que somos um time de cinco pessoas. A cada dia um de nós paga uma pizza ao grupo. Para ter o controle, todos nós anotamos o dia e quem pagou em um caderno, no caso, o blockchain. Se alguém tentar fraudar, disser que já pagou, temos outros quatro validadores com os mesmos dados para contestar, o que impede a fraude", exemplifica o executivo da Mercurius Crypto.

O que o especialista aconselha é que novos mineradores tenham atenção redobrada com criptomoedas que são muito novas no mercado ou pouco conhecidas. Segundo ele, existem moedas falsas, infladas de maneira antiética por aproveitadores. "Meu conselho a quem quer começar nesse ramo é sempre estudar bem antes de colocar o dinheiro nisso".

Qual a melhor criptomoeda para investir?

Como são considerados investimentos de alto risco, Felipe Veloso não aconselha que as pessoas coloquem todas as suas economias em moedas digitais. "Como não são reguladas por bancos, o risco é mais alto do que o tradicional, é algo volátil".

O fundador da Cripto Mestre ainda defende que os futuros mineradores façam suas próprias análises e fiquem atentos aos movimentos do mercado. "Geralmente, se há uma moeda que está todo mundo comprando, pode não ser uma boa, o ideal é encontrar o ativo certo e seguro antes de ele ganhar popularidade".

Para Orlando Telles, a bitcoin e a etherium são duas moedas digitais boas para quem está começando. "Claro que tudo depende de quanto vai investir e a motivação da pessoa no investimento. Mas, de modo raso, acredito que a BTC e ETH sejam boas, pois são duas que estão cada vez mais tendo mais funcionalidades no mundo hoje", diz, referindo-se à usabilidade dos ativos fora do mundo digital.

Queda no bitcoin: a moeda está acabando?

Em queda progressiva, o bitcoin levanta muitas dúvidas em quem quer investir. Para quem está minerando, é sabido que 90% -quase 19 milhões dos 21 milhões- de todas as disponíveis já foram mineradas. Entretanto, o ativo ainda tem valor e deve ter mais quando não for possível minerá-la, pois, segundo os especialistas, a "escassez provoca valorização".

Orlando Telles aconselha aos interessados em minerar bitcoin que acelerem o passo, pois além de haver poucas disponíveis, estamos nos aproximando do próximo halvin, nome dado ao "evento" de emissão de novos BTC. A chegada de mais moedas, no entanto, resulta no corte de 50% do valor do ativo digital.

O último halvin foi em 2020, quando o número máximo de criptomoedas mineradas por bloco caiu de 12,5 para 6,25 BTC. "O próximo está previsto para acontecer em 2024", diz Telles.